Clubes inovam para atrair público

Escrito por Redação ,

Após o período ´de ouro´ nos anos 50, as sedes sociais tentam se recuperar apostando no conforto e segurança

Fortaleza.
nos anos de 1950 ficou conhecida como ´cidade dos clubes sociais´, tamanha era a euforia em torno desses espaços glamourosos. Com o passar das décadas, o que era, então, novidade entrou em decadência e muitas sedes tradicionais fecharam.


Qualidade da formação dos atletas é um dos atrativos de algumas das sedes Foto: Fabiane de Paula

Hoje, na tentativa de retomar os tempos ´de ouro´, esses locais investem na inovação, oferecendo serviços de qualidade, apostando no conforto, maior privacidade e segurança. Tudo visando, é claro, o aumento de sócios e a sustentabilidade financeira.

Dos clubes mais tradicionais, a maioria já não existe ou não funciona, então, com o mesmo glamour, entre eles, Regatas, Diários na Avenida Beira-Mar, Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), Líbano-Brasileiro e o Maguari, entre outros.

Se as piscinas, por exemplo, nos anos 80, eram itens exclusivos dessas sedes sociais, hoje já é comum, entretanto, ter esses e outros equipamentos de lazer nos condomínios, em academias de bairros, escolas e nas praias.

Mas o que motiva, ainda hoje, a ida aos clubes? Para o psicólogo, Césio Rodrigues de Albuquerque Ximenes, 36, a ideia de matricular os dois filhos nesses espaço se deve, principalmente, à segurança de deixar a família em um local fechado e à comodidade de encontrar vários serviços juntos. "Apostamos na qualidade. Nesses locais, eles preparam os alunos como se todos fossem atletas olímpicos", relata Césio.

Inovação

Entre os clubes mais antigos que ainda funcionam - Náutico Cearense, Ideal Clube, Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Clube, Iate e Círculo Militar - a maioria vive uma certa situação de crise financeira, sentindo, assim, os efeitos da redução no número de pagantes e alto custo na manutenção.

Para Leovigildo Carlos da Silva Holanda, presidente do BNB Clube, na avenida Santos Dummont, o momento de decadência nos anos 80 e 90 acabou forçando uma mudança de gestão, visando uma postura mais responsável e de sustentabilidade.

A abertura para frequentadores que não são exclusivamente sócios, o investimento em festas de grande porte, a prestação de variados serviços e o surgimento de mais vagas nas ´escolinhas´ de esporte são algumas das novidades para ´sair do vermelho´.

"Falta um pouco de ousadia, modernização dos espaços para conquistar, principalmente, os jovens. A sociedade ainda acha os clubes muito fechados, nosso desafios é abrir sem, no entanto, perder a qualidade. Viver somente da mensalidade dos sócios é difícil, por isso estamos sempre realizando eventos públicos. Essa é a nova estratégia", relata.

Prestes a completar 64 anos de existência, o Círculo Militar de Fortaleza tenta unir tradição e inovação. Se sustentando principalmente dos bailes dançantes e aulas, o local é frequentado por aqueles que guardam saudade dos velhos tempos. "Com ou sem crise, as pessoas frequentam os clubes à procura de amigos, de felicidade", finaliza o atual presidente, comandante Pereira.

40% do Clube Náutico serão arrendados para evitar crise

Apesar das estratégias de sobrevivência, da tentativa de voltar aos velhos tempos auge, o desafio da tão sonhada sustentabilidade financeira da maioria dos clubes sociais não parece fácil e ceder uma parte dos bens se tornaria necessário, urgente.


Ainda há incerteza quanto ao local do trecho arrendado, porém o mais provável é que possa atingir o ginásio e parte da piscina olímpica FOTO: NATINHO RODRIGUES

Com parte do terreno já cedido para duas lojas, o Náutico Atlético poderá perder 40% do atual terreno, disponibilizando cerca de um hectare para locação. Ainda há incerteza quanto ao local do trecho arrendado, mas o mais provável é que possa atingir o ginásio e parte da famosa e tradicional piscina olímpica.

A negociação, no entanto, ainda está em andamento, terá que passar pelo aval da maioria dos sócios. Hoje, o clube tem um pouco mais de três mil pagantes, já chegou a ter, segundo o atual presidente, Pedro Jorge Medeiros, nos anos 80, mais de 20 mil.

"Toda essa queda de sócios e o alto custo de manutenção dos equipamentos tem nos forçado a pensar no futuro", diz o gestor. Segundo ele, a abertura de mais vagas nas ´escolinhas´, instalação de uma academia, realização de grandes festas são grandes "cartas na manga" para tentar hoje quitar a dívida de mais de R$ 15 milhões de tributos. Ele apela, ainda, para maior compreensão do poder público e sugere, inclusive, isenção de taxas.

Preocupação

Para a responsável pela Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), Clélia Monastério, qualquer intervenção nesse famoso cartão postal - que é um bem tombado - é preocupante. "Os gestores do Náutico não podem mexer em nada na fachada. Não podemos deixar descaracterizar o local, deixar esse local se acabar", diz.

Em meio a notícias tristes, o presidente da Associação Atlética de funcionários do Banco do Brasil (AABB) Clube, Marcos Tavares, traz uma boa nova. Com o fechamento da sede tradicional, a gestão anuncia, ainda para esse mês, o começo das obras da nova sede, na Barão de Studart. "Estamos empolgados e os nossos antigos sócios com saudade", finaliza Jorge Medeiros.

Déficit

15 milhões de reais é a dívida do Náutico Cearense, com impostos e tributos. O presidente apela para compreensão dos gestores públicos e até isenção fiscal

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Clubes têm vida, colaboram com a dinâmica social

Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez)
Pesquisador e memorialista

Quase todos os clubes sociais mais tradicionais de Fortaleza desapareceram, restando hoje apenas o Náutico e o Ideal. Entretanto é bom lembrar que eles, até os dias atuais, ainda têm colaborado intensamente com a nossa cultura dando guarida a associações, promovendo exposições, fazendo lançamentos de revistas e de livros, elegendo Misses, Rainhas, Princesas, Rei Momo, etc. São tidos como espaços da memória e do cotidiano da cidade.

Além do lazer que eles proporcionaram e proporcionam aos sócios, contribuem ainda para o aprimoramento dos contatos sociais, promovendo hoje encontros entre pessoas e dando apoio a reuniões de outras agremiações como associações, clubes outros, como o Rotary e o Lions.

Na cronologia histórica dos clubes sociais temos como destaque, em 1867, o surgimento, em Fortaleza, do Clube Cearense, próximo ao Passeio Público, que parece ter sido o primeiro clube social dessa cidade.

A partir dele, outros foram entrando em cena como o Reform, o Democrático e, em 1884, o Clube Iracema, que foi o de vida mais longa até hoje, passando por várias sedes até juntar-se ao Clube dos Diários e morrer.

Já em 1913, por exemplo, é criado o Clube dos Diários, seguido em 1914 da União Recreativa. Em 1923 da União Síria e a União Libanesa que resultou no Clube Líbano-Brasileiro. O Náutico Atlético Cearense surge em 1929. Em 1931 surge o Ideal Clube, nas Damas, que logo inaugura sua sede de praia e que terminaria como sede principal e única. Em 1946, surge a sede social do Clube Maguari.

A partir do final dos anos 40 do século XX, proliferam os clubes sociais na cidade, quando cada bairro tem seu clube, chegando a cidade a ficar conhecida como a cidade dos clubes. Surgem, também, os clubes dos representantes de municípios cearenses como o do Centro Massapeense e do Quixadaense.

Durante essa moda de clubes surgem, também, o Comercial Clube, o Ícaro, o General Sampaio, o Marajaig, o Suerdick, o Luxor, o Tiradentes, o Vila União, o Romeu Martins, SECAI, Santa Cruz, a América, o Clube Regatas Barra do Ceará e muitos outros.

Apareceram, também, os clubes de agremiações como BNB e AABB.

IVNA GIRÃO
REPÓRTER

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