142 ônibus da CTC seguem com destino indefinido

Após 14 anos do fim da circulação dos veículos, os bens continuam parados aguardando decisão da Justiça

Escrito por Thatiany Nascimento - Repórter ,
Legenda: Ônibus estacionados no Pátio da AMC, no bairro Cidade dos Funcionários
Foto: FOTO: HELENE SANTOS

A sede da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), localizada no antigo prédio da Companhia de Transporte Coletivo (CTC), no bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, ainda abriga 142 ônibus da CTC. A empresa de economia mista, que teve a Prefeitura como a principal acionista, chegando a deter até 99% das ações, parou de atuar no transporte público da Capital em julho de 2004.

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Passado todos esses anos, o destino dos veículos é incerto, pois, segundo a Prefeitura, estão penhorados em processos judiciais. Portanto, até que haja uma decisão da Justiça, os veículos, que já foram bastante utilizados nas linhas urbanas da Capital, não podem ser leiloados ou transferidos, nem terem as peças comercializadas.

Criada em 1964 e com início de funcionamento efetivo em 1967, a CTC é conhecida como a única empresa pública que atuou com o transporte de passageiros na Capital. Ela ainda existe juridicamente, mas conforme a Secretaria de Conservação e Serviços Pública (SCSP), não possui receita e negociações estão em curso para a liquidação da empresa. A atual gestão da Prefeitura alega que as demandas judiciais que resultaram na penhora dos ônibus foram ações movidas em gestões anteriores.

Céu aberto

Os veículos seguem estacionados em um terreno fechado, mas a céu aberto. A SCSP, por meio de nota, disse ainda que, por estarem estacionados em local em que é possível limpeza e dedetização, a administração entende que o pátio da CTC é adequado para a permanência dos carros enquanto não forem resolvidas as pendências judiciais.

Os serviços de limpeza, informa a nota, são rotineiramente efetuados em parceria com a AMC e a SCPC. Os órgãos contam também com a ajuda da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), através das equipes de endemias. A Secretaria esclarece que não há ônibus de propriedade da CTC estacionados em outros locais de Fortaleza.

Transporte escolar

Embora os ônibus da CTC tenham parado de circular no transporte coletivo em 2004, no ano seguinte, na gestão da prefeita Luizianne Lins, pelo menos, 40 desses veículos começaram a operar com o transporte escolar da rede municipal. Mas o contrato foi encerrado em 2013.

Tendo em vista que, mesmo após o encerramento das atividades, parte desses veículos circulou até 2013, a reportagem questionou a Secretaria Municipal de Educação (SME) se seria possível, assim como já ocorreu em gestões passadas, utilizá-los com esta finalidade. Em resposta, a Prefeitura informou que hoje a SME tem uma frota com 70 veículos que atende à demanda de transporte escolar, contemplando 11.998 alunos, abrangendo toda as Regionais da cidade de Fortaleza.

História

O integrante do Movimento Organizado de Busólogos do Ceará (MOB-CE), Ismael Bernardino, relata que, para os apreciadores de veículos, a situação dos ônibus é motivo de tristeza. "Eu gosto da CTC desde pequeno. Via os ônibus rodando e a funcionalidade deles. Como pode chegar a uma situação dessa?". De acordo com ele, os busólogos conseguiram acompanhar a situação dos veículos até o ano de 2013. Depois disso, o acesso ficou mais restrito. Os ônibus mais antigos da CTC, conta o busólogo, são do ano de 1978.

Quando a frota foi deixada no local que se encontra atualmente, de acordo com Ismael, havia dois veículos do ano de 1978. Outros dois, relata ele, eram de 1982 e os demais foram adquiridos entre 1992 e 1998. Quando encerrou a circulação, a CTC, segundo o busólogo, contava com quatro ônibus articulados, que foram os primeiros do tipo rodarem em Fortaleza, nos anos de 1989 e 1990.

A CTC, conforme Ismael, também tem o mérito de ter sido uma empresa "pública" inovadora, pois, teve os primeiros ônibus 100% elétricos de Fortaleza, que operaram entre 1967 e 1971 da Parangaba ao Centro e do São Gerardo ao Centro. "Foi uma empresa que marcou muito a história, mas sofreu com as diferenças na gestão pública. A trajetória dela teve diversos picos de inovação e excelência. Chegou a ser uma empresa pública a ter lucro", explica.

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