Técnico profeta e técnico milagreiro

Tom Barros

O futebol tem treinador turrão. Tem treinador fogueteiro. Treinadores de todos os tipos e para todos os gostos. Há o orador. O engraçado. Há o metido a modelo. Há o fanfarrão. No dia 23 de setembro passado, um fato interessante ganhou minha atenção. No jogo Grêmio 3 x 2 Ceará, em Porto Alegre, Renato Gaúcho e Lisca em campos opostos, claro. Jogo dramático. O Ceará duas vezes à frente no placar. O Grêmio em dificuldades. No final, porém, o gol de Luan, que garantiu a vitória gremista. Nas entrevistas, o técnico Renato Gaúcho, em tom incisivo, profetizou: “O Ceará não cai”. Aquela declaração dele repercutiu porque a competição estava ainda na 26ª rodada. Na ocasião, Renato foi mais profeta que treinador. Hoje, entendo que foi treinador e profeta ao mesmo tempo. Falou baseado na consistência que viu no Ceará. No Vozão o treinador Lisca que não é santo, mas obra milagre. O que ele fez no Ceará não encontra explicação nos conceitos conhecidos. Transformou em lutador, cheio de brio, um time antes aparvalhado, mambembe. Da zona maldita à classificação, um Lisca milagreiro, um doido ajuizado e competente. Fantástico. 

Admiradores
O trabalho do Lisca foi tão impressionante que ganhou aplausos até de torcedores do Fortaleza. O médico Chico Lopes, torcedor do Leão, sugeriu até que fosse erguida uma estátua de Lisca em Porangabuçu. Lisca está definitivamente inserido na história alvinegra, mesmo sem ganhar um título.


Treinadores
O futebol cearense foi marcado este ano pela participação importante de três treinadores, cada um submetido a desafios bem diferentes. Rogério Ceni foi fantástico porque conduziu o Fortaleza ao título inédito de campeão da Série B nacional e à ascensão para a Série A 2019. Marcelo Vilar conduziu o Ferroviário ao título inédito de campeão da Série D nacional e ao título de campeão da Taça Fares Lopes, com vaga na Copa do Brasil. Lisca manteve o Ceará na elite brasileira.


Sem título
O mais incrível de tudo: Lisca aplaudido, ovacionado, nos braços da torcida, verdadeiro ídolo em Porangabuçu, isso sem ganhar um título de campeão. Não ganhou um título sequer, mas, pela forma como evitou o rebaixamento do Vozão, valeu tanto quanto um título. Ou mais, muito mais. 

Pílulas

Após examinar o trabalho de Rogério Ceni, Lisca e Marcelo Vilar, quem será levado ao pódio como melhor técnico do futebol cearense em 2018? Na escolha, há que se levar em conta o grau de dificuldade de cada um nas respectivas séries. Na Série A, mais difíceis os obstáculos. Na B, menos complicado que na A. Na Série D, menores os desafios.

A votação para a escolha do técnico do ano terá de levar em conta as condições postas no tópico ao lado. Na Série A, são os maiores times do Brasil. Lisca conseguiu ficar entre os melhores. Na B, apesar de times que ficam num nível abaixo, o Fortaleza foi o campeão brasileiro numa campanha impecável. Solução salomônica é premiar os dois.