Força dos construtores de oportunidades

Do vigor de muitos corpos e mentes, nasce a sustentação de Fortaleza que chega hoje aos 292 anos

Escrito por Thatiany Nascimento - Repórter ,

Fortaleza tem muitas fortalezas. Talvez seja essa a sina da cidade para manter-se de pé. Viva. Não fosse o vigor das expressivas fortalezas - materializadas em distintas dimensões, a serem apresentadas neste especial do Diário do Nordeste - essa outra, que chega aos 292 anos em 13 de abril, padeceria (ainda) mais. Atormentada pela violência, o descuido, a competição, a desvalorização e os interesses privados acima do público. Malefícios que cruzam o território de cerca de 314,930 km² e o afrontam. Ainda assim, tais fatores não fazem a cidade sucumbir.

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Se perguntam: quais as fortalezas desse canto? O que há de mais resistente e vigoroso nessa cidade? Qual sua resposta? O Diário do Nordeste categorizou três "Fortalezas desse canto" e apresenta neste especial. São, pelo menos, 15 histórias divididas em três eixos: "Fortaleza: gente", "Fortaleza: recursos naturais" e "Fortaleza: produção de conhecimento". A serem contadas nesta sexta-feira (13) e sábado (14).

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Priscilla Sousa mostra através de fotos um novo Serviluz (Foto: Fabiane de Paula)

Se o comportamento humano é o que efetiva, inúmeras vezes, processos indesejáveis e lamentáveis na Capital, é também ele que, de alguma forma, pode redimir o experimento de uma vida coletiva mais qualificada nesse território. Fortaleza tem 2.627.482 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), distribuídos em 119 bairros e sete regionais. Nesta reportagem, ao falarem de si, anônimos contam muito sobre tantas outras forças que movem a cidade. Uma amostra das vidas que, espalhadas, se encontram no compromisso de atuar por dias e lugares melhores.
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Paulo Probo é um dos idealizador do projeto Viva o Centro. (Foto: JL Rosa)
 
Atuação

Na Regional I, a educadora social, Kelviane Vieira Alves, 30 anos, há oito anos realiza visitas animadas em hospitais infantis e tenta levar alívio, nem que seja por curtos momentos para crianças que enfrentam doenças. Para os adultos que os acompanham, proporciona um pouco de conforto. Na atividade que conta com teatro e música, Kelviane, moradora do Álvaro Weyne, se realiza. É nessa ação, que ela, junto a um grupo de voluntários, diz encontrar sentido e crescer.

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Kelviane Vieira da Regional I faz animação em hospitais (Foto: Eduardo Queiroz)

Do outro lado da Cidade, no Serviluz, na Regional II, o pôr do sol é encantador e singular. Bem como as histórias do bairro e as experiências de articulação comunitária. Diferenciais nem sempre percebidos pelos próprios habitantes. Tratado, muitas vezes, como sinônimo de violência, o Serviluz padece de reconhecimento. É na tentativa de "contra narrar" esse bairro que a produtora cultural, Priscilla Sousa, de 28 anos, o registra e expõem em áudio, vídeo, foto e cores.
 
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Gomes Ávila é referência para outros jovens do Mondubim (Foto: Reinaldo Jorge)
 
Na Regional III, as mãos jovens em treinamento lotam um dos salões de beleza do bairro Presidente Kennedy. É nesta área que aqueles que não possuem verba podem, aos menos às segundas e quartas à noite, ter acesso ao serviço básico: corte de cabelo gratuito. A ação é executada por jovens, acolhidos no "Escolinha ABC Cabeleireiro", idealizado pelo cabeleireiro Manoel da Vera Cruz Matos, de 51 anos. Anônimo que move Fortaleza.

Já na Regional IV, Stela Fernandes de Andrade, 35 anos, é conhecida por ser um misto de coragem e sensibilidade para acolher histórias duras e tentar mudá-las. Nascida e criada na comunidade Salgadeira, no Jardim América, ela foi eleita conselheira tutelar em 2015. Disposição não falta. Atuar justamente em territórios fragilizados é uma vocação.

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Stela Fernandes atua em periferias da Regional IV (Foto: Fabiane de Paula)

Juventude

Audiovisual, fotografia, moda, designer... Áreas e atrativos que para Gomes Ávila, de 21 anos, são competências que compartilhadas, podem se multiplicar. É esse o entendimento do jovem morador do Mondubim, na Regional V. É assim que ele fortalece a área em que mora sendo exemplo nas formações no Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) do bairro.

Na Regional VI, jovens também impulsionam mudanças. No Jangurussu, a vida do "poeta-marginal", Jardson Remido, 24 anos, é conhecida. Seja pelas intervenções nos ônibus ou pelas participações em atividades em escolas e projetos. Ele descobriu na leitura o sentido para alterar os rumos da vida que parecia "fadada ao fracasso". Um desses reconhecimentos veio em 2017, quando foi convidado para protagonizar um dos espaços da Bienal Internacional do Livro do Ceará.

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Manoel da Vera mantém um salão-escola há mais de 10 anos (Foto: Kid Júnior)

Fazer do Centro um espaço valorizado, frequentado e acolhedor. Desejos que perpassam o imaginário do fortalezense e as ações do guia de turismo, Paulo Probo, de 49 anos. Morador do bairro, ele tem se colocado à disposição. Da idealização de atividades à comemoração do êxito das mesmas. O Centro, aos poucos, ganha atenção. Idealizador do projeto Viva o Centro - que agrega sociedade civil e poder público em ações de qualificação do bairro -, Paulo conta que as iniciativas brotaram de forma espontânea e hoje colhem-se os frutos. Ele é esperançoso e acredita na produção de oportunidades para outras gerações.

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Jardson Remido, poeta, aposta no incentivo à  leitura (Foto: Reinaldo Jorge)

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