Natal alimenta a esperança de conseguir emprego

Ser um entre os mais de 400 mil desempregados no Ceará não desanima Wellington Crispim. Sem ocupação desde maio deste ano, pai de três filhos tenta se reinventar para manter compromissos e sonhos da família em dia

Escrito por Lucas Ribeiro , lucas.ribeiro@diariodonordeste.com.br

Sonhos são ilimitados. Sem barreiras ou moldes que os definam, podem ganhar as formas clichês em prêmios de loteria, mansões, carros luxuosos e até mesmo o surrealismo de vontades que transcendem aos limites humanos. Mas, mesmo das pessoas mais simples, eles podem ser humildes, como o de Jesus Maciel, 69, que vive há 14 anos em situação de rua em Fortaleza.

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Personagem que abriu o projeto "Eu tenho um sonho", especial natalino do Sistema Verdes Mares, Jesus desejou um radinho de pilhas e um botijão de gás para cozinhar no barraco montado no cruzamento das ruas Waldemar de Alcântara e Luís Girão, na Cidade dos Funcionários. A vontade singela do cearense, que teve o sonho realizado pela solidariedade de conterrâneos, incentivou Wellington Crispim a nos escrever pelo Instagram e acreditar ainda mais na realização da própria meta: conseguir um emprego neste ano.

Aos 49 anos, Wellington faz parte dos cerca de 437 mil desempregados do Estado (Pnad Contínua) e passará, em 2018, o primeiro Natal sem trabalho. O sonho, que poderia ser individual, é pautado no altruísmo e no desejo de ver o bem-estar da família, composta pelos filhos Willam (13), Camila (19), Williane (22), a esposa Erineuda (44) e o gatinho Apolo, de dois meses. "Quero poder dar uma roupinha de Natal para meus filhos. Também um brinquedo para meu filho mais novo, assim posso manter a crença dele no Papai Noel", que este ano pode não agraciar o caçula da família.

A casa própria financiada em 25 anos no bairro Mondubim está ameaçada. "Estou em risco de perdê-la", revela Wellington, sem abrir mão da esperança. Conseguiu renegociar as últimas três parcelas não pagas, mas teme que, sem renda fixa, não consiga garantir o lar da família pelos próximos 19 anos que ainda restam de financiamento. "Só quero dar uma vida digna aos meus de forma honesta, trabalhando. Estou pedindo demais? Vou prestar meu serviço, minha dedicação. Tenho certeza de que vou dar meu máximo na empresa que eu entrar porque sei da minha necessidade. Quero ser útil", afirma o fortalezense, formado em Gestão de Recursos Humanos no ano de 2015.

Mesmo com interesse na área de formação e direito a vagas para pessoas com deficiência (PCD), por conta da acondroplasia (tipo de nanismo), Wellington não se prende a conformismos. "Está complicado. Busco todas as áreas, não só para PCD. Topo o que surgir". Polivalente, teve a primeira experiência profissional como frentista, há 25 anos. Foi operador de sistemas em um shopping por 14 natais. Foi desligado em junho de 2016 e achou fonte de renda nos "bicos" e empregos temporários. Foi cobrador de ônibus, recepcionista e estagiou em uma empresa de advocacia.

Legenda: Família Crispim
Foto: Foto: Saulo Roberto

"Não fico parado esperando as coisas caírem do céu", conta ele, que envia cerca de dez currículos por dia. Mas, apesar do esforço, não consegue algo desde maio. É ajudado pela mulher, com quem é casado há 25 anos. Erineuda vende produtos para poder manter a casa. As filhas, quando estagiavam e trabalhavam, também somavam. Um ajuda o outro. Com entrevistas marcadas e celular sempre próximo à espera do contato profissional, o gestor de recursos humanos lamenta a dificuldade de conseguir uma ocupação por conta da idade, considerada por muitos entrevistadores como avançada, e colocada à frente do critério experiência. "Chego a uma seleção e vejo garotos da idade dos meus filhos competindo comigo".

Durante a entrevista, a esperança foi inflada pelo toque do telefone. "Que seja um emprego!", torceu o sonhador. Após ouvir uma mensagem de telemarketing, não titubeou. Segue firme na caminhada para tornar real o sonho que busca de olhos abertos.

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