Tom Barros: Um gigante na grande área

Saudade. Um adeus a Argeu dos Santos, que vi atleta nos bons tempos do Vasco da Gama no Rio de Janeiro. Ali ele brilhou intensamente. Depois, tive a oportunidade de acompanhar de perto sua trajetória no Ceará. O zagueiro capitão. O Argeu campeão. Os títulos cearenses pelo Ceará em 1984 e 1986 tiveram a marca de sua eficiência. Na área um gigante, quase imbatível no jogo aéreo. No Ceará ele passou sete anos. Marcou época. Continuou gigante no Fortaleza, honrando a tradição de zagueiros notáveis como Zé Paulo e Pedro Basílio. No Pici colecionou mais dois títulos de campeão cearense: o bicampeonato tricolor 1991/1992. Após passagens por Ferroviário e Tiradentes, encerrou a carreira no Quixadá em 1995. Abraçou a função de treinador. Exatamente na nova missão experimentou um dos momentos mais emocionantes de sua vida: ganhou o Troféu Verdes Mares, eleito treinador do ano 2013. Testemunhei a grande alegria dele naquele dia. Argeu estava radiante. Era o reconhecimento público. O aplauso coletivo numa noite de gala. Argeu desfilou elegância, vestido num terno impecável. Na época dirigia o Guarany de Sobral. Finalmente, sob os holofotes da fama, coroado seu trabalho. Antes, ele já treinara times grandes como Fortaleza (1997) e Ferroviário (1998 e 2002). Nos anos mais recentes, a dor, o sofrimento e a luta contra doença incurável. Esta batalha o gigante Argeu começou a perder. E perdeu. Mas, como legado, a imagem de um vencedor. Um homem que soube encarar a vida com dignidade e altivez. Guardarei de Argeu as melhores lembranças.

Criança atrás da bola

Velho ditado. Quantas vezes dito e quantas vezes esquecido. Daí atropelamentos. A bola é o aviso: vem criança depois. E vem correndo. Motorista, cuidado. Bola é encanto. Neymar cedo a descobriu. Assisti a um vídeo de Neymar criança, já com os sinais de craque na ginga, no drible, no gol. Hoje craque consagrado.

Rei menino

Quando Pelé, o Rei, era criança, não havia as facilidades dos vídeos e celulares para documentar seus malabarismos com a bola. Vê-lo criança com a bola foi privilégio de poucos. Lamentavelmente, não há registro de Pelé criança jogando futebol. O técnico Waldemar de Brito, descobridor de Pelé, não o viu quando criança. Já o viu pré-adolescente. Assim o menino Dico, depois apelidado de Pelé, foi levado para o time do Santos com apenas 15 anos de idade.

Dedicação

Na Vila Belmiro virou craque, ídolo, Rei. E daí reverenciado pelos gramados do mundo. Ganhou o bicampeonato mundial pelo Brasil, 1958/1962. O mundo sob seus pés. Em 1969, Pelé marcou seu milésimo gol. O Maracanã estava superlotado. O mundo todo voltado para aquele instante histórico. Pelé já Rei, inigualável na arte de jogar futebol. O milésimo gol veio na cobrança de um pênalti. O Maracanã explode em ovação ao melhor jogador de todos os tempos. Na comemoração, Pelé lembrou das crianças brasileiras e pediu que cuidassem bem delas. Apelo, pelo visto, olvidado.

Desídia

Os anos passaram. Grande parte das crianças brasileira não recebeu os cuidados devidos. Nem todas tiveram a sorte de um amparo como tiveram Neymar e Pelé. Resultado: hoje, tantos anos depois, os sonhos de muitas crianças viram pesadelo, ou seja, no lugar dos estádios, casas de correção. Fechado o tempo.

A bola e a bala

Volto ao velho ditado: atrás de uma bola sempre vem uma criança. Mas hoje, às vezes, vem uma bala também. E uma bala que pode ser disparada por uma criança. Os tempos mudaram. De Dico, que virou Pelé, aos dias presentes, os brinquedos são outros, outras as brincadeiras. Só a bola resiste porque é encantadora, é mágica, é bela. Nesta parte uma certeza: atrás dela sempre virá uma criança.

Crianças do mundo

Eu estava em Torino (Turim) na Itália na Copa de 1990. Vi numa praça crianças jogando bola. Parei. Falando português, pedi a bola. Elas, admiradas com meu idioma, pararam também. Chutei a bola. Elas riram. O sorriso das crianças é único: belo e inocente em qualquer lugar do mundo


Assuntos Relacionados