Falta de dados da população de rua prejudica atendimento

O último Censo Municipal sobre População em Situação de Rua, em Fortaleza, é de 2015

Escrito por Redação ,
Legenda: Apenas na Praça do Ferreira, no Centro, 247 pessoas se abrigavam, segundo o último levantamento realizado pela SDHDS. No entanto, profissionais vinculados à área afirmam que houve crescimento perceptível nos últimos anos
Foto: Foto: Saulo Roberto

Apesar dos avanços relacionados à execução de políticas públicas voltadas aos moradores em situação de rua, a falta de atualização sobre o real panorama dificulta a visualização e, consequentemente, a criação de propostas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a contagem da população de rua deverá ser incluída no Censo apenas em 2020.

O último Censo Municipal sobre População em Situação de Rua, feito em 2015, pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (SDHDS), aponta 1.718 pessoas em situação de rua em Fortaleza. Destas, 80% são do sexo masculino; 42% foram morar na rua por rompimento de vínculo familiar e 79,8% fazem uso de substâncias psicotrópicas. Apenas na Praça do Ferreira, no Centro, 247 pessoas se abrigavam, segundo o último levantamento feito pela Pasta. No entanto, profissionais vinculados à área afirmam que houve crescimento perceptível nos últimos anos.

Na visão do cientista social da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rodrigo Patrocínio, a atual situação só pode ser revertida concedendo de forma justa a disposição de recursos - auxílio moradia, ressocialização e inserção no mercado de trabalho - de modo geral e que, para isso, é necessário ter informações sempre atualizadas. "A falta de dados acarreta na falta de um planejamento do Estado para lidar com o problema. Não existe uma forma de abarcar uma política pública que amenize a situação de algo sem ter noção de algo que está em todas as esferas da sociedade. Existe uma política limitada, tanto na dimensão quanto na disponibilização de recursos", afirma.

Segundo Cláudia Pimenta, supervisora do Projeto "Corre pra Vida", o crescimento pode ser percebido pela demanda de atendimentos. "Do início até aqui, teve um aumento significativo. Mas agora estamos com um equipamento modernizado, e isso proporciona um atendimento de mais qualidade", afirma.

A iniciativa que Cláudia coordena foi criada em outubro de 2015 para oferecer direitos fundamentais ao moradores em situação de rua. Concebido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria Especial de Políticas Sobre Drogas (SPD), e executado pela Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Qualificação Profissional (Idesq), o projeto dispõe de equipes que fazem atendimento psicossocial, além de disponibilizar um contêiner fixo, no Centro, com três banheiros e sala de apoio, bem como uma Unidade Móvel que leva os serviços para diversos locais. Também são disponibilizados kits de higiene pessoal, água potável e preservativos.

Desde a criação, o projeto realizou mais de 60 mil atendimentos, tendo uma média de acolhimento diário entre 200 e 300 pessoas. Mesmo com o alto índice de serviços prestados, as atividades foram suspensas em 2017 em virtude do não repasse de recursos. Entretanto, as atividades voltaram no último mês de dezembro e o novo contêiner foi inaugurado no último dia 3. Para 2018, o orçamento disponível para subsidiar as atividades do projeto é de R$ 1 milhão.

Segundo Will Almeida, titular da SPD, a pretensão para este ano é a garantia da continuidade do projeto e sua expansão, em parceria com o Ceará Pacífico, para levá-lo a outras localidades da Capital e também do Interior.

Além do contêiner, Fortaleza conta com duas unidades de acolhimento institucional (abrigos), na Jacarecanga, que recebe homens; e Parangaba, que recebe mulheres e famílias. Essas unidades atendem, 24h, com a quatro refeições durante o dia.

A Secretaria acrescenta que existe a Casa de Passagem (Centro), que acolhe em tempo mais curto, com 50 vagas; a Pousada Social (Centro), que oferta 80 vagas para pernoite; Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro Pop), no Centro e Benfica; e o Centro de Convivência para Pessoas em Situação de Rua (Centro), além das equipes de abordagem social que acompanham e encaminham s demandas. (Colaborou Fabrício Paiva)

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