Evento discute Educação no combate à violência

O combate à evasão escolar é um dos pilares para transformar salas de aula em ferramentas de combate à violência

Escrito por Redação ,

“Muitas vezes as políticas ficam nos presídios, na Polícia. Mas os melhores resultados vêm dos investimentos no papel da Educação e das escolas, na prevenção primária”. A constatação do Diretor do Banco Mundial (BM) para o Brasil, Martin Raiser, sintetizou as discussões do seminário internacional “Evidências e estratégias para prevenção de crime e violência no Ceará”, sediado ontem na Vice-Governadoria do Estado. No evento, especialistas em Segurança, Economia e Educação de vários países e da gestão cearense discutiram sobre uma questão tão complexa quanto fundamental: a relação entre a presença da juventude nas escolas e o combate à criminalidade.

Para a economista líder do Banco Mundial, Laura Chioda, “se prevenção é algo caro, manter uma criança na escola é um ótimo investimento”. “O ambiente escolar possibilita que elas tenham disciplina e desenvolvam a capacidade cerebral de lidar com as emoções e controlar os impulsos. Quando lidamos com jovens fora da escola, é muito difícil criar incentivos para isso”, pontuou Chioda durante o painel “O papel da educação para prevenção de crime e violência”.

Epidemia

Ainda segundo Martin Raiser, “a epidemia de violência urbana é um dos grandes problemas para o desenvolvimento brasileiro” e, consequentemente, do território cearense, constatação endossada pelo representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento no Brasil (Bird), Hugo Florez. “Um levantamento do Banco Mundial mostrou que 42% dos homicídios da América Latina são no Brasil, e 3,78% do Produto Interno Bruto são gastos com problemas de violência. As mudanças são necessárias, levam tempo e devem ser estruturadas, começando pela educação”, frisaHugo Florez.

Diálogo

O combate à evasão escolar, como sinalizou a vice-governadora e ex-secretária da Educação do Ceará, Izolda Cela, também é um dos pilares para transformar as salas de aula em ferramentas de combate à violência. “Qualificar a rede, expandir o ensino em tempo integral, fazer com que os jovens fiquem na escola e finalizem o ensino médio com chances de entrar na universidade e no mundo do trabalho formam uma política muito efetiva, que terá reflexos na prevenção primária”, declarou Cela.

Além disso, a vice-governadora ressaltou a implantação de práticas de Justiça Restaurativa e círculos de construção de paz para mudar o comportamento dos jovens e expandir os ensinamentos às comunidades nas quais eles vivem. Segundo Izolda Cela, cerca de 150 escolas estaduais já incluíram a metodologia na rotina. “O desafio é expandirmos essa política, porque ainda acontece em escalas muito pequenas. Os problemas são muito complexos e ganham terrenos importantes, precisamos, então, de mais ritmo para expandir também as boas experiências”. Para isso, lamenta a vice-governadora, “falta pessoal”. “Isso não se expande por decreto. A Justiça Restaurativa envolve responsabilização de pessoas e da comunidade também. A verdadeira Justiça é aquela que impede que ele erre de novo, para que os problemas não voltem a acontecer. E para isso, ele precisa ter suporte da comunidade, da escola e da família”, salienta.

Mediação

De acordo com a secretária municipal da Educação, Dalila Saldanha, três escolas localizadas em áreas de vulnerabilidade socioeconômica em Fortaleza já aderiram às células de mediação, que envolvem formação especial dos profissionais para lidar com conflitos e mitigar episódios de violência. 

“Além disso, existe um projeto de monitoramento da frequência, em que buscamos a permanência do aluno na escola. Precisamos trabalhar três pilares: a questão cognitiva do estudante, para que ele se sinta apto a avançar; as competências socioemocionais, e a formação e incentivo ao professor”, destaca a secretária.

Em Fortaleza, os contextos em que a violência é rotina para crianças, adolescentes e jovens, inclusive dentro das escolas, não são raros – situações que impõem a necessidade da presença de uma Polícia mais educadora do que repressora, segundo o titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), André Costa. “Nosso problema é a juventude: ela é quem mais mata e quem mais morre. Temos de apagar nossos incêndios, mas sem perder de vista ações em médio e longo prazos, senão continuaremos sempre nessa de ir para o combate, o confronto. Devemos ter o papel não só de Segurança Pública, mas de Defesa Social”.

Integração

Abordar a relação entre juventude, educação e violência a partir de uma “visão integrada” é o que também defende o superintendente do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas), Cássio Franco. “Discute-se muito a atuação das forças policiais, sem esse aparato não é possível resolver a questão da violência. Entretanto, ele é insuficiente. A violência urbana, o crime e o cometimento de ato infracional envolvem questões pessoais que o jovem tem consigo, com a família, com o entorno e com as políticas de educação, cultura e emprego. A integração é que gera um ponto comum de desenvolvimento social”.

Mais informações:

O seminário tem continuidade hoje. Serão realizadas oficinas e workshops sobre iniciativas do Governo do Ceará para a prevenção de crimes e violência

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