1.183 ciclistas se acidentaram em 2017

Apesar do número elevado, foram menos 15% de atendimentos em relação a 2016, que teve 1.385 registros

Escrito por Nícolas Paulino - Repórter ,
Legenda: Segundo a SCSP, Fortaleza tinha 68,2 km de rede cicloviária ao fim de 2012; hoje, conta com 225,5 km da infraestrutura

A malha cicloviária de Fortaleza tem crescido ano a ano, conforme a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP). Com esse incremento, cresce também a disputa por espaço entre os veículos. E, nessa equação, quem costuma pagar o preço é o mais frágil. Em 2017, segundo levantamento do Instituto Doutor José Frota (IJF), 1.183 ciclistas sofreram algum sinistro, uma média de 98 acidentados por mês e de três por dia. Apesar de alto, o número sofreu redução em relação aos anos anteriores.

Foram menos 15% de atendimentos comparados a 2016 (1.385), menos 7% em relação a 2015 (1.270) e menos 16% (1.406) se confrontado a 2014. Segundo o IJF, a principal causa dos acidentes com ciclistas é a queda ou capotamento sem colisão, causadas por problemas mecânicos ou de trajeto: foram 592 casos em 2017 ante os 754 de 2016. Em segundo lugar, vieram as colisões com carros - foram 260 no ano passado contra 304 em 2016. Em terceiro, ficaram as colisões com motos, com 237 acidentados.

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As estatísticas da unidade, referência regional no socorro às vítimas de traumas de alta complexidade, também revelam que, dos 15.023 atendimentos por acidentes de trânsito, os ciclistas estavam envolvidos em 7% deles. Entre os atendidos moradores de Fortaleza, eles representam 9,09% das vítimas. Já dos pacientes oriundos do Interior, são 6,3%.

"Os ciclistas já chegaram a ocupar a terceira posição entre as ocorrências. Mas observamos que, apesar de termos um número de usuários maior, a adoção de vias adequadas tem trazido mais segurança", analisou o superintendente adjunto do IJF, Osmar Aguiar, durante apresentação do balanço de atividades da unidade, no fim de março.

Conforme outro balanço divulgado neste ano, pela Prefeitura de Fortaleza, a cidade contabilizou 256 mortes no trânsito, em 2017. Das vítimas, 19 (7,4%) eram ciclistas - o terceiro perfil que mais morre nas ruas da metrópole, atrás dos usuários de motocicletas (pilotos e garupeiros) e de pedestres. No ano anterior, foram registrados 23 óbitos de ciclistas e, em 2015, 16.

Segundo a SCSP, Fortaleza tinha 68,2 km de rede cicloviária ao fim de 2012; hoje, conta com 225,5 km da infraestrutura: 101,5 km de ciclovias, 120 km de ciclofaixas, 3,9 km de ciclorrotas e 0,1 km de passeio compartilhado. Os trabalhos de implantação desses espaços são coordenados por meio do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito de Fortaleza (Paitt). Contudo, a estrutura física precisa ser acompanhada pelo bom uso, apontam usuários das bikes ouvidos pela reportagem na ciclofaixa da Av. Antônio Sales. A presença das magrelas na via é constante, montadas por homens e mulheres, estudantes, atletas e trabalhadores. Porém, ainda são poucos os que utilizam equipamentos de proteção, como capacetes e cotoveleiras.

Um deles é o frentista Manuel Duarte, que utiliza a bicicleta diariamente há oito anos. Apesar da vulnerabilidade, ele diz que nunca se envolveu ou presenciou um acidente enquanto pedalava. "Acho que tudo se resume à questão do respeito", afirma.

Para Daniel Neves, um dos diretores da Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida), é preciso que sejam feitas campanhas educativas com motoristas de carros e veículos grandes, como ônibus e caminhões, e a adoção de fiscalizações mais efetivas. "Notamos que tem melhorado o respeito das estruturas cicloviárias por iniciativa de movimentos de mobilidade e das bikes compartilhadas da Prefeitura, mas ainda vemos muito desrespeito", avalia.

Mesmo sentido

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) define que, em locais que não há ciclovias, ciclofaixas ou acostamento, as bicicletas devem circular no mesmo sentido dos outros veículos e têm preferência sobre os demais. Também está previsto, sob pena de infração ou multa em caso de descumprimento, que o motorista precisa manter distância lateral de 1,5m ao ultrapassar uma bicicleta e reduzir a velocidade ao fazer isso.

Além da boa convivência no trânsito, a Ciclovida cobra, da Prefeitura, reparos em ciclovias e ciclofaixas antigas, como as da avenidas Bezerra de Menezes e Humberto Monte, que "estão abandonadas e recebem até lixo". Além disso, pede a instalação de malha cicloviária em bairros como o Centro e uma maior integração entre as estruturas já existentes.

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