Idoso de 80 anos completa viagem de 1200 km a pé

Seu Edilson Lima Azevedo, natural de Iguatu, viajou de Amarante do Maranhão (MA) até Fortaleza (CE) em 43 dias

Escrito por Redação ,

Quem pensa que a terceira idade é sinônimo de calmaria e aquietação, ainda não cruzou o longo caminho de Edilson Lima Azevedo, de 80 anos. Natural de Iguatu, no centro-sul do Ceará, o agropecuarista mora em Amarante do Maranhão (MA) desde 1939, quando foi com seus pais, com um ano de nascido, montado em um jumento do Ceará até o estado que mora hoje. Oito décadas depois, ele completa o mesmo feito, dessa vez no sentido contrário: o idoso caminhou a pé 1200 quilômetros da cidade em que mora até Fortaleza em impressionantes 43 dias.

Se ele está cansado? Rotina de passeios longos

"Tô não, tô preparado pra andar mais outros 2 mil quilômetros", disse animado. De chapéu, óculos de grau, bermuda, camisa de pano e um tênis bastante gasto, seu Edilson chegou ao quilômetro 0 da BR-222 muito bronzeado, mas com bom humor e disposição imaculados. Pai de onze filhos, foi recebido por netos que vivem em Fortaleza e que vieram também de longe – embora pelos métodos convencionais – para prestigiar a empreitada do avô.

"Para a gente que está de fora, analisando a situação, eu creio que tem a ver essa coisa de ele ter se sentido bem com a caminhada e também com esse retorno, né. Que foi um trajeto que ele fez de ida quando era criança junto aos pais em condições muito parecidas com as que ele foi", conta o neto mais velho, Eliomar Azevedo (36), dizendo que o avô costuma fazer passeios bem longos, o último com 200km de duração. 

Amigo o acompanhou de carro a pedido da família

Segundo o mecânico e amigo Rômulo Miranda (51), que o acompanhou de carro por todo o trajeto a pedido da família, Edilsão chegou a fazer até 36 quilômetros por dia no estado do Piauí, com média de 5 a 6 quilômetros por hora. O ritmo só diminuiu com a quentura do Ceará: "Quando chegou aqui no estado do Ceará a meta caiu um pouco, entre 25 e 28 quilômetros por dia, devido ao Sol, que aqui a temperatura é muito elevada, o Sol é muito cedo".

Seu Edilson, mesmo com o suporte do carro, fez questão de não andar um quilômetro sequer que não fosse a pé, como explica o amigo: "O transporte veio exatamente para água e alimentação. Quando ele chegava numa localidade que não tinha apoio, como um posto de gasolina ou um povoado, ele parava naquele horário, aí eu pegava um carro, marcava o lugar e íamos para um lugar de apoio. Aí ele descansava, almoçava, quando era quatro horas da tarde nós voltávamos pro mesmo local e ele voltava para a caminhada", conta Rômulo. 

"Foi um tipo de uma brincadeira, porque eu fiz uma caminhada em janeiro do ano passado, a primeira, de 120 km e me dei muito bem. Depois eu fiz outra com um amigo meu de 156km e renovei 10 anos. Aí eu fiz pra ele esse desafio, de vir pra Fortaleza do Maranhão, e no dia 1 de maio nós íamos sair. No decorrer do tempo apareceram outras pessoas querendo ir, mas foram caindo do cavalo, mas no dia 1 de maio eu saí sozinho de casa", disse seu Edilson. Segundo ele, de tantas histórias que tem para contar do caminho, ele passaria outros 40 dias conversando.

Apoio de estranhos: recusa de um copo de água a almoço garantido

"Tem várias histórias, tanto agradáveis quanto desagradáveis. Tiveram pessoas que não deixaram eu entrar dentro de casa, não me deram água, não queriam nem conversa comigo. Mas encontrei pessoas, como um rapaz que era de Teresina, e ele disse que quando eu passasse por lá ligasse para ele que ele queria me dar pelo menos um almoço. Cheguei lá, liguei pra ele, ele me levou pra casa e cuidou como quem cuida do 'vôzinho' dele, eles me chamavam até assim". 

Seu Edilson, recém-chegado aos 80 anos, descobriu que sempre é tempo para aprender algo da experiência: "Aprendi que esse mundo é um mundo de gente muito desigual. Tem gente ruim, tem gente boa, mas a coisa que eu mais me admirei foi da incredulidade das pessoas". Rijo e saudável, ele diz que só tem dois motivos que o fazem seguir com as decisões: "um, é as pessoas acreditarem que eu vou fazer, que aí eu vou fazer para honrar a confiança delas. E o outro motivo maior ainda é as pessoas não acreditarem que eu vou fazer. Aí eu vou fazer pra provar que é possível". Agora, ele vai aproveitar a companhia dos familiares antes de voltar pro Maranhão. E como será que ele volta? "Tô com vontade de voltar é de pé, vocês tão me inspirando (risos). Pra mim, esse foi o menor dos desafios que já enfrentei". 

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