Mortes por influenza em 2018 superam os últimos nove anos

Nos últimos nove anos, o registro foi de 59 pacientes mortos. Em 2018, o número é de 73 óbitos até último dia 7

Escrito por João Lima Neto - Repórter ,

A situação da influenza (gripe H1N1) no Ceará chama atenção pelo número de óbitos em 2018. A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) contabilizou 73 mortes até o dia 7 de julho deste ano. Nos últimos nove anos, o registro foi de 59 pacientes mortos pelos sintomas da infecção. Em 2009, período mais forte da doença, a incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por influenza era de 0,81%. Atualmente, a marca é de 4,90%. De acordo com a Coordenação da Vigilância em Saúde da Pasta de Saúde, o Estado atingiu a cobertura vacinal dos grupos de riscos, mas ainda existem casos sendo investigados.

Na série histórica, o ano de 2018 apresentou o maior número de casos de SRAG notificados, com 28,8% (1.397/4.844), o maior número de casos confirmados por influenza, com 51,5% (439/851), e a maior incidência de SRAG por influenza, com 4,90 casos por 100 mil habitantes. A maior letalidade registrada entre os casos de SRAG por influenza foi no ano de 2011 com 50%, seguida pelo ano de 2010 com 43,8%.

Neste ano, observa-se um acréscimo nos casos notificados e confirmados para influenza a partir de março, sendo que o mês de abril concentrou 43,2% (603/1.397) e 74% (325/439) das notificações e casos de influenza, respectivamente. Os pacientes que evoluíram para óbito eram residentes dos municípios de Apuiarés (1), Aquiraz (1), Aracati (1), Baturité (1), Capistrano (1), Caucaia (2), Crateús (3), Eusébio (6), Fortaleza (32), Guaiuba (1), Horizonte (2), Ipu (1), Iracema (1), Itapipoca (1), Jaguaruana (1), Jijoca de Jericoacoara (1), Madalena (1), Maracanaú (2), Maranguape (1), Milhã (1), Morada Nova (1), Ocara (1), Pacatuba (1), Paraipaba (2), Pentecoste (1), Pereiro (1), Quixadá (1), Santa Quitéria (1), São Gonçalo do Amarante (1) e Solonópole (2). Apenas 4,1% (3/73) dos óbitos tinham histórico de vacina. Quanto ao tratamento com Tamiflu, 69,9% (51/73) iniciaram o tratamento, porém apenas 26% (19/73) foram iniciados em tempo oportuno. Dentre os óbitos, 80,8% (59/73) apresentavam um ou mais fatores de risco relacionados com SRAG.

Vacinação

De acordo com a distribuição das vacinas contra influenza pelo Ministério da Saúde, no dia "D" de Mobilização Nacional, realizado no dia 12 de maio deste ano, os 184 municípios receberam 84% (1.964.610 doses) da meta dos grupos prioritários. Segundo dados preliminares da Sesa, com o registro de 201.280 doses aplicadas neste dia, a campanha de vacinação do Ceará passou de 46,98% para 55,62%.

No último boletim epidemiológico emitido pela Pasta de Saúde sobre influenza, no dia 14 de maio, o Estado realizou a última distribuição de vacinas contra influenza, totalizando, assim, 2.332.440. "Ressaltamos que, mesmo com a prorrogação da Campanha até o dia 15 de junho 2018, não serão liberadas doses adicionais, visto que já foram distribuídas o quantitativo necessário para atender 100% da meta dos grupos prioritários", diz a Sesa.

Mudanças

A coordenadora da Vigilância em Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, explica que o aumento nos registros de óbito está muito ligado às mudanças implementadas no sistema de vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). "A influenza é um problema de saúde para o mundo inteiro. Para a nossa influenza sazonal, que acontece no nosso dia a dia, existe a vacinação. Ela acontece todos os anos, pois existem diferentes subtipos. De 2009 para cá, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenhou uma vigilância, a SRAG. Ela já vinha tentando, anteriormente, implementar e ganhou força com a pandemia em 2009. Depois dessa instalação, ela aumentou o número de casos devido ao diagnóstico. As mortes que eram previstas de 250 mil a 500 mil passaram a ser estimadas acima de 650 mil mortes por ano".

A coordenadora destaca que até o perfil do diagnóstico mudou. "Hoje, a gente escuta que uma pessoa morreu de gripe. Há 10 anos não. Esse ano, a gente passou por uma estação sazonal diferente. Tivemos um incremento no número de casos e óbitos. Em outros estados também. Quando uma doença está em evidência isso estimula a identificação. A gente encontrou mais pacientes com o problema. Antes, as pessoas entravam no Hospital com a pneumonia, o que mudou. A nossa campanha de vacinação não acontece num momento de vacinação tão ideal. A nossa sazonalidade acontece em novembro e termina justamente no período que cresce", explica.

Fatores

Sobre os óbitos de 2018, Daniele destaca que 80% das pessoas que morreram sofriam fatores de risco e foram se vacinar depois do recomendado. "É um calendário difícil de mudar. Pois precisa de recomendação da OMS que sai em meados de setembro, quando começa a produção da vacina. A logística é pesada. O que não permite a mudança de datas. Abril a setembro é o pico máximo de proteção".

Neste ano, a Campanha Nacional de Vacinação ocorreu no período de 23 de abril a 6 de junho, e foi prorrogada até 15 de junho. Em 6 de junho, o Ceará já tinha alcançado a meta de 90%.

Opinião do especialista

A tendência é de queda nos próximos meses

Robério Leite - Médico Infectologista

Atingimos o pico em abril e maio. A tendência é queda vertiginosa a partir deste segundo semestre. É uma doença sazonal. A expectativa é que volte aumentar no ano que vem. Esse aumento de óbitos tem que relativar em relação a quantos casos notificados houve. O aumento de óbitos esse ano está muito relacionado à atividade do vírus. Foi muito superior, como nunca tinha visto em anos anteriores. Existe uma certa imprevisibilidade nas regiões tropicais, no Ceará não podia ser diferente. Mesmo em Zonas temperadas, como nos Estados Unidos, observou o aumento dos casos.

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