Mananciais hídricos de Fortaleza estão poluídos

Relatório oficial revela que a contaminação das lagoas, lagos e açudes é oriunda principalmente de esgotos irregulares e do descarte inadequado de resíduos por parte da população

Escrito por Redação ,

A mulher de blusa vermelha e short jeans chama atenção em meio ao azul prateado da Lagoa da Maraponga. Daniele do Espírito Santos, 40 anos, costuma usar as águas do lugar para lavar roupa. A lagoa é um dos espaços hídricos monitorados pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma). O último monitoramento do órgão, feito em parceria com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), aconteceu em janeiro deste ano. A lagoa que Daniele costuma frequentar é uma das 26 impróprias para uso.

De todas, apenas a Lagoa da Viúva, também chamada de Açude da Viúva, espaço de sociabilidade do bairro Bom Jardim, apresenta-se com níveis de escherichia coli, bactéria causadora de infecção intestinal em animais e humanos, apropriados. Para que um reservatório seja considerado impróprio, deve apresentar resultados superiores a 1000 coliformes termotolerantes (fecais) ou 800 E. Coli por 100 mililitros.

Seu Edimilson Pires dos Santos, 64 anos, é da Maraponga, mas vai todos os dias para a Lagoa da Parangaba pescar. A pesca escolhida é o camarão. "Aqui é melhor, tem mais produtos, têm mais peixes, mais camarão", explica ele, que usa a pescaria para ajudar nas finanças da casa, já que não conseguiu se aposentar.

Sobre o perigo da água poluída, Edimilson diz não ter medo: "Há muito tempo que eu pesco aqui e graças a Deus nunca aconteceu nada. Até comida eu já fiz com a água daqui. Eu e muita gente. Então acho que não é tão imprópria não", diz o homem que acredita mais no saber popular que nas provas da ciência.

O relatório do Sistema de Informações Ambientais (Siafor), monitoramento da gestão municipal, revela que a contaminação das lagoas, lagos e açudes é oriunda principalmente de esgotos irregulares e do descarte inadequado de resíduos.

"Há uma boa disposição do poder público em acompanhar o sistema urbano que comporta as lagoas. São espaços especiais, que ajudam no clima, servem de área de lazer, de contemplação, de diversidade ambiental e onde as populações mais carentes pescam", ressalta Jeovah Meireles, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Na última quinta-feira, a Prefeitura de Fortaleza abriu um processo licitatório, cujo objeto de contratação é o monitoramento dos Recursos Hídricos e das Estações de Tratamento de Efluentes - ETEs (coletas e análises realizadas por empresa contratada) para a secretaria retornar as atividades de monitoramento das lagoas.

"É muito importante monitorar esses recursos hídricos, mas é também necessário e fundamental implementar pontos específicos na preservação deles, como: cuidar do saneamento básico, olhar para o sistema lacustre - cuidar do que está em volta da lagoa, da mata ciliar, fazer um trabalho de desobstrução do lixo, de canais", finaliza o professor Jeovah Meireles.

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