Campanha realiza atividades físicas pela doação de órgãos

Transplantados, familiares, profissionais de saúde e potenciais doadores estiveram no Parque do Cocó para discutir sobre a causa

Escrito por Redação ,

O verde, as sombras e o clima natural e acolhedor do Parque do Cocó foi cenário para a reflexão da doação de órgãos na manhã deste domingo (23). Cerca de 300 pessoas participaram do “Treinão pela Doação de Órgãos”, evento promovido pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) com apoio de sociedades médicas e da Universidade de Fortaleza (Unifor). A ação faz parte das atividades do mês da doação de órgãos, comemorado em setembro em alusão aos padroeiros dos transplantes, São Cosme e São Damião. 

No encontro, alongamento e caminhadas pelas trilhas do Parque incentivaram a promoção da saúde. O “Treinão” reuniu também associações de pacientes, professores e universitários, ligas acadêmicas, profissionais da área de saúde, familiares, amigos e pessoas da população em geral. 

Transplantados também aproveitaram a oportunidade para compartilhar depoimentos emocionados. Assim como as lágrimas que se fundiram às palavras de Rony César Bezerra de Figueiredo, de 52 anos, ao lembrar de tudo que conseguiu viver depois do seu transplante de rim. Há 27 anos, a hemodiálise não foi suficiente para tratar a gravidade do seu quadro, tornando necessário o procedimento.  

Hoje, o então agricultor de batata e milho participa efetivamente de ações para conscientizar e incentivar tanto doadores quanto pacientes “desesperançosos” à espera do transplante. “Depois do transplante casei com uma mulher espetacular, tive um filho espetacular que hoje tá fazendo (lágrimas) medicina e tenho certeza que é pra servir”, fala com dificuldade, demonstrando bastante orgulho e emoção. “A minha história está na alma, no coração, no sangue. Eu quero contribuir”, completa Rony César. 

Além dos rins, é possível doar fígado, pâncreas, intestino, pulmão, coração, pele, córnea e osso, beneficiando uma grande quantidade de pessoas. Entre elas o seu Zezim, como prefere ser chamado José Valdemar de Sousa, 62, transplantado a cinco meses no Hospital do Coração de Messejana, por conta de um infarto enquanto visitava a filha em Aracati. “O meu coração já não estava mais aguentando, eu estava respirando com ajuda de aparelhos”, relembra o aposentado que hoje desfila ao lado da família, a passos ainda lentos, o sorriso por estar vivo. 

Já Izabel Viana, de 32 anos e esposa de Zezim, não esconde a gratidão. “Doar órgãos salva vidas, quem puder doar... Eu fico até sem palavras e emocionada, em agradecimento pelo meu esposo que recebeu esse órgão, à família que doou”, conta. 

Doadores efetivos 

Espaços como este são importantes para a sensibilização e informação de parentes, contribuindo para o aumento do percentual de doadores efetivos. A vice-presidente da ABTO, Tainá de Sandes, relata que 40% das famílias brasileiras que são abordadas para doação negam o procedimento por desconhecer o processo, mesmo sendo “altamente regulamentado, fiscalizado e transparente”.  

Também membro do Departamento de Transplante da Sociedade Brasileira de Nefrologia e professora de Nefrologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Sandes explica que o único jeito de efetuar a doação é com a autorização dos familiares. "Não adianta você deixar escrito nenhum documento, nenhuma carta. A única forma que nós temos de intervir como pessoas é avisar a nossa família que somos doadores, para que eles saibam tomar essa decisão na hora que for necessária”, afirma. 

O Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) aponta que, de janeiro a julho deste ano, o Ceará alcançou 63,4 no número por milhão de população de potenciais doadores e destes apenas 25,9 se tornaram doadores efetivos. Analisando o total de todos os estados do Brasil, esse comparativo cai de 51,1 para 17.

Conscientização 

Principalmente no mês da doação de órgãos, a ABTO também organiza outras atividades pelo Brasil, como a iluminação verde em monumentos – a exemplo da estátua do Padre Cícero em Juazeiro do Norte –, atos ecumênicos, caminhadas, panfletagem e aulas formais em instituições.  

Pensar neste assunto é fundamental “porque ele existe, sua família pode precisar desse órgão, pode ser você ou, mesmo que não seja, a sociedade está precisando. Temos mais de 30 mil pacientes na fila de espera no Brasil”, destaca Tainá de Sandes.

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