CE tem menor taxa do Nordeste de alunos fora da faixa escolar

Em 2016, a taxa de distorção idade-série no Ceará era 29,2%. No ano passado, o número caiu para 27,6%

Escrito por João Lima Neto - Repórter ,

As taxas de alunos com idade inadequada no Ensino Fundamental e Médio caíram no Ceará, apontam indicadores do Censo Escolar 2017 divulgados na última segunda-feira (2), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em 2016, no Ensino Médio, eram 29,2% dos alunos. No ano passado, o número foi de 27,6%. No Ensino Fundamental, o número caiu de 15,9% para 14,8%. Entre os estados do Nordeste, o Ceará tem o menor número da região. Já no Ensino Médio, o Estado perde apenas para Pernambuco, se posicionando em segundo lugar com 27,6%.

Atualmente, em nível nacional, do 1º ao 8º ano, o Estado se posiciona em 22º lugar. Já no 1º ao 3º do Ensino Médio, ocupa a 18ª colocação. Em comparação nacional, no Ensino Fundamental analisado em 2017, o Ceará se posiciona abaixo dos estados do Pará, Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins e Maranhão, respectivamente. Já no Ensino Médio, o Estado fica abaixo do Pará, Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe, Amazonas, Piauí, Maranhão, Alagoas, Paraíba, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Tocantins, Acre e Roraima.

O 7º ano do Ensino Fundamental e o 1º ano do Ensino Médio são as séries que apontam maiores mudanças. Iana Nobre, coordenadora de Gestão Pedagógica da Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), explica que o Estado está realizando o que eles chamam de "correção de fluxo", por meio de ações com professores e disciplinas que vão além do Português e Matemática. "A gente vem trabalhando com diferentes gestões estaduais e municipais. Temos um grupo com 10 anos de atuação para corrigir esse problema, período quando houve a implantação das escolas de Tempo Integral. A educação integral acabou ajudando na correção do fluxo", explica a educadora.

A coordenadora explica que dentro do currículo, desde 2008, as escolas trabalham além das habilidades cognitivas. "Isso fez com que eles fizessem projetos de vida e abrissem perspectivas de futuro. Hoje, o aluno quer ficar na escola. Com o tempo, isso foi amadurecendo na pratica pedagógica da rede como um todo. Hoje, temos alunos mais centrados que chegam no Ensino Médio na idade certa e cumprem o ciclo sem grandes problemas", explica.

Sala

Uma das ações para aumentar o vínculo dos alunos com as escolas foi a criação de um cargo de "diretor" por sala de aula, explica a coordenadora pedagógica da Seduc. "Tem um trabalho sendo feito no Ensino Fundamental. Os alunos estão concluindo os dois fluxos de forma correta. Os professores são importantes nesse caminho. Com ajuda de um professor do Ensino Médio, os alunos do Ensino Fundamental têm um acompanhamento educacional e emocional". O professor elabora dossiês sobre os estudantes e, no dia a dia, mantem contato com os pais deles sobre o andamento nos estudos na instituição de ensino. "Nossa ideia é personalizar e desmassificar o atendimento nas escolas. O aluno não é um número, ele tem uma identidade", conta Iana.

No Ensino Médio, os educadores vêm aplicando uma política de desenvolvimento de competência socioemocional. "Temos uma carga horária de quatro horas semanais com os alunos sobre assuntos psicossociais e emocionais. Também trabalhamos com o Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais. Eles realizam pesquisas cientificas em nível escolar, o que abre a cabeça para os cursos de graduação", finaliza a coordenadora.

Mudança

Apesar dos dados positivos, o doutor em educação Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, explica que o desafio ainda é grande quanto as distrações dos jovens, principalmente nos que dão entrada no 7º ano do Ensino Fundamental e no 1º ano do Ensino Médio. "Temos uma realidade complicada. O aluno do 7º ano é adolescente. Quer ter renda e, às vezes, tem essa obrigação em casa. Já os do 1º ano seguem a mesma linha, só que com outros atrativos sedutores que podem dar subsídios para comprar o que querem, como o tráfico de drogas", analisa.

"Essa é uma luta que a educação brasileira vem travando há muito tempo. O trabalho do Estado é ofertar acesso e ter permanência. O Brasil está perdendo essa luta. No Ceará, especificamente, tivemos uma série desastrosa na época do tele ensino. Depois disso, o governo veio acertando tanto nos municípios e no Estado como um todo. O que percebemos é o início da colheita por meio desses resultados. Temos escolas ranqueadas como as melhores do País. Estão implantando nelas o tempo integral e a profissionalização. A redução reflete que quando as políticas são feitas corretamente os resultados aparecem. Estamos colhendo políticas dos últimos três governos", finalizou.

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