Inesquecível camisa número um

Tenho aplaudido o goleiro do Ceará, Everson, atualmente um dos melhores do Brasil. Admiro a posição de goleiro porque é diferente. É único em campo que pode intervir com as mãos. Meu primeiro ídolo no futebol foi um goleiro: Ivan Roriz. Era goleiro do Ceará e da Seleção Cearense, campeã do Norte em 1954. Carinhosamente chamado de Ivan Boião, costumava jogar de centroavante no time de aspirantes do Ceará. Inesquecíveis defesas eu vi Ivan fazer no PV na década de 1950, quando estava no auge. O realce estava no uniforme todo negro que Ivan vestia, tendo o número um, branco, às costas. Aquela imagem, vista por mim nos anos 1950, ficou gravada na minha memória. Em 1958, para minha surpresa, quando o Brasil enfrentou a União Soviética pela Copa da Suécia, o goleiro russo Lev Yashin, famoso Aranha Negra, vestiu uniforme exatamente igual ao de Ivan: todo preto, com o número um branco às costas. Yashin morreu em 1990, mas ainda hoje é tido como um dos maiores da história. Os anos passaram. Os goleiros optaram por uniformes coloridos. Hoje, tantos anos depois, guardo as melhores lembranças da inesquecível camisa número um.

No Corinthians

Outro goleiro famoso foi Gilmar, bicampeão mundial pela Seleção Brasileira (1958/1962) e bicampeão mundial de clubes pelo Santos. Quer no Corinthians, quer no Santos, Gilmar atuava com uniforme todo preto, número um, branco, às costas. Elegante. Pegava muito. Voava como uma gaivota.

Amarela

Em 1965, o goleiro Raul Plassmann teve de vestir uma camisa amarela, quando de sua estreia pelo Cruzeiro. Motivo: não havia uma camisa preta na medida para o jogador. Então improvisaram uma camisa amarela, quebrando a tradição das camisas pretas. Raul entrou para a história. Além de ótimo goleiro, notabilizou-se também pelo uso de camisas que faziam a diferença.

Padrões

Depois da camisa amarela de Raul, vieram padrões variados. Os goleiros inovaram com camisas coloridas diversas e desenhos originais. Alguns extravagantes. Outros interessantes. E assim o uniforme todo preto, com o número um, branco, às costas, foi aposentado. Mas parece que estou vendo o Ivan Roriz no PV, praticando suas espetaculares defesas.

Dizem que a função de goleiro é tão ingrata que nem grama nasce no lugar onde ele atua. Discordo. Isso é marcação sobre os goleiros. Talvez porque eles contrariem o objetivo maior que é o gol, os goleiros são alvo de discriminação. Não é para qualquer um atuar como goleiro. Há que ter uma vocação especial, reflexos especiais, postura especial.

Martirizado foi o goleiro Barbosa, vice-campeão do mundo pela Seleção Brasileira em 1950. Nele colocaram toda a culpa pela perda do título mundial no chamado "Maracanazo". Barbosa levou ao túmulo a condenação injusta e perversa da torcida brasileira. Um notável goleiro que viveu sob o tormento de uma condenação perpétua.