Grupo pinta ciclofaixa na Ana Bilhar

Escrito por Redação ,

Autarquia Municipal de Trânsito informou que a pintura seria apagada, pois representa dano ao bem público da Capital

Giz, barbante e cal foram os instrumentos utilizados por 12 pessoas para pintarem uma ciclofaixa com largura de aproximadamente um metro na Rua Ana Bilhar, na manhã de ontem. O objetivo é promover uma circulação com mais segurança para os ciclistas na via.

Objetivo do ato foi promover uma maior segurança no trajeto dos ciclistas. A escolha da rua ocorreu pelo fato de a via ter sido recapeada há pouco tempo e possuir espaço para ciclofaixa sem atrapalhar o fluxo de veículos FOTO: BRUNO GOMES

A intervenção foi organizada por meio de um evento no Facebook, de autoria do grupo Massa Crítica, que promove, entre outras ações, alternativas para chamar a atenção do poder público sobre melhorias na mobilidade urbana da capital cearense. Segundo intervencionistas, a escolha da rua Ana Bilhar se deve ao fato de que a via foi recapeada há pouco tempo e possui espaço suficiente para que a ciclofaixa não atrapalhe o fluxo de veículos.

Além disso, uma loja especializada em bicicletas localizada na rua promove passeios que intensificam a passagem de ciclistas pela região frequentemente. O engenheiro civil Felipe Alves é um dos participantes do movimento. Para ele, a Prefeitura deve atentar para a necessidade de uma ciclofaixa no local. "Nossa intenção é criar um espaço para o ciclista. Se, fazendo isso, que é uma pintura temporária, percebermos que tem muito ciclista utilizando e que não está atrapalhando o fluxo de carros, a gente pode sugerir para a prefeitura que seja feita de forma definitiva", revela.

Permissão

Há cinco anos, em Curitiba, um grupo de ciclo-ativistas promoveu a mesma ação, porém, a pintura foi considerada pichação e os participantes multados. Segundo o participante Felipe Alves, a intervenção deveria ser considerada uma ação de natureza cívica, visando a conscientização em relação à segurança dos ciclistas, portanto, não devendo haver punições.

Segundo a assessoria de imprensa da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), ontem mesmo, agentes do órgão estiveram no local. "Lamento a violação de um bem público sem prévia tentativa de diálogo com a AMC. Entretanto, diante da situação, a AMC irá apagar a pintura feita em toda a extensão da Rua Ana Bilhar, principalmente, por não estar dentro dos padrões estabelecidos no Manual de Sinalização do Código de Trânsito Brasileiro", explica o vice-presidente da Autarquia, Arcelino Lima.

Segundo ele, a implantação de qualquer ciclofaixa depende de análise que comprove a necessidade de deslocamento dos ciclistas e preserve a segurança dos envolvidos. Em julho passado foi emitida pela Prefeitura a ordem de serviço para o desenvolvimento do Plano Diretor Cicloviário de Fortaleza.

A Capital cearense conta com uma ciclofaixa regulamenta, localizada na Avenida Benjamim Brasil, no bairro Maraponga. A faixa, no meio da via, foi inaugurada no ano de 2012 e, apesar de bastante utilizada, há pontos em que o ciclista precisa parar para que os veículos façam o retorno na avenida.

Bicicleta fantasma lembra vítimas

Quem passa pela Avenida da Universidade, perto do cruzamento com a Domingos Olímpio, surpreende-se com uma bicicleta completamente branca pendurada no poste. É a "bicicleta fantasma", instalada na quinta-feira passada (1) para lembrar um ciclista morto no local em julho.

Ação semelhante é feita em vários países. No Brasil, há iniciativas em São Paulo e Curitiba, onde as bicicletas não foram retiradas dos postes Foto: Erika Fonseca

A proposta é alertar para a necessidade de uma cidade melhor preparada para quem pedala e com um trânsito voltado para o respeito às pessoas. Mas a ideia não é inédita, inclusive em Fortaleza. Uma outra "bicicleta fantasma" foi instalada na Avenida Santos Dumont, em alusão à morte de um menino. Na ocasião, uma van colidiu com a bicileta, e Adrian Menezes Duarte, que estava com um adulto, morreu na hora.

Já a da Avenida da Universidade lembra a morte de Francisco Severiano Filho, 61, que pedalava quando foi atropelado por um ônibus e faleceu.

De acordo com o advogado e ciclista Celso Sakuraba, a "bicicleta fantasma" é instalada no mundo inteiro e costuma ser considerada, inclusive pelo poder público em outras cidades, como uma intervenção urbana de protesto, não uma violação à lei. "Temos que respeitar a legislação urbanística, mas no mundo inteiro as cidades respeitam as bicicletas fantasmas. Aqui existe em São Paulo, Curitiba. As prefeituras, por mais conservadoras que sejam, não retiram. O objeto promove um a reflexão maior sobre o cotidiano no trânsito".

Celso Sakuraba, que pedala diariamente e adquiriu o hábito em Portugal, onde faz mestrado, acredita que a instalação na Avenida da Universidade é emblemática, porque por ali passam muitos ônibus e há dificuldades na travessia da via. "A gente corre risco toda hora. A cidade tem que ser pensada não para os veículos, mas para as pessoas".

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