'Engorda' e criação de novo aterro custarão R$ 67 milhões

Na Beira-Mar, a 'engorda' está prevista para uma extensão aproximada de 1.150m da praia

Escrito por João Lima Neto - Repórter ,

A erosão na faixa litorânea de Fortaleza é uma preocupação antiga de diferentes gestões municipais. Em 2018, a situação não é diferente. No mês de março, a ressaca do mar deixou rastros nas confluências com a Av. Barão de Studart e R. Nunes Valente, e entre a R. Ildefonso Albano e o Aterrinho da Praia de Iracema. Nesses locais, a areia úmida trazida pelas ondas chegou a ocupar largos espaços, tanto nas vias, quanto no calçadão da Av. Beira-Mar. Com o intuito de proteger e recuperar a faixa litorânea da Beira-Mar e Praia de Iracema, o Município vai abrir licitação pública internacional no valor de R$ 67,4 milhões.

Na Beira-Mar, a engorda será feita na extensão 1.150m da praia. Com base no levantamento da profundidade do oceano, foram desenvolvidas 24 seções, espaçadas a cada 50m, para estimativa do volume necessário para a engorda artificial. Já na Praia de Iracema, a ampliação da faixa de areia será feita na extensão 850m da área litorânea. Foram desenvolvidas 18 seções, espaçadas a cada 50m, para estimar o volume necessário de realização da intervenção.

Conforme edital de concorrência, que será aberto no dia 8 de junho, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf) busca empresa para realizar as intervenções. Em caráter emergencial, as secretarias municipais da Infraestrutura e Regional II contataram o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), para realizar diagnóstico e apresentar soluções para proteção dos equipamentos urbanos da área atingidas pela erosão. A solução final apresentada pela instituição foi a regeneração artificial, por meio de aterro hidráulico, com largura de 80m de praia seca, tanto na Praia de Iracema, quanto na Beira-Mar.

Projeto

"Foi uma alternativa conjugada com as seguintes intervenções: construção de um aterro hidráulico, contido a leste por um novo espigão construído em frente ao Clube Náutico e a oeste pelo espigão da Rui Barbosa (já construído), e aumento do aterro existente na parte central, que vai até o espigão da João Cordeiro para favorecer a integração das soluções e a melhoria das condições físicas para instalações de novos equipamentos urbanos adequados", explica o Município de Fortaleza no documento.

Na avaliação do professor do Departamento de Geografia da UFC, Jeovah Meireles, as medidas articuladas para a orla de Fortaleza são paliativas. "As obras são de alto custo e devem passar por monitoramento das relações existentes entre as obras, ondas e marés a médio prazo. É preciso elaborar um grande banco de dados para que se possa ter o comportamento desse tipo de ação que, costumeiramente, não passam pelo monitoramento", explica.

Segundo o professor, as faixas de praia e regiões de dunas, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estão sendo ocupadas, cada vez mais, movimento que acelera os processos erosivos. "Eles estão vinculados às funções naturais que evitam as erosões. A longo prazo, a Região Metropolitana de Fortaleza vai dobrar de população, as ilhas de calor vão aumentar e vão diminuir os sedimentos com a ocupação exagerada da orla. Isso tudo vai proporcionar uma conjunção de elementos que potencializa os processos de erosão na zona costeira", analisa.

Como solução definitiva, Jeovah aponta que é necessário realizar a recuperação dos sistemas ambientais, a não impermeabilização das dunas ao longo das drenagens existentes, recuperar as matas ciliares, além de criar um eficaz plano de melhorias dos recursos hídricos. A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Fortaleza e com a Seinf para falar sobre o projeto, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.

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