Chance de óbito em acidentes com motos é 197 vezes maior

Os usuários de moto estão mais vulneráveis por não possuirem proteção frontal ou lateral

Escrito por Nícolas Paulino - Repórter ,

Quem se desloca de ônibus tem 114 vezes menos risco de sofrer lesão e 197 vezes menos chances de vir a óbito em casos de acidentes, em comparação com condutores ou passageiros de motocicletas ou motonetas. O risco relativo de lesão no trânsito entre os modais consta no Relatório Anual de Segurança Viária de Fortaleza 2017, elaborado através de parceria entre a Prefeitura e a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global.

Dos mais de 15 mil feridos no trânsito no ano passado, 57% estavam em motos, e apenas 1,4% era passageiro de veículos quatro rodas - categoria que, além de ônibus, também inclui automóveis. Em igual período, 127 usuários de moto perderam a vida nas ruas e avenidas da Capital cearense, contra apenas sete passageiros de veículos com quatro rodas.

Além disso, em relação ao ônibus, o ocupante de um automóvel tem quatro vezes mais chances de se lesionar e 10 vezes mais de morrer; o pedestre 26 vezes mais probabilidade de sofrer dano físico e 91 vezes mais chances de vir a óbito. Já o ciclista corre 34 vezes mais riscos de lesões e 77 vezes mais chances de morte.

Segundo Flávio Cunto, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (DET/UFC), o usuário de moto está mais vulnerável por não possuir proteção frontal ou lateral.

Segurança

"Exceto pelas vestimentas, ele está em contato direto em casos de colisão", explica o especialista. Já os usuários do ônibus "têm segurança maior porque as velocidades tendem a ser bem menores". Apesar de mais resguardado, o passageiro não está totalmente protegido. No último dia 10 de setembro, Thaís Silva de Almeida, de 27 anos, morreu após um ônibus colidir com um caminhão na Avenida Alberto Craveiro, no bairro Passaré. Ela amamentava a filha, uma criança de três anos, quando percebeu que haveria a colisão. Ela jogou a filha para um homem dentro do ônibus e faleceu ainda presa às ferragens.

Para o secretário-executivo da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Luiz Alberto Sabóia, fatores comportamentais também devem ser levados em consideração, como o fato de alguns motociclistas aliarem a velocidade a manobras perigosas e à alcoolemia. "Já os motoristas de ônibus são profissionais treinados que dirigem veículos monitorados e, via de regra, obedecem às regras do trânsito", aponta.

Flávio Cunto esclarece que, embora recomendado, o uso do cinto de segurança em ônibus não é obrigado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O documento descreve que não há exigência nas linhas urbanas em que se é permitido viajar em pé. Para o professor, a grande rotatividade nos veículos é outro empecilho para a utilização dos equipamentos.

Em Fortaleza, mais de um milhão de passageiros de ônibus são transportados por dia útil, de acordo com a SCSP. A frota de 2.146 ônibus, distribuída em 328 linhas, percorre mais de 430 mil quilômetros diariamente. A cidade conta, hoje, com 107,4 km de faixas exclusivas para os veículos.

INFO

Ganho

Segundo a Prefeitura, esses equipamentos solucionaram pontos críticos de congestionamento e aumentaram a velocidade operacional (considerando as paradas) dos ônibus, em algumas vias. Na Av. Santos Dumont, por exemplo, o ganho foi de 207% - passando de cerca de 4,4km/h para até 20km/h - e, na Dom Luís, de 143%.

Conforme Luiz Alberto Sabóia, a priorização do ônibus também proporciona maior previsibilidade do tempo de viagem, através de aplicativo, e mais conforto, com Wi-Fi e ar-condicionado. "Após a implantação do Bilhete Único, superamos o recorde de passageiros que era de 1996. A crise econômica levou a uma pequena queda, mas cremos que em breve haverá um retorno dos usuários", aposta.

Outro incentivo ao modal será aplicado no Centro da cidade. Novas faixas exclusivas serão implantadas nas ruas Dr. João Moreira e Castro Silva e nas avenidas Imperador e Duque de Caxias. A expectativa da Prefeitura é que parte das intervenções comece em novembro e outra em janeiro, com pausa para o período natalino, quando o Centro fica mais movimentado. Segundo a SCSP, mais de 300 mil usuários do transporte público circulam pelo bairro, diariamente.

Redimensionamento

O professor Flávio Cunto reconhece como positivas as intervenções para valorização do transporte público na cidade, mas avalia que ainda é preciso avançar na integração do ônibus com a Linha Sul do Metrofor e com o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e no redimensionamento do percurso de algumas linhas.

"Mesmo com o Bilhete Único, as linhas são dimensionadas para o antigo sistema baseado em terminais. A pessoa ainda faz muito o chamado 'percurso negativo', fora da sua rota de destino", afirma Cunto. Uma opção seria o uso de bicicletas, mas apenas para trajetos de, no máximo, 7km. "Para ônibus, não há uma distância máxima, mas quando começamos a fazer muita integração, não conseguimos otimizar o percurso".

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