Passageiros do VLT relatam sensação de insegurança

Operação assistida com horário ampliado teve início neste mês. A noite é apontada por usuários como turno perigoso

Escrito por Cadu Freitas - Repórter ,
Legenda: A Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), responsável pela gerência do transporte, disse estar adotando todas as medidas necessárias para promover a segurança dos passageiros
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

Ao entrar no Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) Ramal Parangaba-Mucuripe, os ouvidos menos atentos já escutam burburinhos. Uma conversa entre um passageiro e um segurança patrimonial denunciam a sensação de medo sentida por quem utiliza o meio de transporte. Em operação assistida e sem cobrança de bilhetagem, o veículo funciona, desde o início de setembro, das 6h às 13h e das 16h40 às 20h.

É justamente durante as últimas viagens noturnas que os usuários do transporte problematizam a insegurança sentida. Os universitários Saulo Smith, 19, e Mateus Gomes, 20, utilizam o VLT para se locomover de casa à faculdade. Eles garantem que o transporte é rápido, mas a segurança deixa a desejar. "De noite tem muito furto, eu já vi muito amigo meu ser furtado", externa Saulo. O amigo, por sua vez, já presenciou desrespeito de pessoas com os seguranças nos vagões, entre outras ações.

Roberta Carvalho, 31, nunca viu nada ilícito ocorrendo nos vagões ou nas plataformas do VLT, mas garante ficar com medo do que ouve. "Um segurança disse que eles já entram procurando se tem inimigo e que um dia um entrou armado e eles até tomaram a arma. Essas coisas fazem com que a gente fique amedrontada, né?", salienta.

A recepcionista Cleane Oliveira, de 33 anos, já viu o momento em que um policial retirou um jovem do VLT, após denúncia via telefone.

Passeio

O Diário do Nordeste embarcou durante duas noites em viagens de ida e volta que perpassam pelas oito estações liberadas do VLT. Com uma câmera na mão para investigar uma denúncia, a viagem foi da tranquilidade à tensão. Vindo da estação Parangaba até chegar à estação Borges de Melo, a orientação ouvida é: "quando chegar na Borges de Melo, entra logo no outro carro, não fica esperando, não", diz um segurança patrimonial.

A partir da estação São João do Tauape, então, um grupo de pessoas entra e passa a comandar o espaço, pelo menos no que se refere à tensão causada nos passageiros. Dalí em diante, as marcas da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE), antes transcritas nos muros das comunidades, são refratadas para os possíveis integrantes que ali passam a circular.

"Pega aquele alí de boné vermelho que ele é CV (Comando Vermelho)", brinca uma mulher, carregando duas crianças nos braços, enquanto pedras são arremessadas do lado de fora contra a condução.

Embora a reportagem não tenha observado nada ilícito, seguranças e passageiros relatam que já viram pessoas usando psicoativos nas plataformas e no próprio veículo em movimento. Um segurança patrimonial, que preferiu não se identificar, ressaltou que a situação era mais caótica antes de a Polícia Militar intervir. Além disso, já impediu que quatro rapazes fossem levados por um grupo para um matagal.

Na última viagem realizada, um adolescente menor de 18 anos fez a "sugesta" - sinal conhecido nas periferias como a simulação de uma arma abaixo da blusa - e continuou andando pelo equipamento, antes de mostrar que era um aparelho celular.

Vigilância

Em nota, a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), responsável pela gerência do transporte, disse estar adotando "todas as medidas necessárias para promover a segurança dos passageiros". Segundo o órgão, "nas 8 estações em funcionamento e dentro das composições, há vigilância, que teve o efetivo triplicado neste mês". Questionado sobre as medidas de segurança e os casos exemplificados nesta reportagem, o Metrofor não respondeu. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que "realiza policiamento no entorno das estações de metrô de Fortaleza com viaturas e motopatrulhas", além, de "blitzes em coletivos e estações metroviárias, objetivando inibir ações delituosas". A SSPDS disse não ter o número de boletins de ocorrência registrados nas estações do VLT.

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