História volta a ser contada no PV

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Antes de ser fechado, o charmoso estádio do Benfica já havia marcado boa parte da trajetória do futebol cearense

A torcida cearense estava com saudade do Presidente Vargas. Depois de três anos fechado para um "rejuvenescimento" o charmoso estádio do Benfica, volta a ser palco de grandes jogos dos times cearenses.

Inaugurado em 1941, o PV ganhou rapidamente a empatia do torcedor, que acostumou-se a ver grandes embates, seja no âmbito local ou no nacional.

Segundo registros, o maior público já registrado no PV seria de 38.515 pagantes, no jogo Ferroviário 1 x 1 Ceará, no dia 7 de maio de 1989, mas há registros de um público de 42.000 pagantes no jogo Ceará 0x1 Corinthians pelo Campeonato Brasileiro de 1971.

Após as reformas de 2010, o Presidente Vargas comportará 20.600 torcedores sentados, mas no momento, está funcionando apenas com a capacidade máxima de 15 mil pessoas.

Os três grandes times da capital, Ceará, Fortaleza e Ferroviário, tiveram conquistas marcantes no estádio até 2008, quando foi interditado. O último título comemorado no PV foi em 2001, portanto há dez anos, quando o Fortaleza sagrou-se campeão arrastão em cima do rival Ceará.

O estádio também marcou o último título do Ferroviário, em 1995 - portanto há 16 anos - quando o Tubarão da Barra, superou o Icasa e tornou-se campeão cearense pela última vez.

Mas existiram outras partidas marcantes em 70 anos de Presidente Vargas. O Ceará, que pode sagrar-se campeão estadual neste domingo, na reabertura do estádio, tem inúmeras histórias marcantes.

Em 1969, o time alvinegro decidia o título Norte-Nordeste contra o Remo. Como o primeiro jogo foi 2 a 1 para o time paraense, em Belém, o Ceará precisava vencer para forçar o terceiro jogo. Mas o Remo abriu 2 a 0, encaminhando o título. Porém no segundo tempo, com uma virada sensacional, o Vovô fez a alegria da torcida. Magela marcou aos 22,Chiclets, aos 32 e Gildo, um dos maiores ídolos da história do Ceará, marcou, aos 43, para delírio da torcida alvinegra. O craque descreveu o momento em um livro histórico do Ceará. "Em cima da hora, eu fiz o terceiro gol e o estádio veio abaixo. Foi aquela gritaria, eu corri e caí de emoção. Foi muita emoção aquele jogo", disse.

No terceiro jogo, também no PV, o Ceará aplicou 3 a 0, com gols de Gildo, Magela e Zezinho, sagrando-se campeão no Norte-Nordeste.

Pelé

Outro jogo histórico do Vovô foi em 3 de novembro de 1972, contra o Santos, pelo Brasileirão daquele ano. O jogo era o 1000º de Pelé com a camisa do time paulista. Com um público pagante de 35.752, o Alvinegro venceu a partida de virada por 2 a 1, gols de Samuel e Da Costa. O Rei Pelé marcou para o Santos. Da Costa lembra do gol marcado. "O Jorge Costa foi à linha de fundo e cruzou, subi na frente do Carlos Alberto, lateral de Seleção, e cabeceei no cantinho. É um gol que tenho guardado até hoje comigo".

Outros dois gloriosos jogos do Ceará no Presidente Vargas ocorreram contra os rivais Fortaleza e Ferroviário. Em 1963, o Ceará sagrou-se campeão invicto em decisão contra o Ferroviário. Perdendo por 2 a 1 a sete minutos para o final, o Vovô virou a partida para 3 a 2 com gols de Gildo, aos 41, e Lucena aos 44. A sensacional virada garantiu o tricampeonato.

Em 1971, Ceará e Fortaleza decidiam o Estadual em melhor de três jogos. O Vovô venceu a 1ª partida com gol de Gildo e empatou a segunda em 0 a 0. No terceiro jogo, o Leão vencia por 2 a 1 e aos 44 do segundo tempo, quando a torcida tricolor já comemorava, Victor marcou o gol de empate do Ceará. A torcida tricolor revoltou-se, alegando que a partida deveria ter terminado antes da cobrança de falta que originou o gol alvinegro, quebrando o alambrado e invadindo o campo. O juiz Armando Camarinha deu o jogo por encerrado e o Ceará comemorou o título.


RECORDES

38

MIl pessoas foi o maior público pagante do Presidente Vargas em jogos do Campeonato Cearense, número alcançado na partida entre Ferroviário e Ceará, pelo Estadual de 1989

20

mil e seiscentos lugares é a capacidade atual do PV, após a mais recente reforma, entretanto o equipamento será aberto apenas para 15 mil lugares, pois está inacabado


Alambrado

Tal e qual o Ceará, o Fortaleza teve também seus jogos inesquecíveis no PV. Voltando no tempo, vamos localizar o ano de 2000. No dia 14 de maio, o Leão decidia o segundo turno do Campeonato Cearense contra o Itapipoca. O estádio estava totalmente lotado, abrigando 24.287 torcedores, sendo que 2.006 não pagantes. Com a superlotação, alguns torcedores resolveram assistir ao jogo em cima das torres de iluminação e do alambrado. Muitos haviam ficado de fora, por falta de ingresso. E nem caberia mais ninguém. Um torcedor pulou o alambrado e depois, ao tentar voltar, subiu na ferragem e a arrastou, derrubando quem estivesse por perto.

Mas, o Tricolor venceu por 2 a 1. E quem não se lembra de um jogo inesquecível do Leão pela Série B do Campeonato Brasileiro de 2004, contra o Náutico? Era gol de um lado e de outro, e no fim, o alambrado caiu atrás do gol que dá para as cabines de rádio e vários torcedores saíram feridos nessa confusão.

Já em 2001, o Tricolor do Pici sagrou-se bicampeão arrastão, com a vitória de 3 a 1 em cima do Ceará. Neste ano, o Leão completará 10 anos dessa conquista memorável. O Tricolor do Pici tinha grandes craques como Ronaldo Angelim, Vinícius e Clodoaldo, todos em grande fase em suas carreiras.

Também no PV, EM 2002, o Fortaleza superou o Paulista de Jundiaí e subiu para a Série A, no jogo de volta. Também no PV, o Fortaleza fez até partidas pela 1ª Divisão. O Leão já eliminou o Bahia do Nordestão também no PV, na época do técnico Ferdinando Teixeira. Este, por sinal, saiu do clube e passou o bastão para o técnico carioca Luiz Antônio Zaluar, que se tornaria campeão em seguida.

Ferrão

O Ferroviário também tem sua parcela de contribuição para a história do PV. Em dezembro de 2005, o time coral decidiu o campeonato com o Icasa. Impossível esquecer os atletas corais, como por exemplo, João Marcelo, Ricardo Lima, Acássio, entre outros, afora o técnico Ramon, que veio de Recife.

Triste capítulo

O Diário do Nordeste, em matéria publicada em novembro de 2007, acompanhou a vistoria feita por um engenheiro, que detectou falhas na estrutura do estádio. Motivado pela tragédia ocorrida na Fonte Nova, em dezembro do ano anterior, e pelo desabamento de uma arquibancada montada para o carnaval de 2008 da Domingos Olímpio, a Prefeitura Municipal de Fortaleza achou por bem determinar a interdição do estádio, por tempo indeterminado.


VLADIMIR MARQUES/IVAN BEZERRA
REPÓRTERES


MEMÓRIA

Ídolos recordam momentos marcantes vividos no PV

Diante de um novo Presidente Vargas, ex-jogadores relembram suas experiências no estádio setentão

Palco de muitas alegrias e algumas tristezas, o Estádio Presidente Vargas, apesar da nova aparência, carrega consigo inúmeras histórias de atletas e torcedores. Entre aqueles que olham para as novas instalações do "xodó" do futebol cearense com o olhar cheio de saudades, encontra-se o ex-atacante Mirandinha, que chegou a atuar na praça esportiva como jogador e técnico. "Lembro que antes de iniciar a minha carreira como jogador, cheguei a pular várias vezes o muro do estádio para ver os jogos", recorda o ex-atleta, que, para chegar ao estádio, precisava descer pela traseira do ônibus, pois não tinha dinheiro para a passagem.

Entre os momentos marcantes de sua carreira, Mirandinha cita o seu primeiro título de campeão no estádio. "Em 1977, fui campeão e artilheiro juvenil pelo Ferroviário, com apenas 17 anos. Foi a partir dali que eu tive a grande chance de jogar pela Ponte Preta", contou o ex-atleta durante visita as novas instalações do PV, na última sexta.

Futuro promissor

"Hoje não é um ´PVzinho´, é um ´PVzão´. Nós esperamos que agora as coisas possam melhorar ainda mais para o nosso futebol. Principalmente, em uma praça como esta, em que seleções de outros países poderão vir jogar aqui", afirmou o ex-meia Marquinhos Capivara, que conquistou vários títulos na praça esportiva. "Me sinto muito orgulhoso de poder participar de mais um momento histórico neste estádio, que tenho guardado com carinho em meu coração", concluiu o ex-atleta.


ÍKARA RODRIGUES
REPÓRTER