HIV/AIDS cresce entre homens que fazem sexo com homens

O estudo envolve não apenas indivíduos homossexuais, mas também bissexuais, heterossexuais e outros

Escrito por Redação ,
Legenda: A diminuição do uso de preservativos, o aumento do número de parceiros sexuais e a ideia que o tratamento da AIDS é "fácil" são alguns dos fatores apontados pela professora Lígia Kerr como ampliadores da taxa de infecção
Foto: FOTO: REINALDO JORGE

Fortaleza apresenta um a cada 10 "Homens que fazem Sexo com Homens" (HSH) infectados com o vírus HIV, em 2018. Os números foram divulgados em uma pesquisa publicada pela revista internacional "Medicine", a qual analisou o público, que inclui não apenas homossexuais, mas também bissexuais, heterossexuais e outros.

Lígia Kerr, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenou a pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde (MS) e realizada em 11 capitais e Brasília. O método utilizado é americano e reúne entrevistados (denominados "sementes") para ser estudados e testados duas vezes. As pessoas entrevistadas também têm o dever de indicar outros indivíduos que se encaixam no mesmo perfil e assim por diante.

A pesquisadora publicou um artigo acadêmico em 2010, ano no qual analisou pessoas de Fortaleza através da mesma metodologia do atual estudo; ele demonstrou uma taxa de infecção dos entrevistados de 4%.

Em comparação aos resultados apresentados na pesquisa da Medicine, houve um aumento de 138%, quando o número pulou de 4% (com 320 homens testados) para 10% (com 4.176 homens entrevistados, sendo 350 apenas de Fortaleza).

A professora Lígia Kerr atribui o aumento desse número a um processo histórico. "Houve uma falta de financiamento às ONGs, logo elas perderam o papel de vanguarda ajudando o governo na prevenção. Então, durante anos, essa população achou que, se fossem estudadas, o preconceito contra elas poderia aumentar. Até que em 2008, eles aceitaram ser estudados, e foi constatado que realmente há uma maior prevalência entre eles", revelou Kerr sobre os "HSH".

A pesquisadora também aponta o conservadorismo como outro fator decisivo para a ampliação dos índices. "Um movimento muito conservador no Congresso Nacional, chamado de 'bancada do boi, bala e Bíblia', se uniu e proibiu qualquer propaganda voltada a esse público", criticou Lígia Kerr.

A professora também alerta para outros comportamentos modernos que contribuem para a dilatação dos casos de infecção, como a diminuição do uso de preservativos, o aumento do número de parceiros sexuais, a ideia que o tratamento da AIDS é "fácil" e a utilização de aplicativos para relacionamentos afetivos, como 'Tinder' e 'Grindr'.

Experiência

"A minha reação foi normal. Eu não entrei em desespero porque eu sei que matava no passado, mas agora, se você tomar os remédios, dá para viver como uma pessoa comum. Porém, a reação da minha mãe foi bem frustrante porque ela não esperava, com o decorrer do tempo está tudo normal. A gente já sabe lidar melhor com a situação", conta Leonardo Almeida, de 23 anos, nascido em Fortaleza, e que convive com o HIV há cerca de três anos.

De acordo com o jovem, as atitudes escolhidas o fizeram ser infectado pelo HIV. "Tenho certeza de que adquiri através do sexo desprotegido. Porque eu não tive contato com sangue de pessoas infectadas", revela Leonardo ao lembrar da situação na qual contraiu o vírus, ainda que não saiba precisar o parceiro sexual que transmitiu.

Prevenção

Atualmente, duas campanhas por ano tratam especificamente da prevenção ao HIV/AIDS:a Campanha de Prevenção do Carnaval, nos primeiros meses, e o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, comemorado no dia 1° de Dezembro. Contudo, para Vando Oliveira, coordenador da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (RNP), "os nossos governantes não estão disponibilizando ações concretas de prevenção, especialmente com campanhas de informação".

De acordo com ele, uma parceria mais concreta com a gestão pública tornaria o combate ao HIV/AIDS mais efetivo. "Se as secretarias de Saúde e Educação se juntassem e convidassem a gente (ONGs) para trabalhar ações conjuntas, poderíamos colaborar melhor na prevenção, a partir desses novos tantos diagnósticos", avalia o coordenador sobre a necessidade das ONGs voltarem a ser vanguarda nessa luta pela prevenção.

(Colaborou Samuel Pinusa)

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