Em 20 anos, Ceará precisará de quase 1 milhão de novas moradias

Pesquisa do Ministério das Cidades projeta a necessidade de mais habitações com base em fatores como independência das mulheres, envelhecimento da população e domicílios de vivência unipessoal nas próximas décadas

Escrito por Nicolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: A tendência é que as pessoas troquem casas por apartamentos mais compactos
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Onde você vai morar em 2040? Alguns têm resposta certa; outros, nem tanto. Para quem estuda as políticas públicas de habitação, no entanto, o planejamento deve começar logo. A demanda por novas moradias no Ceará, no acumulado dos próximos 20 anos, pode chegar a 987 mil unidades, conforme estimativa do livro "Demanda Futura por Moradias: Demografia, Habitação e Mercado", elaborado pela Secretaria Nacional de Habitação, do Ministério das Cidades, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF).

A quantidade de moradias deve passar dos atuais 2,9 milhões para 3,9 milhões, em 2040. Levando em conta variáveis socioeconômicas, o levantamento projeta que a população do Estado vai beirar os 10 milhões de habitantes - 630 mil a mais que a quantidade estimada atualmente.

Mas por que a disparidade entre a população e a demanda? O livro projeta que o tamanho médio das habitações, no Estado, passará dos atuais 3,22 para 2,56 habitantes por domicílio.

Ou seja, até 2040, menos pessoas estarão morando sob o mesmo teto, e mais estarão vivendo solitariamente. "Haverá necessidade de mais unidades residenciais para acomodar a demanda que supostamente era agregada e acomodada em um número menor de unidades", aponta.

Com o tempo, a demanda por novos domicílios deve cair pela queda na taxa de natalidade e pelo envelhecimento dos brasileiros. "Os menores de 14 anos passarão de 42% da população, em 1970, para apenas 16%, em 2040. As taxas da população acima de 65 anos se elevam de 3,4% para 16% nesse mesmo período. Estamos vivendo mais e tendo menos filhos", relata o livro.

Também deve haver o impulso de uma tendência atual: o crescimento do número de apartamentos e a redução de casas. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, espaços compactos têm atraído a atenção de quem quer viver só. "As pessoas querem apartamentos menores, com custo reduzido, mas com boas localização e estrutura. Querem morar mais próximas ao trabalho, do lazer. Não querem mais perder tempo se deslocando", explica.

Mulheres

Levando em consideração cada município cearense, o estudo faz projeções até 2030. Nos próximos 10 anos, Fortaleza deve necessitar de 136,5 mil novas residências, seguida por Caucaia, na Região Metropolitana, com 43,2 mil domicílios. Juazeiro do Norte e Sobral serão as cidades do Interior com maior necessidade: 18,6 mil e 16,3 mil, respectivamente. No fim da lista, as cidades de Granjeiro, Guaramiranga e São João do Jaguaribe necessitarão de menos de 500 moradias, cada.

A projeção também divide a demanda futura por gênero - e as mulheres vêm se destacando. Das 987 mil moradias necessárias no Ceará, 537 mil deverão ser chefiadas por mulheres, contra 450 mil lideradas por homens. O cálculo parte do pressuposto de que o número de domicílios existente numa população é igual ao número de chefes dessa mesma população.

As mulheres representam mais de 80% dos atendimentos para concorrer a moradias na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), conforme a titular da Pasta, Olinda Marques. Parte delas comanda a família sozinha porque os companheiros abandonaram a família ou migraram para outros Estados em busca de trabalho.

Déficit

A secretária afirma que a Prefeitura já entregou 19.784 unidades habitacionais dentro do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). A meta é chegar a 30 mil até o fim deste ano. Ainda assim, a Capital tem um déficit de 90 mil habitações, revela, com base nos cadastros para sorteio de moradias realizados nas Regionais.

"Outro eixo em que trabalhamos é a melhoria ocupacional. Dentro das 90 mil famílias cadastradas, mais de 40% têm casa, mas ela é precária. Então, vamos lá e reformamos ou fazemos fachada, banheiro; a prioridade é ligar à rede de saneamento", destaca Olinda. A meta é chegar a 8 mil famílias atendidas até o fim da gestão, embora ela reconheça que "o recurso é pouco". Serão beneficiadas moradias no Pirambu, São Cristóvão e no Serviluz.

Em nota, a Secretaria das Cidades do Governo do Estado informou que, nos últimos quatro anos, foram entregues 31.543 unidades habitacionais. Para este ano, estão previstas mais 8.310 nos municípios de Catunda, Fortaleza, Irauçuba, Massapê e Pires Ferreira. Com relação à contratação de novas operações, o Estado aguarda definição sobre a continuidade da política habitacional capitaneada pelo novo Governo Federal.

Sobre os dados mais recentes de déficit habitacional no Estado, a Pasta detectou que são necessárias 302.623 habitações, 224.740 na área urbana e 77.883 na área rural. Os números foram estimados pela Fundação João Pinheiro, em 2015.

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