Alunos criam bateria eletrônica com custo 90% inferior ao valor do artigo convencional

Vitória Suelly e Christian Eduardo, então estudantes do curso técnico de Eletroeletrônica do IFCE de Caucaia, foram movidos pela necessidade do instrumento musical para a banda do campus atrelada a falta de recursos disponíveis na instituição. Os estudantes uniram conhecimentos específicos, gosto pela música e criatividade

Escrito por Redação ,

A união do útil ao agradável. Foi assim que Vitória Suelly Pereira do Nascimento e Christian Eduardo Aragão dos Santos, ambos de 18 anos e concludentes do curso técnico de Eletroeletrônica do Instituto Federal do Ceará (IFCE) de Caucaia, definiram a experiência de desenvolver o projeto de uma bateria eletrônica com boa qualidade e baixo custo. A primeira versão do instrumento custou cerca de R$ 400, o que representa aproximadamente 8% do valor médio de mercado de um equipamento convencional. 

No início do segundo semestre de 2018, os então alunos e bolsistas da instituição aceitaram o desafio, provocado pelo professor Pedro Henrique Miranda, formado em Mecatrônica, de criar o próprio instrumento musical. A ideia surgiu da necessidade de uma bateria para a banda musical do campus, da qual Vitória Suelly e Christian Eduardo fazem parte, ela como cantora e ele como contrabaixista, atrelada a falta de recursos financeiros para tal no Instituto. No projeto, os adolescentes uniram os conhecimentos específicos do curso ao interesse pela música, além de bastante criatividade. 

Foto: Foto: Quezia Souto / Divulgação

Christian Eduardo relata que a pesquisa da estrutura foi baseada nos modelos existentes, observando as partes que compõem uma bateria eletrônica. "A gente começou a perceber que poderíamos fazer aquilo ali com EVA (etileno acetato de vinila), colocar uma base de madeira, fazer a estrutura que segura os pads (as partes do instrumento) de cano PVC (policloreto de polivinila). Conseguimos fazer nossos pratos moldados a partir de um cano PVC de 150 milímetros", explica. 

Os estudantes tiveram a orientação de Henrique Miranda e do professor de música Tadeu Carneiro. "Eles (alunos) pensaram: 'como vamos construir os pratos da bateria?'. Pensaram, abriram um cano de PVC, colocaram no forno e meio que derreteram para poder moldar como se fosse um prato de bateria", relembra o musicista. "Não foi só a questão técnica, mas houve muito de estimulá-los nesse quesito que muitas vezes o aluno só vai encontrar com a experiência de vida". 

Além das contribuições referentes as suas respectivas áreas de formação e ensino, os docentes precisaram auxiliar financeiramente, com recursos pessoais, o projeto. Segundo Tadeu Carneiro, houve um misto de materiais comprados por eles (cerca de 70% do necessário), cedidos e emprestados para a confecção da bateria. 

Projeto 

Ainda em fase de aprimoração, a estrutura da bateria atualmente é formada por uma base de sustentação de canos de PVC, pads de madeira e EVA, que são referentes à caixa, ao bumbo, surdo, chimbal e aos tons e pratos de uma bateria acústica, além de uma caixa onde fica um transmissor.  

Esse transmissor, chamado arduino, está ligado a parte eletroeletrônica do projeto que produz efetivamente o som do instrumento. Por meio de um captador instalado nos pads, chamado piezo, ligado ao transmissor por fios, são gerados pulsos eletrônicos a partir do toque. Ao chegar no arduino, esses comandos são enviados para um notebook, que simula os sons da bateria virtualmente através de um software.  

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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O processo acontece quase que instantaneamente, aparentando que o som sai da própria bateria. E esta é a intenção dos criadores, que pretendem levar a pesquisa para o curso superior. A intenção é melhorar a interface, tornando o instrumento independente do notebook, produzindo os próprios sons. Os jovens, que também são namorados, querem entrar na área das Ciências Exatas. Vitória Suelly deseja Engenharia Mecânica ou Elétrica enquanto Christian Eduardo sonha com Engenharia Civil ou Elétrica também.  

Apesar do valor de custo bem abaixo do mercado, Vitória Suelly afirma que ideia é tentar baratear ainda mais o equipamento. "Nosso objetivo é possibilitar que as pessoas consigam comprar uma bateria eletrônica boa, não uma acústica, por um baixo custo". 

Novas ideias 

Para Tadeu Carneiro, experiências como essa servem de estímulo para outros alunos. "A gente já está com um projeto para criar pedais de guitarra, aqueles que você aperta para distorcer o som da guitarra, com latinha de sardinha e materiais recicláveis. Paralelo a isso, já estou com outro projeto com alunos de Residência Pedagógica que é para construir, com materiais recicláveis, instrumentos de sopro com cano de PVC", relata. 

O professor de música, que acompanhou de perto cada passo da iniciativa, não consegue esconder o entusiasmo e o orgulho dos pupilos.

A gente fica empolgado, as coisas vão surgindo e novas ideias aparecendo

Formação Humana 

Quando perguntada sobre quais os benefícios de ter trabalhado no projeto, Vitória Suelly enfatiza os "mais humanísticos, de saber como lidar e trabalhar com o próximo", o que considera "necessário".  

Aspecto também destacado por Tadeu Carneiro. "Preparamos o aluno como profissional, mas antes a gente se preocupa com a formação humana dele", afirma. O professor lista alguns pontos que julga serem desenvolvidos a partir dessa premissa e cita como exemplo o projeto da bateria eletrônica. São eles: proatividade, maturidade de pesquisa, senso crítico em relação a contextualização global dos materiais recicláveis, percepção de responsabilidade e de enfrentamento dos problemas. 

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