Esperança para seguir

Escrito por Redação ,

Enquanto, para a maioria, a ambição por mais lidera os pedidos no momento da virada, a expectativa de Louise Anne, 28, é de que o Ano Novo venha com menos: "menos feminicídios, menos violência, menos medo, menos retirada de direitos". Moradora da periferia de Fortaleza "desde sempre", a professora da rede municipal convive diariamente com cenários de privação, e baseia os planos e desejos na esperança de um futuro mais generoso para o coletivo.

A militância começou aos 14 anos, quando o prefeito da Capital ainda era Juraci Magalhães e a meia estudantil estava ameaçada, gerando uma manifestação entre os alunos da escola onde Louise estudava.

"Eu pegava ônibus todo dia, então achava que também queria a meia. Que as coisas precisavam ser feitas, e que não só os outros tinham de fazer", relembra. Hoje, ainda nas salas de aula, mas agora como docente, a jovem encara outras demandas. "Tenho alunos que passam mal, porque chegam uma hora da tarde pra aula e ainda não comeram nada. E as pessoas ainda pensam que a gente venceu isso no Brasil... A fome é um problema real", alerta. "Eu luto para que tenhamos nossos direitos assegurados. A democracia, a educação básica e superior pública e de qualidade. Estamos num processo de desmonte muito rápido, perdendo isso de maneira institucionalizada, é assustador", declara a jovem do Novo Mondubim.

O bairro-casa distante do Centro, aliás, não troca por Benfica nenhum. "Morar onde as pessoas te conhecem e na realidade que você conhece é uma escolha. A universidade, muitas vezes, tenta nos tirar da nossa realidade material, da nossa 'outra vida'. Mas não podemos esquecer: a universidade é um período", justifica Louise, graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde hoje cursa Direito.

Entre os tantos desejos para o coletivo, ainda se encontram os anseios individuais - que, ainda assim, começam em si e terminam no outro. "Eu espero passar num concurso para professora efetiva do Município, para assegurar a velhice dos meus pais. E que a gente tenha mais segurança. O que nos faz estar seguros e livres, se liberdade é não ter medo? E eu tenho medo. De sair, da rua. Quero estar segura sendo exatamente quem eu sou - mulher negra, gorda, LGBT, moradora da periferia - onde estiver", exige.

É no outro, então, que a resistência dela persiste. É o coletivo que faz crer que 2019 pode até se desenhar difícil na mente, mas terá dias melhores. "Tenho muita esperança, e é por isso que luto: porque eu acredito muito que é possível. Meus alunos me dão muita esperança. Alguns tiveram os pais assassinados, vivem vulneráveis, mas conseguiram aprender, terminar o ano. Aprendem e mudam pra melhor todos os dias. Isso renova me renova".

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