Linhas de ônibus sem cobrador devem ser ampliadas na Capital

Tendo como referência exemplos de cidades como Campo Grande e Goiânia, o sistema exclusivo de cobrança via bilhete eletrônico ganha espaço em Fortaleza. O Sindiônibus prevê a ampliação do número de itinerários

Escrito por Redação , Nícolas Paulino nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br

Continua a saga de usuários que ainda são pegos de surpresa pelo sistema de cobrança exclusiva por crédito eletrônico em 14 das 280 linhas urbanas de ônibus de Fortaleza. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) defende a medida e afirma que manterá os estudos de implantação do modelo em outros itinerários. Hoje, somando Bilhete Único, Carteira de Estudante e Vale-Transporte Eletrônico, há 1.012.041 usuários ativos na Capital, segundo a entidade.

Na manhã de ontem, a reportagem foi à rua para verificar como vem funcionando o serviço. A linha escolhida foi a Parangaba/Náutico. No site da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), consta que a linha 129 - Parangaba/Náutico II - que só aceita crédito eletrônico - tem 29 horários disponíveis. Já a linha similar, a 029 - Parangaba/Náutico, convencional, tem 64.

O veículo da linha 129 veio cheio no sentido Náutico. A maioria dos usuários que embarcaram no trajeto já tinha os cartões em mãos; quando não, o motorista fazia questão de alertar sobre o modelo de cobrança. No entanto, em três ocasiões da viagem, usuários precisaram desembarcar. Numa delas, na Avenida Antônio Justa, uma mulher acompanhada de três crianças desceu porque os pequenos só possuíam carteira estudantil.

Após o desembarque, a equipe permaneceu na parada de ônibus para verificar em quanto tempo outro carro, que aceitasse pagamento em dinheiro, chegaria. O intervalo entre os dois veículos foi de 12 minutos, tempo precioso para gente como a doméstica Antonieta Silva. Enquanto girava moedinhas nos dedos, ela relatou que já passou por perrengues por não possuir o Bilhete Único.

"O motorista disse: 'espere o próximo que não precisa de cartão'. Não demorou muito, mas eu fiquei sem graça porque estava meio aperreada", diz. Apesar da novidade, ela não vê sentido em adquirir um bilhete eletrônico porque nem sempre precisa pegar ônibus. "São umas cinco vezes por mês", contabiliza. "Pra isso aí, tem que pensar no dia a dia de uma cidade grande, de todos os bairros, e de quem vem do Interior. Se quiserem pegar um transporte, como é que vão fazer?", questiona.

Há quem prefira mirar nos benefícios. Ana Cláudia Azevedo, que trabalha num restaurante, está tranquila porque possui tanto o Bilhete Único como um passe card.

Falta atenção

"Já entro, não pego fila", destaca. Perguntada sobre a facilidade de acesso, ela responde: "A informação está bem sinalizada. É só falta de atenção de algumas pessoas. Tem gente que não sabe ler, ou entra muito apressada e não vê. Acho que é só falta de costume", opina. O estatístico Alisson Fernandes prefere ponderar os dois lados da catraca.

"Realmente, facilita a passagem porque quando uma pessoa usa dinheiro e dá R$ 20, por exemplo, fica mais complicado dar troco, ou falta mesmo; com o cartão facilita. Logicamente, tem outras questões envolvidas, como os trocadores que vão ficar sem emprego. Tem que dosar as duas coisas", sugere ele, que só usa o Bilhete Único.

Uma dúvida de Alisson é se a carteira de estudante pode ser usada nesse tipo de ônibus. Segundo o Sindiônibus, sim, desde que ela esteja carregada com créditos. O gerente de Operações do Sindicato, João Luís Maciel, afirma que, atualmente, o sistema de bilhetagem eletrônica já é utilizado por mais de 70% dos usuários da Capital, o que justifica o processo de adaptação.

Segurança

Além da rapidez no embarque, outro fator levado em consideração é a segurança. "O fato de ter dinheiro circulando atrai a criminalidade e assaltos. Visitamos Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde não se paga a dinheiro, e lá não tem eventos de assalto. Até agora, aqui em Fortaleza, não tivemos casos de assaltos nessas linhas; então, essa hipótese está se mostrando real", explica Maciel.

No ano passado, a Prefeitura de São Paulo afirmou que, em até quatro anos, os ônibus poderão circular sem a presença de cobrador, num processo gradual. Por isso, as empresas devem treinar os atuais trocadores para funções administrativas ou de motorista. Por lá, apenas 6% dos usuários pagam as passagens em dinheiro, contra 94% que utilizam o Bilhete Único.

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