Rivais, Ceará e Fortaleza se unem por gestão compartilhada do Castelão

Modelo de negócio adotado provisoriamente prevê que a manutenção continue com Secretaria do Esporte e Juventude do Ceará e os clubes operem o Castelão somente nos dias de jogos

Imagine Corinthians e Palmeiras se unirem para formar uma empresa que administre o Pacaembu. Ou Atlético-MG e Cruzeiro deixarem a rivalidade de lado para, juntos, tomar conta do Mineirão. Pois é isso o que está ocorrendo no Estado do Ceará, com o estádio Castelão.

Desde dezembro, quando o governo estadual retomou a administração da arena, Ceará e Fortaleza, os dois maiores clubes do Estado e arquirrivais, resolveram fazer uma negociação em conjunto, nas mesmas condições para ambos, e estão operando catracas, bares e estacionamentos do estádio com uma única empresa nos dias de jogos.

O preço do aluguel é variável. Se o público for até 15 mil torcedores, 7% da arrecadação fica com o governo do Estado. Caso a partida registre mais de 15 mil torcedores, o porcentual sobe 10%. Com relação ao lucro obtido com bares e restaurantes, o porcentual que vai para os cofres públicos é de 20%.

Enquanto o processo de concessão do Castelão ainda será analisado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), o modelo de negócio adotado provisoriamente prevê que a manutenção continue com Secretaria do Esporte e Juventude do Ceará e os clubes operem o Castelão somente nos dias de jogos. Mas, quando a licitação for lançada - o que deve ocorrer no segundo semestre -, o projeto de Ceará e Fortaleza é criar uma empresa para participar da disputa pela gestão do estádio pelos próximos 20 anos.

"A rivalidade fica só dentro de campo. Fora, temos de ter estratégia. A ideia é que os dois clubes formem uma SPE (Sociedade de Propósito Específico)", disse o presidente do Ceará, Robinson de Castro. "A gente tem expertise na administração de jogos, portanto nada mais natural do que concorrer em conjunto nesta licitação", afirmou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

Assim, o Castelão pode se tornar o primeiro estádio público da Copa do Mundo de 2014 gerido por clubes de futebol. Reformada por R$ 518,6 milhões e utilizada também na Copa das Confederações de 2013, a arena foi administrada até o ano passado pela concessionária Luarenas. Com o fim do contrato, a Secretaria do Esporte e Juventude do Ceará partiu em busca de novos interessados em assumir o equipamento.

"Os clubes fizeram uma proposta, mas não teria legalmente como passar a administração do estádio direto para eles. Até o final de agosto o procedimento licitatório deve ser concluído. Enquanto isso, os clubes assumem a parte do quadro móvel do estádio nos dias dos seus jogos", explica o secretário do Esporte e Juventude, Rogério Nogueira Pinheiro.

A proposta do governo é que o Estado pague ao vencedor da concorrência prestações mensais de R$ 894 mil pelo período de 20 anos, totalizando R$ 214 milhões. Esses valores podem ser reduzidos conforme as propostas na licitação. Dentro do escopo da concessão, estão previstos investimentos, conservação e manutenção do estádio.

"A rivalidade não pode ser maior do que o profissionalismo. Os dois clubes têm abertura e maturidade suficientes para fazer esse tipo de negócio", diz o presidente do Fortaleza.

Este ano, Ceará e Fortaleza disputarão juntos a Série A do Campeonato Brasileiro pela primeira vez desde 1993. Com 38 rodadas do Nacional já agendadas para o Castelão (19 com mando de cada clube), a expectativa das diretorias é aumentar a média de público do estádio, que tem sido de aproximadamente 16 mil torcedores desde 2013.

"Algumas ações podem ser feitas em conjunto para o bem do futebol cearense e, consequentemente, dos clubes. Fechamos em conjunto, por exemplo, um mesmo patrocinador para os dois clubes Essa união deve, inclusive, refletir em uma cultura de paz entre as torcidas", aposta Marcelo Paz.


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