Consumo deve chegar a 20 mil litros por segundo, diz estudo

Com uma população crescente, estratégias devem ser pensadas para evitar o colapso hídrico na cidade

Escrito por Nicolas Paulino / Renato Bezerra - Repórteres ,
Legenda: O prognóstico do Plano Fortaleza 2040 é que a cidade chegue a 3,1 milhões de habitantes, pressionando cada vez mais os recursos hídricos
Foto: FOTO: JL ROSA

Torneira aberta, louça lavada: de 46 a 243 litros de água utilizados. Chuveiro aberto, banho tomado: em 15 minutos, até 144 litros consumidos. Se as ações individuais já representam um gasto considerável, contabilize-as em toda Fortaleza, com os atuais 2,6 milhões de habitantes. O prognóstico do Plano Fortaleza 2040 é que a cidade chegue a 3,1 milhões de habitantes, pressionando cada vez mais os recursos hídricos. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) estima que, nos próximos 22 anos, o consumo da Capital deve alcançar 20 metros cúbicos - ou 20 mil litros - por segundo, ainda que passe a adotar um uso conservativo.

Até 2012, antes do período de seca, o consumo de toda a Região Metropolitana chegava 12 m³/s. Considerando o volume médio por ligação, cada imóvel consumiu, em março deste ano, 10,53 m³/s, conforme a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Além do crescimento populacional e consequente aumento de demanda de água, o cenário futuro deve ter ainda diminuição da oferta e conflitos pela disponibilidade hídrica, como avalia o projeto Gestão Adaptativa do Risco Climático de Seca como Estratégia de Redução dos Impactos da Mudança Climática (Adapta), do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC.

A pesquisa tomou como referência a disponibilidade atual de água no Ceará e informações históricas de variabilidade climática, em que são analisados períodos de seca e de grande incidência de chuva, e montou um banco de dados hídricos do Estado, além de aspectos econômicos e sociais e a mudança climática.

O projeto trabalha com a ideia de cenários possíveis. Na prática, a pressão tornará a Capital dependente da transposição do Rio São Francisco. Se o clima e a demanda atual se mantiverem os mesmos nas próximas décadas, o bombeamento do rio teria de ser acionado a cada 5 ou 10 anos, permanecendo ativo de 3 a 4 anos. Por outro lado, com aumento de demanda e redução da oferta local dos rios, o São Francisco deveria ser bombeado continuamente, gerando maiores conflitos políticos e sociais pela água da bacia.

De acordo com o coordenador do Adapta, Francisco de Assis de Souza Filho, é preciso pensar em novas estratégias para evitar o colapso da cidade, com a ampliação das fontes hídricas da Capital. "A demanda de Fortaleza continua crescendo. Vamos ter uma dependência maior do Rio São Francisco e intensificar a utilização de alguns mananciais", comenta. O reúso da água, segundo destaca o professor, está entre as medidas que devem ser consideradas.

O grupo Adapta indica o reúso de água domiciliar, com a adaptação das residências em dois sistemas de despejo: um para esgoto e outro para a água cinza, proveniente de chuveiros e pias, que poderia ser tratada e destinada a usos como descarga de vaso sanitário.

"Com isso teremos a condição de ter, no próprio lote, uma economia de 30% de água. De cada metro cúbico que a gente coleta 80% volta na forma de esgoto", diz o professor.

A água do esgoto, por sua vez, passaria pelo mesmo tratamento já existente na cidade para depois ser reutilizada. Uma das propostas do Adapta é levar a água de esgoto tratada para o complexo industrial do Pecém por meio de um canal. Além disso, podem ser implantados sistemas de cisternas urbanas em prédios, para captação de água da chuva, e a perfuração de novos poços artesianos.

Atualmente, segundo a Cagece, Fortaleza se utiliza principalmente do sistema de açudes Pacoti-Riachão-Gavião. Para diversificar as fontes, a empresa deu início a um projeto de parceria público-privada para uma usina de dessalinização da água do mar para abastecer a cidade com até 1 m³/s. Contudo, com estudos ainda em análise pela Companhia, não há previsão para a implantação.

Cocó

Outro projeto estimado é a retirada das águas da barragem do Rio Cocó, inaugurada em junho de 2017 para reter o excedente de água nos períodos chuvosos, para suprir o abastecimento da Região Metropolitana. Em fevereiro, a Cagece informou que avaliaria a qualidade da água disponível no local para consumo humano, primeiro fator a ser levado em consideração para iniciar um estudo desse tipo. De acordo com a Companhia, no entanto, o projeto permanece na fase de estudos e ainda não é possível confirmar sua viabilização. Uma terceira medida trata do reúso das águas de efluentes do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) para abastecimento das indústrias do local.

O sistema deve produzir 110 litros de água por segundo, mas também não há um prazo definido para começar, uma vez que o projeto segue em estudo, de acordo com a Cagece.

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