Fortaleza é festejada na Praça

Escrito por Redação ,
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Nos 282 anos da Capital, fortalezenses foram ao Centro dar o seu testemunho de amor à cidade

Duas gerações de cidadãos de Fortaleza se encontraram, ontem pela manhã, para comemorar o aniversário da cidade. O evento reuniu, na Praça do Ferreira, o grupo da terceira idade do Serviço Social do Comércio (Sesc-CE) e as crianças que participavam do projeto Trem da História, promovido pelo Centro Cultural Banco do Nordeste. O grupo Sesc Chorinho e a presença especial do Bode Ioiô, eleito pelas crianças o mascote de Fortaleza, foram as principais atrações da manhã.

De acordo com o facilitador Gerson Linhares, o objetivo do encontro foi reunir pessoas de gerações diferentes, mas que tinham em comum o amor pela cidade onde vivem. A idéia era também chamar a atenção para o Centro, por sua importância histórica e afetiva.

‘‘É uma homenagem simples, singela, mas que eu considero muito válida pelo aniversário de Fortaleza’’, diz Linhares.

História

O encontro foi iniciado pelo grupo musical, que tocou chorinhos antigos que embalaram a dança e as lembranças de quem compartilha a história de vida com a cidade. Logo depois, chegou o Trem da História, trazendo as crianças e o irreverente Bode Ioiô, personagem famoso do Centro de Fortaleza no início do século passado.

Todo prosa, o Bode aproveitou a ocasião para contar as histórias do tempo em que freqüentava os cafés com os boêmios, levantava as saias das moças que passavam pela Praça do Ferreira e outras tantas estripulias que o fizeram ganhar um lugar especial na história da Capital cearense.

O Bode Ioiô também deu o seu alerta. ‘‘É preciso dar importância para a nossa história, ela não pode ser esquecida. Eu gostaria que hoje tivesse muito mais gente e outros tantos eventos para comemorar o aniversário. A história e a cultura são o futuro de todos nós’’.

O menino Tiago Lima, sete anos, disse que queria uma cidade bonita para todo mundo. “Gosto de morar aqui”.

DÉCADA DE 1950
Centro abrigou charmosos cafés e lojas de artigos finos e elegantes

“A Praça do Ferreira era o coração de Fortaleza’, lembra com saudade Raimundo Clemente de Oliveira, 76 anos, contando que testemunhou o incêndio do cine Majestic, na década de 1950. Explica que o fogo começou pela Lojas de Variedades. “Eu morava no terceiro andar do prédio”, recorda, assim como não sai da memória a época em que a Praça do Ferreira contava com seus charmosos cafés, o Abrigo Central e a Coluna da Hora.

“Os cafés eram freqüentados por políticos ilustres”, conta. O quadrilátero do espaço mais acolhedor da cidade concentrava lojas que comercializavam artigos finos, sendo freqüentadas por senhoras da alta sociedade, completa Oliveira.

Hoje, pode-se perceber o contraste dos hábitos da Fortaleza do início dos anos 1950 com a atual, diz. Naquela época, quando chegou a Fortaleza, uma das opções de lazer preferida do povo era passear nas tardes de domingo pelo Centro. Clemente se entusiasma ao falar da Praça do Ferreira de outrora. ´Tinha a tabacaria do Pimentel, o Café Presidente e o Pedão da Bananada´.

NOS DIAS DE HOJE
Área central está sempre vazia aos domingos e nos feriados

Diferente daquele tempo, o Centro de Fortaleza aos domingos é quase vazio. As lojas cerram as portas de ferro, impedindo que as pessoas admirem as vitrines. Em outras épocas, elas enchiam os olhos das pessoas, sobretudo das mulheres, que aproveitavam para copiar os modelos.

A Praça do Ferreira antiga era o ponto de encontro das famílias que realizavam passeios dominicais, após a sessão de cinema. “Gosto muito de apreciar o Centro”, revela Abner Ferreira Sales, 72 anos, que confessa não dispensar uma conversa na Praça do Ferreira.

“A gente fala sobre tudo: política, economia e da vida dos outros também”, ri, confessando que freqüenta o local há mais de 40 anos. A saudade é apenas do tempo que não volta mais, justifica, afirmando que, hoje, é bem melhor do que antigamente. No entanto, lamenta a demolição do abrigo central e da Coluna da Hora. “Sinto saudade”, revela.

O advogado André Real, 60 anos, lembra da época em que havia a sessão das 21h30, no Cine Luiz. “Era o programa preferido da alta sociedade de Fortaleza”. A juventude vinha paquerar na Praça do Ferreira, recorda. Conta que “a primeira vez que usei terno foi para ir ao Cine São Luiz com a minha namorada”, relembra.

Diferente de hoje, os namorados não saíam sozinhos. Era comum levar a mãe e a irmã dela também. Caso contrário, não tinha a permissão do pai. Sentado no banco da Praça do Ferreira, diz que tudo surge como um filme na sua cabeça.

Mais jovem do que os outros, André Real alcançou o tempo em que a Beira-Mar concentrava os bares e os restaurantes da cidade. Fala da Fortaleza boêmia, citando os bares e as boates localizadas no Centro.

ENQUETE
Como o Sr. (a) vê a Fortaleza centenária?

Abner Ferreira Sales
72 ANOS
Aposentado

"Há 40 anos freqüento a Praça do Ferreira e tenho muita saudade da época do abrigo central e da Coluna da Hora. As pessoas gostavam de passear com a família"

Raimundo Clemente de Oliveira
76 ANOS
Aposentado

"A Praça do Ferreira era o coração de Fortaleza com seus cafés freqüentados por políticos importantes. Tenho saudade também das barraquinhas da praia. Era diferente de hoje"

Zulene Câmara
71 ANOS
Aposentada

"Tenho muito carinho por essa cidade e queria que as pessoas e os governantes dessem mais valor ao que é antigo, tradicional. Não é só o novo que é bonito"

Karoline Viana e Iracema Sales
Repórteres

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