Doenças mentais demandam preparo de escolas

No ambiente escolar, onde crianças passam boa parte do tempo e experimentam o convívio social, nem sempre os sinais de sofrimentos psíquicos têm a devida atenção

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@diariodonordeste.com.br

Se o ambiente familiar, em geral, é onde se inicia, ainda na fase infantil, as formações emocionais e psíquicas, é na escola que as experiências de socialização ampliam esses horizontes. Na sala de aula - território em que todos estão sujeito às mesmas regras e onde o convívio social se acentua - alguns sofrimentos psíquicos ganham evidência. Diante disso, qual a preparação das escolas em Fortaleza para atender à demandas cada vez mais expressivas?

Transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo, dentre muitas outras doenças mentais, manifestam-se na realidade escolar. A dona de casa Geziane dos Santos Abreu, mãe de duas crianças - de 11 e 13 anos - diagnosticadas com sofrimento psíquico conhece os dilemas. Para que um dos filhos que tem transtorno de déficit de atenção possa frequentar a escola regular, ela esperou por mais de um ano a designação, por parte do poder público, de um profissional especializado para o acompanhamento do menino. "A gente sofre e é uma luta de muito tempo para garantir as coisas", ressalta.

O caso exemplifica a condição das instituições, conforme avalia a psicóloga do Núcleo de Atenção à Infância e à Adolescência (Naia) do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, em Messejana, Marleide de Oliveira. Para ela, apesar dos esforços de alguns profissionais, a situação das instituições ainda está longe do ideal. "A escola não está muito preparada por conta da quantidade de alunos. Mas temos percebido que estão tendo esse olhar mais cuidadoso", relata ela, que coordena o serviço no Núcleo com 290 pacientes infantis ativos.

O ingresso para tratamento no local somente há três meses passou a ser regulado. Antes, conta ela, a demanda espontânea advinda das escolas, tanto da Capital como do interior, era expressiva na unidade. Hoje, o acesso ao tratamento no Núcleo que tem, dentre outros, ambulatórios para autismo, ansiedade, psicose, transtorno de humor e transtorno de déficit de atenção é feito através das secretarias de saúde.

A recente estruturação desses atendimento também é evidenciada pela supervisora do Núcleo de Educação Inclusiva e Diversidade da Secretaria Municipal de Educação (SME), Vivian Salmito. De acordo com ela, em 2017, foi firmado um termo de cooperação entre as pastas de saúde e a educação para organizar o fluxo de atendimento de estudantes da rede.

Preparo

Questionada se os professores têm formação adequada para detectar sofrimentos psíquicos, Vivian garante que no atual fluxo na rede municipal, os professores, ao observarem comportamentos que expressam alguns sinais de doenças mentais, acionam um dos 166 professores do atendimento profissional especializado. Esses profissionais entram em contato com os Distritos e realizam a ponte com a pasta da saúde para garantir que essa criança será encaminhada ao atendimento básico, e, em seguida, ao especializado conforme a demanda.

"É necessário que a gente encaminhe às equipes de saúde da família para fazer uma avaliação mais acurada, para daí sim ser encaminhada ou não para os Centro de Atendimentos Psicossociais", diz a coordenadora da Saúde Mental de Fortaleza, Aline Gouveia. Para ela, apesar dos avanços na rede educacional e na percepção dos pais, ainda há muito preconceito e esse tipo de conduta tende a inibir o tratamento precoce e adequado.

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