Ocupação de imóveis vazios segue lenta na Praia de Iracema

O objetivo do Instituto Iracema e da Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) é ocupar e movimentar a região

Escrito por Theyse Viana - Repórter ,
Legenda: Moradores afirmaram à reportagem que falta valorização para a região da Praia de Iracema por parte do próprio fortalezense
Foto: FOTO: CID BARBOSA

Dos 43 imóveis catalogados pelo Instituto Cultural Iracema no entorno da Praia de Iracema, em agosto de 2017, como disponíveis para aluguel ou venda sob isenção de impostos, apenas dois já estão em uso e outros 15 despertaram interesse da iniciativa privada ou estão em obras, devendo ficar prontos até o primeiro semestre de 2019, segundo o presidente da entidade, Davi Gomes. A ideia, acompanhada pela Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor), é ocupar e movimentar a região com atividades econômicas e culturais.

De acordo com Davi Gomes, uma loja de produtos esportivos de surfe será inaugurada no fim deste mês, e outro empreendimento já está em funcionamento na tradicional Rua dos Tabajaras, ambos assumidos pelos empresários após a promessa de isenção de até 95% dos Impostos sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e Sobre Serviços (ISS). O texto do projeto de lei que autoriza a ação, porém, "voltou para ajustes e deve ser encaminhado à Câmara no dia 15 de agosto", como informou Gomes.

Além dessas duas, pelo menos outras 15 ocupações pela iniciativa privada "estão em boa negociação". Em outubro deste ano, segundo o presidente do Instituto Iracema, "será iniciada a construção de um open mall em frente ao Espigão da Rua João Cordeiro, com academia, lojas, supermercados e outros serviços". No mesmo mês, "um quarteirão inteiro vai receber um conjunto de quatro lojas, três escritórios, um espaço de coworking e um restaurante de médio porte", entre as ruas Tabajaras e Tremembés. As obras devem durar cerca de oito meses, e os equipamentos devem ser entregues, portanto, no final do primeiro semestre de 2019.

Estão em negociação ainda, conforme Gomes, a instalação de uma sede do Consulado Italiano, do Conselho de Arquitetos e Urbanistas de Fortaleza, de três hotéis e de um mix de lojas e lofts na Rua Pacajus e outras vias localizadas entre o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e a praia. "Tudo isso é para logo, para este semestre. Alguns imóveis ainda estão sendo ocupados, e outros certamente serão atraídos após a movimentação da região", avalia Davi Gomes.

O gestor garante que "os investimentos demoram a chegar" e, por isso, outras ações de ocupação dos espaços urbanos têm sido planejadas para a região. Em setembro, deve ser lançado o edital de um "concurso de mobiliário urbano", por meio do qual arquitetos e designers poderão propor "novas soluções de espaços públicos de convivência" em vias como Monsenhor Tabosa e João Cordeiro. "Os três premiados darão cursos para a comunidade do Poço da Draga aprender a fazer mesas, cadeiras e bancos para a rua, a partir de novembro deste ano".

Outro equipamento previsto no projeto e que deve favorecer principalmente os banhistas que frequentam as Praias e Iracema e dos Crush é uma estação de apoio com dois banheiros, chuveiros, armários e posto de fiscalização da Prefeitura, localizada no Aterrinho. Segundo Gomes, as obras já iniciam no próximo mês e devem ser entregues em fevereiro do ano que vem.

Intervenções

O presidente do Instituto Iracema garante que tem sido mantido, mensalmente, um "contato com a comunidade, moradores e empresários" para discutir e avaliar as ações executadas e planejadas. "O Conselho da Praia de Iracema opina, critica e sugere maneiras de requalificarmos esse lugar. Em todo o mundo, as requalificações nem são obras, são atividades".

Se a gestão municipal diagnosticou apenas no ano passado a necessidade de atenção que uma das mais importantes regiões histórico-culturais de Fortaleza possuía; quem habita a Praia de Iracema por quase três décadas já convivia com essa consciência há muito tempo. Para a estilista Silvania de Deus, que vive no bairro há 26 dos 47 anos de vida, falta valorização por parte do próprio fortalezense. "Eu sou resistência, porque todo mundo saiu daqui. A sociedade civil abandonou a Praia de Iracema, que é um bairro muito democrático, recebe tudo e todos. O comportamento geral quando algum lugar não está bom, fica velho, é abandonar e falar mal", desabafa Silvania, cujo ateliê é instalado na rua dos Tabajaras há 24 anos.

Presenciando, agora, uma mudança de hábitos, com mais gente ocupando o bairro, a estilista aponta que a principal demanda, sobretudo na parte mais próxima do Centro, não é só por segurança - mas por quebra de preconceitos. "Existem vários tabus, mitos sobre violência. Essa coisa da reprodução de um discurso, né? Sempre colocam o Poço da Draga como vilão, por exemplo. A gente precisa mesmo é de uma mudança geral de comportamento, e não só com relação a esse bairro. É urgente começar a olhar pra cidade, ruas e bairros como extensão da nossa casa, ocupar, usar. Rua vazia é que é perigosa. No momento que a gente ocupa e cuida, é nosso também", salienta a estilista Silvania de Deus.

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