Casal homoafetivo relata ter sido "convidado a se retirar" de restaurante em Fortaleza

Cliente diz que foi apenas um beijo, mas proprietária afirma que viu imagem de câmeras e teria a mesma atitude se fosse um casal hétero.

Escrito por Redação ,

O frequentador de um restaurante na Praia de Iracema registrou boletim de ocorrência no 2º Distrito Policial (2º DP) por ter sido obrigado a se retirar do estabelecimento após abraçar e beijar o namorado na madrugada do último sábado (16). O jornalista Renato Ferreira, 28 anos, disse que o casal sofreu homofobia, mas a proprietária do restaurante O Brazão alegou que o casal estava “se agarrando” e que foi abordado pelo garçom por uma questão de "organização da casa". 

“Eu nunca tinha passado por isso na vida e infelizmente passei. Passei algum tempo refletindo sobre isso, sobre expor ou não a vergonha que vivenciei e o constrangimento que fui obrigado a passar (...) Me senti totalmente impotente porque sabia que não tinha feito nada de errado", lamentou Ferreira. 

“Não foi um beijo. Eles levantaram da mesa, foram para um canto e estavam se agarrando. O garçom foi lá e pediu pra eles pararem com aquilo. Se fosse um casal hetero eles pediriam da mesma forma. É uma questão de organização da casa”, diz Vera Lúcia, dona do restaurante. 

Ferreira e o companheiro, de 34 anos, chegaram ao local por volta das 4h. “Nos sentamos mais afastados, involuntariamente. Tomamos duas cervejas, fui ao banheiro e quando voltei estava chovendo. Nos levantamos e ficamos mais a beira, ainda mais longe das pessoas. Nos abraçamos e nos beijamos. Tudo muito naturalmente, como qualquer casal faria”, detalha. 

Logo após o gesto de carinho, conforme o jornalista, o casal foi interrompido pelo garçom avisando que ali “não era permitido aquilo”.  “Assentimos, já naturalmente como dois homens adultos e cientes do preconceito e concordamos em pedir a terceira cerveja como nossa saideira, já que não éramos bem quistos ali. Foi só o tempo do garçom, novamente, nos abordar com a conta e pedir para que nos retirássemos do estabelecimento porque ali não era nosso lugar”, acrescenta. 

Segundo a versão de Vera Lúcia, que afirmou ter consultado imagens das câmeras de segurança do local, o casal estaria “se amassando” quando foi interrompido pelo garçom. Também segundo a proprietária, o próprio casal teria pedido a conta e se retirado do local logo após o episódio. 

“Tô há 21 anos aqui. É um local que recebe público de todos os níveis, da classe C a A. Aqui é perto da Praia dos Crush (trecho da Praia de Iracema), tenho funcionário homossexual, tenho muito cliente gay, lésbica, parente... não justifica o que eles tão falando. Mas aqui é um restaurante e não uma boate”, esclarece a empresária. 

Já Ferreira reforça que o gesto não passou de um abraço e um beijo. “Nem faço isso em público, tenho vergonha, e nem tava bêbado. Foi só um abraço. A gente encostou barriga com barriga e se abraçou. Não teve agarração.” 

Surpresa com a repercussão do caso, a empresária diz nunca ter lidado com situação semelhante no estabelecimento. 

Em nota, a Secretaria de Segurança do Ceará (SSPDS) informou que "a vítima registrou um Boletim de Ocorrência de natureza não delituosa, no 2º Distrito Policial (Aldeota), na última segunda-feira (18), relatando ter sido constrangida por clientes e funcionários de um restaurante na Praia de Iracema, na madrugada de sábado (16). Conforme informações da equipe policial que realizou o procedimento, a vítima preferiu não representar criminalmente contra o estabelecimento".

 

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