Madrigal ressuscita

13 anos depois, clube tricolor vai a novo julgamento nesta quinta e pode ser até excluído do Certame Cearense

Legenda: Atacante costa-riquenho foi o pivô do imbróglio jurídico do Estadual de 2002
Foto: FOTO: ARQUIVO

O assunto parecia estar apenas na esfera da Justiça Comum, mas ontem, veio à tona. O Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol no Estado do Ceará (TJDF/CE) vai julgar o Fortaleza no caso do atleta costa-riquenho David Madrigal.

Para quem não se lembra, David Madrigal foi um atacante que o Ceará contratou para o Campeonato Cearense de 2002. Na penúltima rodada do primeiro turno do campeonato daquele ano, David Madrigal fez um gol no Fortaleza e ao longo do certame fez outros que ajudaram muito na conquista do título pelo Alvinegro.

Na final do campeonato de 2002, o Ceará era beneficiado pelo empate, e segurou a igualdade em 1x1 com o Fortaleza, sagrando-se campeão. Nesse jogo, David Madrigal já não estava em campo.

Ocorre, que antes mesmo da partida, o Leão já havia dado entrada no, até então, TJD, numa ação contra o seu maior rival por ter utilizado David Madrigal no certame de forma irregular.

No seu protesto, o Tricolor pediu a perda dos pontos de 17 jogos em que o atleta atuou pelo Vovô, alegando que o atacante, nascido na Costa Rica, não tinha visto de trabalho para atuar pelo clube. Por essa razão, estaria irregular. Defendido no TJD, na época pelo advogado Clayton Marinho, o Ceará saiu vencedor.

O Fortaleza recorreu à Justiça Comum, onde o processo está na 17ª Vara Cível ainda tramitando. O caso reabriu, porque a Procuradoria entendeu que o Fortaleza não exauriu todas as instâncias da Justiça Desportiva para recorrer à Justiça Comum.

O julgamento do Caso David Madrigal será realizado nesta quinta-feira, 26, na 1ª Comissão Disciplinar do tribunal local. O Tricolor foi citado no artigo 231 do CBJD, Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que diz, que o clube que recorrer à Justiça Comum, sem exaurir as instâncias desportivas, será excluído da competição que estiver disputando, além de pagar multa.

O presidente do Fortaleza, Jorge Mota, disse ontem em entrevista à Rádio Verdes Mares que possui documentos da época, que provam que o clube exauriu todas as instâncias jurídicas nos regimentos desportivos de 2002 e prescreviam como necessários antes da Justiça Comum. Inclusive, segundo ele, só se recorria ao STJD quem quisesse, pois a Lei não prescrevia isso.

Ivan Bezerra
Repórter

Entrevista com Jorge Mota, presidente do Fortaleza

Mandatário do Tricolor fala sobre gestão do clube e sócio-torcedor

Como está sendo esse início de gestão? Tem algo que lhe orgulhe ou algo pelo qual se arrepende?

Estou absolutamente satisfeito, feliz pelos resultados. Com a vitória de ontem, estamos na semifinal do Campeonato Cearense e estamos na segunda fase da Copa do Nordeste. E ainda vamos estrear contra o River/PI pela Copa do Brasil. Em todas as competições desse ano, estamos bem 'na foto'.

O financeiro é sempre uma preocupação do torcedor. Ainda mais com clubes que sempre têm dificuldade, como acontece no Brasil.

Como estão as finanças em 2015? E como está sendo para trazer recursos e atrair patrocinadores?

Todo clube tem problemas financeiros. Até porque, hoje bilheteria não é mais a principal fonte de arrecadação. Ela é nos grandes jogos. Quarta-feira, por exemplo, nós devemos ter uma grande arrecadação contra o campeão do Nordeste, único nordestino na Série A. No mais, a gente procura equacionar, como um lençol curto, cobre a cabeça, descobre os pés. A gente vai indo, temos grandes parceiros e amigos que colaboram. Nas necessidades mais urgentes, a gente faz uma espécie de caixinha, e todo mundo colabora. Alguns empréstimos, depois a gente paga. Não vou dizer que está fácil. Mas, com dificuldade, está dando para conduzir.

Como está a situação do sócio-torcedor do Fortaleza?

Nós temos um projeto de aumento do número de sócios. Trouxemos o Paulo Zago, que é quem fez aquele programa de sócio-torcedor do Palmeiras. Nós temos outro projeto do cartão também, corporativo, para junto do sócio-torcedor, possibilitar benefícios. Eu quero acreditar que dentro de pouco tempo, quando a gente divulgar todo o programa de sócio-torcedor, nós devemos ter um aumento substancial no número de sócios-torcedores. Além de assistir aos jogos de graça, ele (sócio-torcedor) terá uma série de benefícios. É um projeto muito bonito e muito bem desenvolvido. E dentro de pouco tempo ele estará pronto, para a gente apresentar a todos.

Dentro de pouco tempo, questão de meses?

Não, não, dias, dias. Ja está ficando maduro, quando a gente divulgar, você poderá fazer seu sócio-torcedor pelo celular, comprar ingresso pelo celular, pagar a mensalidade pelo celular. Tudo será feito dentro do que se requer na modernidade. Para evitar que tenha que ir ao clube, faz-se de casa, pelo computador, telefone. É um projeto audacioso, mas simples, e muito interessante para o clube.

Nesse pouco tempo de gestão, já houve acréscimo do número de sócios-torcedores?

Já tivemos, estamos beirando os 5 mil sócios. E eu sei que já já vai ter um 'plus' e nós vamos ter um número muito maior de sócios torcedores. Como eu costumo dizer, se o Internacional de Porto Alegre tem menos habitantes que Fortaleza- tem 120 mil sócios-torcedores, por que nós não podemos ter 20, 30 mil?! Vamos ter sim, já, já.

O Fortaleza está de olho em algum jogador para a Série C?

Sempre a gente observa, nunca se deixa de observar. Daqui a pouco, vai acabar o Campeonato Paulista e vai ter jogador para todos os gostos.

Você falou uma vez, assim que assumiu, em uma coletiva de imprensa, que, caso não subisse, o torcedor poderia arrancar sua cabeça. Está de pé ainda?

Isso é força de expressão (risos). Isso não vai acontecer, a gente vai subir nesse ano, para o deleite da torcida tricolor.

A Série C é o principal objetivo. Mas entre Copa do Nordeste e Campeonato Cearense, tem alguma preferência do Fortaleza?

As duas. Se depender de mim e da vontade do torcedor, nós queremos ser campeões do nordeste, do cearense, do brasileiro. Não sei o que eu vou conseguir, mas a gente vai em busca de todos os objetivos. Um time como o Fortaleza, quando entra na disputa de um título, ele entra sempre pensando em ser campeão.

A troca de comando e a volta do Marcelo Chamusca eram evitáveis? Você considera que foi um erro?

Não, foi um acerto. Quando os resultados não vêm na medida que a gente espera, você tem que procurar uma mudança. A mudança que se apresentava mais razoável era de treinador. E surtiu um efeito positivo, porque o Marcelo Chamusca conseguiu encontrar e engrenar o time.

Mas dava para segurar o Marcelo Chamusca em dezembro?

Aquele momento foi interessante, de muita indefinição, entorno do projeto do Fortaleza, qualquer treinador teria tido alguma ressalva ou receio diante daquele cenário de dificuldade, que ele sabia. Ao mesmo tempo, tinha uma proposta de um outro clube, que ele achou boa, queria mudar de cenário. Foi muito natural, do dia a dia, do contexto de quem trabalha no futebol. Não houve nenhuma dificuldade para nós acertarmos a saída dele, nem para trazermos de volta. Foi dado um tempo, que foi interessante para amadurecer o Chamusca, que depois pegou um time mais ou menos encorpado.

O Marcelo Chamusca tem multa rescisória?

Não, porque nós trabalhamos muito na confiança. Ele é uma pessoa com quem a gente se dá muito bem, se dá bem com o time. A gente trabalha sob uma relação de confiança muito forte.

Foi uma questão de resultado a demissão do Nedo Xavier?

Também foi isso. Os resultados não vieram na proporção de um clube tão grande como é o Fortaleza.

Naquela sua passagem vitoriosa nos anos 2000, você era visto como um presidente centralizador. Como você definiria seu estilo hoje?

Eu centralizei tudo (naquela época)! Hoje, nós temos todas as diretorias do clube andando, funcionando naturalmente, como antes também trabalhávamos. Antes eu influenciava mais. Hoje, influencio (principalmente) as decisões no setor de futebol. E quando há a necessidade, eu participo, mas a gente tem trabalhado com muita harmonia na nossa diretoria. Uma gestão compartilhada, moderna, como tem que ser. Fazendo todas as considerações, o futebol não pode ser analisado exclusivamente como empresa.

O Osmar Baquit tinha falado que as despesas diárias no Fortaleza custavam até R$ 25 mil. Hoje, vocês têm esse calculo?

R$ 30 mil. A despesa média é em torno de R$ 30 mil. Tem que amanhecer o dia com R$ 30 mil no caixa. Se não tiver, você vai acumulando aquela conta até quando aparecer o dinheiro para regularizar. Dificilmente regulariza, sempre tem uma pendência.

Qual a melhor parte de ser presidente do Fortaleza e a pior?

A melhor parte é o reconhecimento da torcida. Quando a gente está ganhando, isso é importante. Eu já fui presidente uma vez, e atendi ao apelo de vários amigos e acabei voltando. A dificuldade é que você tem que estar presente todo dia, toda hora, estar ganhando. Mas as coisas estão correndo bem. Mesmo com a derrota diante do Ceará, a torcida apoiou o clube.

Você torce para que Fortaleza e Ceará se encontrem na final da Copa do Nordeste?

Eu torço pelo Fortaleza. Não estou olhando para o Ceará. Se o Ceará souber fazer sua parte, que faça. Eu vou tentar fazer a minha parte. Levar o Fortaleza à final é o nosso compromisso. Mas o Ceará é um grande adversário, e é importante enfrentá-lo, pela receita e pela rivalidade.

(Entrevista concedida aos colaboradores Lucas Ribeiro e Messias Borges)