98% das vítimas de trabalho escravo resgatadas são homens

Os dados foram revelados na publicação do estudo "Trabalho Escravo no Ceará do Século XXI"

Escrito por Redação ,

O Ceará teve 667 profissionais resgatados de situações de trabalho degradante entre os anos de 2007 a 2017, em 71 dos 184 municípios cearenses. Dentro desse número, os homens foram 98,2% das pessoas atingidas. Os dados fazem parte do estudo "Trabalho Escravo no Ceará do Século XXI", que foram apresentados, ontem, pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), em parceria com a Coordenadria Especial de Políticas Públicas de Direitos Humanos e o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT).

O estudo revelou que a faixa etária mais atingida foi de adultos entre 30 e 39 anos. Solteiros (49,55%) e trabalhadores com Ensino Fundamental I incompleto (41,4%) foram outras características destacadas.

O analista de mercado de trabalho do IDT, Erle Mesquita, destacou as circunstâncias mais comuns que resultam nessa conjuntura. "São casos onde os trabalhadores muita vezes são colocados em servidão por conta de dívidas e em situações insalubres, o que atinge também a questão da dignidade humana", revelou o analista que também pontuou que "por conta da fragilidade econômica dos municípios, os trabalhadores acabam enfrentando esses trabalhos bastante degradantes".

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Região Norte

O município que apontou o maior número de trabalhadores resgatados foi Granja, localizado a 300km de Fortaleza, com 160 profissionais libertados, o que representa 2/3 do total. Cidades da Região Norte, no entorno de Granja, como Uruoca (22), Martinópole (20) e Viçosa do Ceará (16) também apareceram entre as dez principais localidades do estudo. A situação vai de encontro ao senso comum que acredita que a maior parte dos profissionais explorados são imigrantes e/ou estrangeiros.

Outra questão relacionada à regionalidade exposta no estudo é a origem das pessoas libertas. A publicação revelou que oito a cada dez profissionais resgatados nasceram na cidade onde eram explorados. Em Granja, nove a cada dez profissionais resgatados são naturais da própria cidade. Uruoca e Morrinhos contabilizaram que 100% dos profissionais postos em liberdade são naturais do Município.

O secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social, Francisco Ibiapina comentou que os dados são úteis para a elaboração de políticas públicas a longo prazo para prevenir e monitorar situações potencialmente problemáticas. "A partir da identificação dos locais onde ocorreram os registros do trabalho escravo, bem como o perfil do trabalhador encontrado nessa situação, nós podemos avaliar quais são aquelas ações mais prioritárias, como o amparo pela rede socioassistencial e a qualificação profissional destinada e focada para essas áreas, no sentido que um trabalhador capacitado não está sujeito ao trabalho escravo", revela Francisco Ibiapina.

Dimitri Cruz, titular da Coordenadoria de Direitos Humanos do Governo, comenta a dificuldade em abordar o tema devido a uma questão social relacionada ao mercado de trabalho. "É um tema muito delicado porque boa parte da população entende que qualquer tipo de trabalho, mesmo os mais degradantes e humilhantes, devem ser valorizados", revela o coordenador. Cruz destaca ainda que outro empecilho à prevenção do trabalho escravo é que só é possível "identificar a realidade quando há o flagrante. Por isso é importante difundir e dar visibilidade ao tema", completa o coordenador.

Capacitação

A STDS lança, amanhã (6), o programa "Criando Oportunidade" versão 2018. A iniciativa conta com 20 mil vagas de capacitação profissional distribuídas por todo o Estado.

O público-alvo envolve mulheres chefes de família registradas no Cadastro Único, não necessariamente que recebam Bolsa Família, desempregados em geral, jovens à procura do primeiro emprego e autônomos. "Buscamos atingir aqueles que estão em vulnerabilidade em relação ao mercado de trabalho, seja por baixa escolaridade ou falta de capacitação", explicou Ibiapina.

Os cursos são intensivos e práticos para que as pessoas possam obter as vagas no mercado de trabalho formal.

(Colaborou Samuel Pinusa)

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