Av. Beira-Mar pode ser fechada aos domingos

Seria um dos projetos em estudo para aplicação no rol de alterações a partir da requalificação da via

Escrito por Márcio Dornelles - Repórter ,

A revitalização de um espaço público passa mais pelas pessoas que pela estrutura física, levantada por caminhões, tratores e outros maquinários pesados. É ocupando ruas, praças e calçadões que se percebe a leveza e vitalidade de uma cidade e a graça do seu cotidiano. Muitas reformas são geradas por demanda, como acontece, há décadas, na Avenida Beira-Mar. A mais nova requalificação prevista para o espaço, a ser iniciada no segundo semestre de 2018, deve trazer também uma mudança na rotina dos frequentadores, que poderão usufruir da via aos domingos, sem precisar dividi-la com motocicletas, carros e ônibus.

A possibilidade de restringir o tráfego de veículos motorizados na orla foi revelada por um representante da Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza, durante o 2º Workshop de Jornalismo em Segurança Viária, promovida pela Prefeitura, em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, na última quinta-feira (17). Seria um dos projetos em estudo para aplicação no rol de alterações a partir da requalificação. A via completa ou o trecho a ser liberado para pedestres e ciclistas, por exemplo, não estaria definido.

O projeto agrada ao engenheiro civil Mário Azevedo, professor do curso de Engenharia de Transportes da UFC. Ele acredita que uma eventual mudança na Avenida Beira-Mar não prejudicaria o trânsito da cidade, uma vez que o movimento é baixo na região. "Alguém vai reclamar de não poder estacionar na praia, mas acho bem-vindo por criar um espaço para as pessoas caminharem, andarem de bicicleta", diz. O professor Azevedo, doutor em Engenharia de Transportes, acrescenta que os motoristas poderiam fazer uso das ruas laterais e a própria Avenida Historiador Raimundo Girão. "As pessoas vão aprendendo a usar outras formas, ou deixam carro em lugar distante e vão a pé. É importante. Eu sou a favor. Acho que não tem prejuízo à circulação."

Exemplos

Servem de exemplo para o fechamento da via iniciativas de sucesso no país e fora dele. Atualmente, a Avenida Paulista, em São Paulo, e a Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, são apenas dois casos onde a população se apropria do espaço para o lazer e a cultura. A famosa Avenida 7, ou "Carrera Séptima", em Bogotá, na Colômbia, com forte apelo histórico, cultural e empresarial, é exemplo internacional de avenida restrita à população e turistas aos domingos.

Entusiasta e reclamante antigo, o coordenador do Movimento Amigos da Beira-Mar, Tadashi Enomoto, diz que os benefícios do espaço seriam imensuráveis para crianças, adultos e pessoas idosas, sem a preocupação em dividir espaço com veículos na rua. "Ia ser uma grande área de lazer, pelo menos aos domingos, até meio-dia. Eu acho importante o Governo participar disso, principalmente a Prefeitura. Fechar esses três ou quatro quarteirões, depois vai ampliando, à medida das possibilidades", sugere.

Tadashi explica que se trata de uma reivindicação antiga, de meados de 2008, ignorada por secretários de outras gestões.

A consultora de turismo Valéria Lopes, 33, foi abordada pela reportagem no momento em que devolvia uma bicicleta pública na estação do Projeto Bicicletar, em frente à feirinha da Avenida Beira-Mar. "Acho que (melhora) para pedestre e ciclista, principalmente", reconhece a jovem, que mora há 7 meses em Fortaleza e passa diariamente pela via.

Opinião semelhante a dos porteiros Jeová dos Santos e Eudes Lima. "Faço caminhada, ando de bicicleta. Já aconteceram alguns acidentes inclusive em faixas de pedestres. Poderia ser uma boa", disse o primeiro. "Quando eu a conheci, ainda era na piçarra, era pouco tráfego de veículos. Hoje tem fluxo grande de veículos, pedestres, visitantes, festas, propagandas, enche tudo", complementou Eudes.

Prefeitura

A Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza informou que as mudanças estão sendo estudadas e que todos os detalhes sobre as obras de requalificação da Avenida Beira-Mar serão divulgadas futuramente.

O engenheiro Mário Azevedo tem um bom argumento para a restrição de veículos na via. "Aí as pessoas vão se atentar para o fato de que, mesmo sem carro, também são donas da rua", diz.

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