Distribuição irregular de água persiste em bairros de Fortaleza

Queixas de habitantes de bairros periféricos têm surgido com frequência nas últimas semanas. Cagece afirma trabalhar para ampliar a oferta hídrica

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br
Legenda: Rejane Cruz armazena água em baldes no quintal para não sofrer com interrupção do serviço
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Mesmo a chuva intensa que cai do céu, a exemplo da que ocorreu na última sexta-feira (30), em Fortaleza - com 84,4 milímetros (mm), segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) -, não é garantia de água nas torneiras. Na Capital, diversos bairros têm sido prejudicados pela distribuição irregular do recurso, prejudicando a rotina de quem precisa dele para beber, tomar banho, lavar louças e roupas ou mesmo trabalhar.

No Parque Dois Irmãos, a microempresária Fabiana Silva chegou a recusar clientes pela falta d'água nos últimos dias. Na noite de quinta, o fornecimento voltou, mas com pressão insuficiente para encher a caixa. "A gente acaba não exercendo o trabalho direito. A cliente já sai de casa porque não tem água, e, quando chega aqui, também não faz unha, não faz cabelo. Ficamos no prejuízo", lamenta.

Lá perto, no loteamento Parque Montenegro I, os donos de uma petiscaria precisaram pagar R$ 250 por 800 litros de água transportados por um caminhão-pipa. O volume mal deu para uma noite de funcionamento. Já num condomínio residencial da localidade, sete dos 34 proprietários de casas entraram com protocolos junto à Ouvidoria da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), com reclamações sobre a falta d'água.

Precavida, a autônoma Rejane Cruz vem armazenando água em baldes no quintal porque, segundo ela, interrupções no fornecimento ocorrem de dois em dois dias. As justificativas da Companhia à moradora foram diversas: de um vazamento em avenida próxima até à falta de energia no Açude Gavião. É no andar dessa carruagem que ela já contabiliza duas semanas de transtornos.

"O nosso objetivo é ter um feedback pra saber se é um racionamento ou não para que possamos ter uma prevenção. Às vezes, nos dão a previsão de chegar 13h, mas só vem às 18h. E, quando chega, ainda é muito fraca. A gente tem que ficar subindo escadas com balde", descreve a autônoma.

Sem aviso

Vizinha de Rejane, a professora aposentada Terezinha de Oliveira enfrenta um desafio a mais: cuidar da mãe idosa, que tem Alzheimer e precisa de cuidados extras de domingo a domingo. A moradora apela que a Cagece emita avisos prévios nos dias em que o fornecimento possa ser interrompido. "A minha caixa é pequena, só de mil litros. Não dá, e não posso instalar uma maior porque a estrutura não suporta", adiciona.

Na Regional I, o bairro Vila Velha é outro que apresenta fornecimento intermitente. De forma específica, moradores reclamam do problema crônico no Conjunto São Francisco, há mais de 30 anos. Eles possuem um ofício protocolado junto à Cagece, datado de 2011, em que pedem a regulação do abastecimento por lá. O documento foi assinado por mais de 3.100 residentes, fruto de dois meses de ronda pelas ruas do lugar.

Mas, ainda hoje, eles dizem que o problema continua nas imediações da Av. Mozart Pinheiro de Lucena, onde a água, por vezes, só é fornecida durante a madrugada. "Tem gente que passa a noite toda pastorando a torneira, esperando a água, e vai trabalhar morrendo de sono", conta o morador Manoel Edson.

Para não deixar o povo na mão, o presidente da Associação de Moradores do Conjunto São Francisco e adjacências, Raimundo Marques da Cunha, cede a água de um poço profundo que ele mesmo mandou construir. "Com um calor desses, pessoas doentes em casa, é um sofrimento muito grande. Aqui, só tem água às vezes de 15 em 15 dias, ou uma vez na semana, às 3h da manhã. Depois disso, quando vão encher o balde, a água desaparece", relata.

Resposta

Sobre o abastecimento de água em áreas dos bairros Parque Dois Irmãos e Vila Velha, a Cagece declarou, através de nota, que "as ocorrências de desabastecimento e baixa pressão foram causadas por quedas de energia na estação de tratamento de água Gavião", reforçando a justificativa dada aos moradores. Segundo a Companhia, o abastecimento já foi retomado.

No caso do Conjunto São Francisco, a Cagece informou que uma equipe de melhorias trabalha na área "com o objetivo de ampliar a oferta de água para a região". O órgão orienta aos clientes que ocorrências de desabastecimento e baixa pressão sejam comunicadas através dos canais de atendimento disponíveis via telefone, aplicativo e site.

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