Especialistas apontam possíveis causas para morte de jovem que sofreu descarga elétrica em Tianguá

Iago Aguiar Mendes morreu ao atender uma chamada no celular que estava carregando no computador

Escrito por Redação ,

A morte do jovem Iago Aguiar, de 16 anos, em Tianguá, na última quinta-feira (7), em decorrência de uma descarga elétrica, enquanto o celular estava carregando no computador, fez surgir questionamentos sobre o que poderia ter causado o choque elétrico. 

Apesar de o laudo da Coordenadoria de Medicina Legal (Comel), da Pefoce, sair apenas na próxima semana, alguns especialistas em segurança em instalações elétricas apontam a falta de aterramento nas instalações do Colégio Santa Maria, onde o caso aconteceu, como uma possibilidade para o acidente. Mas destacam que a situação exige uma investigação aprofundada. 

"Não posso afirmar com certeza, mas uma das principais razões seria a falta de aterramento na tomada do computador, porque normalmente ele tem uma carcaça metálica. Se algum equipamento, material ou uma pessoa encostar nessa carcaça que estará eletrificada, e não tenha aterramento ou o aterramento não esteja bom, ela vai receber uma descarga", comenta o professor e coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raphael de Amaral.

O professor da UFC, Carlos Gustavo Castelo Branco, destaca que o caso precisa ser investigado com bastante atenção, mas afirma que há possibilidade de ter sido falha no aterramento. "Se houver uma falha na fonte do computador, e perder a isolação, eventualmente a carcaça do computador pode ser energizada e isso pode ser repassada para o cabeamento que carrega o celular. Agora só se tem um problema na fonte do computador, uma falha de isolação e pode ser que vá nível de tensão alta até para a carcaça do computador. Às vezes é muito comum a pessoa levar choque na carcaça. Nesse caso, tem que avaliar estabilizador, módulo isolador, questão de aterramento e se tem DR", comenta Carlos Gustavo, ressaltando que apenas a investigação poderia averiguar com certeza o motivo da causa da morte de Iago. 

O DR é um dispositivo diferencial residual que detecta falha da isolação e protege contra choque elétrico. O coordenador concorda com Carlos Gustavo quanto à importância do dispositivo de segurança. "O DR poderia ter evitado essa tragédia com absoluta certeza. Um DR bem instalado, bem especificado, bem dimensionado teria evitado isso com 100% de certeza", comenta o coordenador. 

A falta de aterramento é um problema seríssimo e pode causar situações semelhantes a de Iago, mesmo que em outros equipamentos, segundo Raphael de Amaral. "As pessoas têm que ter cuidado com aterramento. Não é só em computador que tem esse problema. Têm fogão, geladeira, forno elétrico, micro-ondas, todos esses tipos de equipamentos que têm uma carcaça metálica estão sujeitos a ter uma carga em cima dessa carcaça e se o aterramento não estiver funcionando, pode ser que a pessoa sofra uma descarga. Então, as pessoas têm que olhar como está a instalação elétrica da sua casa, se ela é muito velha ou se tem está boa", ressalta o coordenador da UFC.

O engenheiro da área de Eficiência Energética da Enel, Marcony Melo, vê duas possibilidades para justificar uma possível descarga elétrica na utilização de telefones carregando: um defeito na própria bateria e algum problema no cabo. 

"Pode ser um defeito do próprio celular, a bateria com defeito e começa a aquecer, sofre um processo químico, começa a inchar e pode chegar ao momento de uma explosão. A segunda situação é o cabo de alimentação de carregamento do celular, que pode ocorrer um defeito tanto na fonte, que está conectada a rede de 220V, e essa fonte pode dar um defeito e pode alimentar uma tensão maior do que a normal que o celular tem", diz o engenheiro.  

USB não deve ter sido problema

De acordo com um familiar de Iago, o jovem teria retirado o celular da carga na tomada e colocado para carregar na USB do computador. Os dois especialistas, no entanto, afirmam que a conexão pela USB não teria causado essa descarga. "Tem que investigar com cuidado esse incidente porque teoricamente isso não era para acontecer, porque os níveis de tensão elétrica que estão disponíveis na saída USB do computador é 5V e 3,3V. Então, não é um patamar que pode causar uma fibrilação cardíaca e resultar numa parada cardiorrespiratória", afirma o professor Carlos Gustavo. 

O coordenador Raphael Amaral diz que a finalidade do USB é outra."A USB do computador não foi construída com essa finalidade [de carregar o celular], ela foi construída para transmitir dados. Por isso, inclusive, que demora muito carregar o celular pela USB do computador", revela o coordenador, comentando que a maior probabilidade tenha sido de Iago ter tocado na carcaça energizada do desktop.  

Cuidados com o uso de celular

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Independentemente do resultado da perícia, o uso de celulares exige cuidados, inclusive quando estão carregando. 

Quando questionado se é seguro utilizar o celular carregando, o coordenador Raphael de Amaral afirmou que não é 100% seguro. "Pode ter riscos de problemas como já vimos casos de carregadores que explodiram, que pegaram fogo de baixo do travesseiro carregando. Tem segurança utilizar carregando, mas não é certo. O ideal é as pessoas utilizarem equipamentos e carregadores originais, que vem com o celular, o que são vendidos nas autorizadas, porque os outros carregadores não têm como a gente garantir que foram construídos com a qualidades dos originais, que foram passados por testes e tem o selo de qualidade do Inmetro", revela, indicando que as pessoas evitem usar o celular no momento do carregamento. 

O professor Carlos Gustavo comenta que "teoricamente" as pessoas não devem temer o uso do celular carregando. "O carregador tem dois pinos de conexão com a tomada. Então, isso significa que ele é um equipamento de isolação reforçada. Teoricamente, os usuários não devem temer quanto ao uso do celular carregando. O único receio é quando existe uma deterioração do cabo ou da carcaça metálica do próprio carregador, decorrente do mau uso, de queda, de eventual contato com água ou o fio do carregador desencapado. Quando detectado essa situação, o recomendado é o usuário isolar o cabo ou então substituí-lo, fazer uma aquisição de um novo carregado e um novo cabo", ressalta. 

O aquecimento do celular também é algo que deve ser visto com cuidado, apesar de Carlos Gustavo dizer que é normal acontecer isso com qualquer bateria. "Agora, se ela aquece de maneira demasiada, ao ponto do contato do celular não ser suportável pela pele da pessoa, aí pode significar uma possível avaria da bateria e a recomendação é procurar uma assistência técnica, para avaliar melhor a condição da bateria, porque ela pode estar em curto circuito ou ter alguma avaria interna", explica. 

Além disso, Carlos Gustavo também destaca que a isolação de todo equipamento vai caindo ao longo do tempo. "Todo equipamento elétrico, ao logo da vida útil, a isolação vai diminuindo. Eles têm uma isolação elevada no início e vai caindo ao longo do tempo. Dependendo da forma de uso desses equipamentos, cabos e computadores, dependendo da forma dessa degradação, a isolação pode ser acelerada, principalmente por questões de falta de manutenção", revela. 

Desde a quinta-feira (7), a reportagem do Diário do Nordeste vem entrando em contato com o Colégio Santa Maria, mas as ligações não são atendidas.

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