Pavimentação asfáltica dura, em média, dez anos

O pavimento no País é projetado para durar entre 8 e 12 anos, já nos EUA, é dimensionado para 25 anos, diz CNT

Escrito por Nícolas Paulino - Repórter ,
Legenda: Em alguns casos, os problemas estruturais começam a surgir em sete meses
Foto: Foto: Honório Barbosa

Trincas, corrugações, afundamentos, fissuras e buracos costumam dar muita dor de cabeça a motoristas brasileiros, seja por atrasos causados pelos congestionamentos ou pela necessidade de reparos mecânicos nos veículos. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o pavimento no País é projetado para durar entre 8 e 12 anos - já nos Estados Unidos, é dimensionado para 25 anos. A entidade explica que apenas 12,3% das rodovias brasileiras são pavimentadas e, em alguns casos, os problemas estruturais começam a surgir apenas sete meses depois da entrega das obras, gerados por falhas técnicas na execução e ausência de controle de qualidade de matérias-primas.

Outro motivo seria a defasagem do método de dimensionamento das rodovias, o mesmo utilizado desde a década de 1960, sem passar por atualizações. O método antigo previa apenas o uso do asfalto puro na pavimentação, bem como ignorava as diferentes condições climáticas do Brasil. A técnica também não previa o surgimento de possíveis rachaduras e trincas com o passar dos anos. Todas essas variáveis serão mensuradas a partir da implementação de uma nova metodologia, prevista para ser colocada em prática ainda neste ano, pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Para o professor Jorge Soares, especialista em Análise e Dimensionamento de Pavimentos, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza e o Ceará são "reféns da normatização antiquada" do Dnit - mas poderiam não ser. "Existem prefeituras, como as do Rio de Janeiro e de São Paulo, e o Governo do Paraná, onde há normativas diferentes. Nós ainda não avançamos neste sentido. Ficamos culpando o Governo Federal, quando nosso método poderia ser atualizado", avalia o pesquisador.

Soares lembra, ainda, que as estradas de melhor qualidade não são públicas, mas as operadas por empresas privadas. Com a mudança nas normativas nacionais, a expectativa é que tecnologias mais avançadas, como asfaltos de borracha e modificados por polímeros, passem a ser consideradas em novas obras. Para o CNT, a mudança poderá ter impacto direto na qualidade das estradas do País, com o consequente aumento da segurança e na possibilidade de menos mortes causadas por acidentes.

Tendências da área, como pavimentos inteligentes e o uso de materiais para dar mais eficiência e reduzir os custos na área, serão discutidos pela 13ª Conferência ISAP 2018, promovida pela Sociedade Internacional de Pavimentos Asfálticos, de hoje ao dia 21 de junho, no hotel Gran Marquise, em Fortaleza. Cerca de 300 pesquisadores e engenheiros, acadêmicos, oficiais de agências estatais, construtores, consultores e profissionais da indústria, oriundos de 25 países, participarão do encontro.

O evento é quadrienal e discutirá questões ligadas à proteção do meio ambiente, aos impactos socioeconômicos e políticos, à qualidade da infraestrutura viária e a aspectos da tecnologia. A utilização de resíduos diversos, como a borracha de pneu moído e as cinzas do carvão oriundas de termelétricas, também será assunto abordado em palestras e mesas redondas.

O professor Jorge Soares, coordenador da Conferência no Brasil, destaca também a discussão sobre pavimentos capazes de gerar energia. "Alguns exemplos fazem uso de placas solares, outros de sensores a partir da passagem de veículos. No Brasil, ainda não há essa aplicação, mas o Ceará se destaca pelo uso de energias alternativas. Por que não utilizar as estradas para captar energia?", sugere.

Alguns dos principais nomes do mundo em pavimentação asfáltica participarão da Conferência, como André Molenaar (Holanda), Richard Kim (Estados Unidos), Kim Jenkins (África do Sul), Jean-Pascal Planche (Estados Unidos), Hervé Di Benedetto (França) e Manfred N Partl (Suíça). A discussão do novo método de desenvolvimento de pavimentos no Brasil e sua implementação será comandada por Luís Alberto Nascimento, consultor técnico do Centro de Pesquisas da Petrobras.

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