Demonstrações de fé se espalham pelos espaços públicos da Capital

Valores religiosos, atrelados à vontade de promover um bem comum, motivam fortalezenses a espalhar diversas imagens de santos e santas em praças e vias da cidade. A atitude costuma agradar a moradores e transeuntes.

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br

É difícil não notar, ao passar em frente ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, no bairro de Fátima, a estátua de 15 metros de altura, da santa de mesmo nome, que fica na praça do outro lado da rua observando serenamente a movimentação intensa do entorno. E essa expressão de fé, refletida em monumento, está espalhada por vários pontos da Capital, de uma forma mais discreta. Altares a céu aberto enfeitam vias e praças, seja por devoção, proteção, esperança, paz ou todos os motivos juntos.

Foi movido pela devoção que o empresário Ademar Farias, de 59 anos, colocou, há 12 anos, a imagem de Nossa Senhora de Fátima no canteiro central da Avenida Pompílio Gomes, no bairro Passaré, em frente à marmoraria da qual é dono. "Foi uma motivação minha, nada de promessa. O nosso bairro é muito carente, violento e eu achei que colocando ia trazer um pouco mais de paz para o povo", relata. Ele acredita ter feito a "coisa certa", afirmando que "hoje muita gente passa e chega à santa, faz o sinal da cruz, coloca alguma rosinha, uma florzinha ou coisa parecida".

O comerciante Elias Carneiro, que trabalha nos arredores, afirma se sentir bem com a presença da Nossa Senhora de Fátima. Ele explica que a santa é querida pela vizinhança, que ajuda nas manutenções necessárias, como pintura e reparos estruturais.

Próximo dali, na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, três imagens também abençoam os transeuntes e a comunidade local: São Francisco de Assis, Virgem Maria e Nossa Senhora de Fátima.

Apesar de os moradores e trabalhadores que conversaram com o Diário do Nordeste não saberem ao certo a motivação, quem as colocou lá e nem há quanto tempo, palpitam que pode ter sido ação de templos religiosos próximos, como a Casa São Pio, da fraternidade Toca de Assis, e a Capela Nossa Senhora de Fátima.

Convívio com os santos

Nenhum entrevistado relatou incômodo com a presença dos símbolos sacros. Alguns são indiferentes, outros acreditam ficar mais seguros e tem também quem passe e agradeça ao pé do altar.

Não sou evangélico nem católico e só confio em Deus. Eu não vou por elas, mas têm muitas pessoas católicas que já acreditam nelas, diz Mauriceli de Freitas Oliveira, de 32 anos, que vende água mineral e limpa para-brisas todos os dias no canteiro central onde ficam as santas Maria e N. Sra. De Fátima.

Para o padre Josieldo Nascimento, vigário paroquial do Santuário de Fátima, a atitude dos fiéis de colocar as imagens santas em locais públicos é uma expressão de "amor pelos intercessores ali representados", sendo "estímulo" para a vida cristã. O pároco explica que "trata-se, é claro, de uma fé simples", como de um grão de mostarda, segundo escrito na Bíblia.

'Chamado'

Para a costureira Maria Laura Alexandre Brasil, de 56 anos, colocar a imagem de Nossa Senhora das Graças em frente a sua casa, no Polo de Lazer do José Walter, na terceira etapa do bairro, "foi um chamado". "Eu comprei e deixei aqui no meu jardim e as pessoas passavam e ficavam em frente à santinha rezando. Um dia me chamou atenção um senhor que estava chorando e pediu: 'deixa eu ficar aqui falando com essa santinha? Porque minha mãe faleceu e eu gosto demais dela', e eu deixei", diz.

Depois do episódio, Maria Laura percebeu que a santa deveria estar à disposição "de todos". Com a ajuda do grupo de oração que integra, nomeado de N. Sra. Das Graças, colocou o altar no calçadão do Polo de Lazer após conseguir autorização na Prefeitura de Fortaleza, através da Regional V. Ela acredita que o altar também serviu para evitar que o espaço continuasse abandonado, sendo depósito de lixo e animais mortos.

Por meio de nota, a Prefeitura de Fortaleza informou que, "para a colocação de qualquer objeto fixo em locais públicos, é preciso solicitar autorização na Regional do respectivo bairro". O solicitante deve levar documentos pessoais e uma imagem do objeto que será colocado, para a "coordenadoria da Regional avaliar in loco a viabilidade da instalação". A reportagem não obteve resposta da Prefeitura se nesses casos há algum tipo de restrição ou conflito, no procedimento de avaliação, em relação ao Estado laico.

Legenda: Maria Laura escolheu o Polo de Lazer do José Walter por ser uma área verde e bonita onde a imagem da santa estaria à disposição de todos

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