'A melhor forma de resolver é pela via técnica e política'

Confira entrevista com Romeu Duarte, professor e chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC

Escrito por João Lima Neto - Repórter ,

O que diz a Lei sobre a proteção desses prédios?

O tombamento garante ao prédio manutenção e preservação perene. A gente observa que, na prática, isso não acontece. Muitas vezes, existe omissão em não ser alocar recursos por parte dos poderes públicos e por parte dos proprietários. Como não existe uma política clara de preservação, os bens ficam à mercê do tempo e das intempéries. Vão se estragando. Com isso, se descaracterizam e desaparecem com o arruinamento. Em Fortaleza, o que acontece, principalmente, por indefinição de uso, é o desaparecimento de patrimônios. O Conjunto Maria Jesus José, por exemplo, está em processo de arruinamento, além de ter sido invadido.

A que você atribui o atraso de intervenções?

Falta uma definição política. Existe uma série de funções e atividades que poderia existir nesses edifícios. Deveria ser definida em três níveis, de maneira que se evitasse o fim dos prédios. A ausência de políticas é o que acaba ocasionado esse arruinamento. Outro exemplo é o Farol do Mucuripe. Poderia servir como âncora de resgate para aquela comunidade, mas segue em abandono. Em âmbito Federal, a antiga sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), o Solar Carvalho Mota, também não têm definição de uso. O Iphan chegou a fazer obra, mas uma casa vazia se acaba com facilidade. Nesta semana, vimos o governo do Estado assinar uma ordem de serviço para a construção, no Museu da Imagem e do Som, um anexo de R$15 milhões, quando nós temos vários edifícios que estão em má situação.

Como você analisa intervenções de segurança e climatização?

Eu vejo tudo isso com muita tristeza. Parece que, se tivéssemos uma decisão por parte dos poderes, com relação ao cuidado técnico e organizado, por parte dessas instituições com relação a esse acervo, seria a melhor forma de preservar. Por exemplo, eu não entendo como a Arquidiocese de Fortaleza não possui um arquiteto para resolver os problemas de manutenção do acervo deles. O que se nota são essas intervenções como a instalação de sons e mesas de comunhão sem projeto de ambientação e valorização dos elementos. Resultado, acaba virando uma bagunça desordenada. Sempre é feito de maneira improvisada, o que desvaloriza os espaços de artes e a boa arquitetura.

O que deve ser feito de imediato nos prédios tombados?

A melhor forma de resolver é pela via técnica e política. Na política é definido o que deve ser atendido urgentemente, em médio e longo prazo. Para isso, são necessários recursos. Para esses recursos atenderem a esse cronograma político, é preciso projeto, birôs técnicos, engenheiros e economistas, além das definições de uso. Falta alguma de sensibilidade com o patrimônio para que ele faça parte do cotidiano da vida as pessoas de uma maneira repaginada. O Patrimonio precisar exercer sua função principal de socialização. É preciso, ainda, uma atenção sobre as licitações. Se joga diversos programas na mão de pessoas que não conhecemos. Essas oportunidades precisam ser compartilhadas para um maior número de pessoas. Em Fortaleza, se nota muito o repasse desses projetos para pessoas específicas.

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