Estudo avaliará possibilidade de solicitar ônibus por aplicativo

O chamado transporte público sob demanda já existe em algumas cidades e, no futuro, poderá ser implantado em Fortaleza. Pesquisa investigará as trajetórias dos usuários na Capital para implementar melhorias na mobilidade

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.Paulino@diariodonordeste.com.br

Ainda não há nada definido além da ideia, mas, no futuro, os ônibus de Fortaleza poderão alterar seu itinerário padrão para atender a solicitações de usuários por aplicativo, a exemplo do que ocorre com o transporte individual de passageiros. A perspectiva de implantação só deve ser conhecida após a análise dos dados colhidos pela inédita Pesquisa Origem-Destino 2019, que prevê visitas a 23 mil domicílios da Capital a partir do próximo dia 5 de fevereiro.

O engenheiro de transportes da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Victor Macêdo, coordenador do estudo, detalha que, antes de elaborar qualquer plano, é preciso "conhecer muito a demanda do sistema". "Temos que identificar qual seria a frequência desse veículo e a confiabilidade do uso do aplicativo. Estamos buscando o que deu certo e o que não deu para, a partir dos resultados da pesquisa, podermos avançar num projeto mais embasado tecnicamente", afirma.

Por enquanto, um exemplo estudado é o de São José dos Campos, em São Paulo, que implantou o modelo especificamente para a população com deficiência ou mobilidade reduzida. A partir do chamado do usuário, o veículo pode fazer adaptações no percurso para buscá-lo e levar a hospitais, por exemplo. O sistema já é aplicado tanto em bairros de menor demanda quanto em grandes anéis urbanos.

Os dados da pesquisa também poderão embasar a criação de políticas públicas de mobilidade para outros grupos, como idosos, estudantes e pessoas à procura de emprego. O levantamento deve se estender até maio, projeta Victor, a depender da produtividade e da receptividade do público. Caso haja rejeição em um domicílio, um novo será procurado.

Redimensionamento

Na avaliação do secretário-executivo da SCSP, Luiz Alberto Sabóia, o sistema de transporte coletivo de Fortaleza sempre foi planejado de forma empírica, a partir de demandas da população. Agora, pela primeira vez, o Raio X dos deslocamentos será científico. O levantamento permitirá o redimensionamento ou a criação de novas linhas e pontos de parada, a integração entre os modais, a expansão da rede cicloviária e a construção de novas vias ou o alargamento de outras.

Também será possível pensar a ampliação de novos serviços, como as linhas interbairros com tarifa reduzida. Atualmente, duas passam por testes: Cidade Jardim/José Walter e Yolanda Queiroz/Dendê. "Esse programa tende a ser uma estratégia para fortalecer o comércio do bairro; o usuário vai consumir ali em vez de ir até o Centro ou outras áreas. Ele tenta induzi-lo, através de uma tarifa mais barata. Com a pesquisa, podemos identificar quanto isso pode ser expandido no futuro", afirma Sabóia.

Linhas subutilizadas e outras superlotadas também entram na investigação, que busca, segundo Victor Macêdo, diminuir os "percursos negativos" - quando o usuário faz um deslocamento maior para chegar ao destino porque não conhece outras alternativas ou prefere usar os terminais.

Futuro

A Pesquisa Origem-Destino 2019 faz parte do Plano de Acessibilidade Sustentável de Fortaleza (Pasfor), cujo objetivo é replanejar a mobilidade urbana da cidade nos próximos 10 anos.

Outras pesquisas do Plano devem contabilizar o acesso de veículos e pessoas da Região Metropolitana para a Capital, todos os dias; a utilização dos terminais; o tráfego de veículos em 300 cruzamentos, e a movimentação de 2.000 empresas de transporte de cargas.

Os 23 mil domicílios sorteados para a Pesquisa receberão uma carta informando sobre a visita. Os cerca de 200 pesquisadores serão identificados com crachá e fardamento.

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