Térmicas continuarão ligadas no mínimo até o fim do ano

Conforme o ONS, a expectativa é que haja uso "acentuado" dessas usinas nos próximos meses e até em 2015

Escrito por Redação ,
Legenda: Com o maior custo da energia térmica, as distribuidoras tiveram que ser ajudadas pelo governo e por empréstimos feitos por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, que acabarão sendo pagos pelo consumidor
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Fortaleza/Rio de Janeiro. Após a série de reajustes tarifários de dois dígitos aprovados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para grande parte das distribuidoras do País neste ano, tendo em vista o maior custo da energia gerado pelo acionamento das usinas termelétricas, os consumidores brasileiros devem voltar a sentir o peso da energia elétrica em seus orçamentos no próximo ano. Desta vez, o aumento pode vir além do esperado.

Tendo em vista o volume insuficiente de chuvas para recuperar o volume dos reservatórios das principais hidrelétricas do País, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirmou, ontem (22), que as usinas termelétricas em operação deverão ficar ligadas até o final deste ano. Segundo ele, a expectativa é que haja uso "acentuado" das termelétricas nos próximos meses e até no próximo ano.

Segundo projeção da ONS, os reservatórios das usinas das regiões Sudeste e Centro-Oeste (a principal fornecedora de energia ao Sistema Interligado Nacional) devem fechar julho, em nível de 33% de energia armazenada, chegando a 18,5%, em novembro deste ano, caso as previsões meteorológicas se confirmem. Na última segunda-feira, o nível dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste era de 34,68%, conforme o ONS. Já no Nordeste, o nível dos reservatórios das hidrelétricas estava em 33,61%. As hidrelétricas do Sul e do Norte possuíam os melhores níveis de armazenamento: 92,59% e 87,98%, respectivamente.

Funcionamento

Conforme Hermes Chipp, mesmo que o regime de chuvas que enche os reservatórios das principais hidrelétricas do País seja equivalente à média histórica, as termelétricas vão continuar funcionando.

"(O objetivo é garantir) o armazenamento (de água nos reservatórios). Não deixar o nível cair tanto e tentar recuperar um pouco o reservatório e dar uma tranquilidade", disse.

Impacto para o consumidor

Na avaliação do presidente do Conselho de Consumidores da Companhia Energética do Ceará (Coelce), Erildo Pontes, o impacto do consumo da energia gerada por usinas termelétricas deverá ser muito mais forte para o consumidor no próximo ano. "Seguramente, nós vamos ter um aumento muito grande em 2015, seja reajuste ou revisão", diz, lembrando que, neste ano, a tarifa de energia do Ceará teve um reajuste médio de 16,77% aprovado pela Aneel, acima do pleito feito pela Coelce.

"Para a sociedade, é extremamente preocupante a situação que a gente vive no momento. Quando o ONS diz que 100% das térmicas estão em operação, significa que boa parte da nossa energia tem um custo muito alto. A geração de energia térmica pode ser de seis a oito vezes mais cara que a energia hidrelétrica", completa.

Campanha

Para Erildo Pontes, uma campanha governamental para conscientizar a sociedade sobre o momento atual e sobre a necessidade de realizar um consumo mais racional seria importante para melhorar um pouco o cenário.

"Tá faltando que o governo tenha coragem para lançar alguma campanha de redução do consumo de energia. É uma irresponsabilidade muito grande que o governo não esteja fazendo hoje o que fez em 2001. Hoje, estamos consumido livremente uma energia mais cara", afirma o presidente do Conselho de Consumidores da Coelce.

Pontes lembra ainda que a ajuda financeira do governo às distribuidoras e os empréstimos realizados por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, serão pagos pelos consumidores. "Mais na frente, isso será pago por todos nós", enfatiza.

Aneel: R$ 6,5 bi resolvem rombo do setor elétrico

Brasília. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, confirmou nesta terça-feira, 22, que o valor demandado pelas empresas de distribuição para resolver o rombo do setor até o fim deste ano é de R$ 6,5 bilhões. A medida será feita por meio de um financiamento bancário da ordem de R$ 3,5 bilhões, além de um empréstimo via BNDES, que deve ser de R$ 3 bilhões. Segundo ele, as condições dos novos empréstimos seguem as mesmas da operação firmada no primeiro semestre deste ano, quando as distribuidoras de energia tiveram acesso a um empréstimo bancário de R$ 11,2 bilhões.

Esse primeiro crédito de R$ 11,2 bilhões foi o suficiente para cobrir as despesas das distribuidoras apenas até abril. "O valor demandado pelas empresas é mesmo de R$ 6,5 bilhões e esse valor, a princípio, resolve o problema até o fim do ano", disse Rufino, ao chegar para a reunião semanal da diretoria colegiada do órgão regulador.

Segundo ele, o BNDES pode entrar no pool de bancos que já foi responsável pelo primeiro empréstimo ou ter um contrato em separado com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que faz a ponte entre as instituições financeiras e as empresas de energia. "Se o BNDES participar, deve aderir à operação já desenhada. A ideia é que sejam as mesmas condições já acordadas", afirmou Rufino. "As garantias dadas são muito robustas e fortes", completou.

O diretor-geral lembrou que o empréstimo ainda está em negociação e disse esperar que o novo contrato possa ser firmado até o dia 31 deste mês, prazo até o qual parte da liquidação dos gastos de maio do setor foi adiada pela Aneel. "Mas se não sair o novo empréstimo até essa data, podemos adiar novamente a liquidação", concluiu.

Esses novos valores repassados ao setor deverão refletir em aumentos gradativos nas tarifas dos consumidores durante dois anos, a partir de 2015.

Reajustes afetam meta da Inflação

Rio de Janeiro. De acordo com analistas de mercado, a energia elétrica poder ser a principal contribuição para que a inflação do Brasil ultrapasse o teto da meta do governo para este ano, que é de 6,5%.

A energia já foi o principal impacto de alta no índice prévio da inflação - o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) - de junho e deve avançar ainda mais até o fim do ano, com a previsão de novos reajustes.

Com o reajuste de 18% das tarifas da Eletropaulo (as de maior peso no IPCA), a energia elétrica subiu, no País, 1,35% no IPCA-15 de julho. A previsão é de que esse aumento seja ainda mais intenso no IPCA fechado, já que parte do aumento não foi ainda incorporado.

Com altas maiores neste ano por conta dos reajustes mais salgados autorizados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para a maioria das distribuidoras em razão do custo extra da energia com o uso mais intensivo das térmicas, a energia subiu 6,39% neste ano - acima do IPCA-15 até julho (4,17%).

Acumulado

Em 12 meses, a energia residencial soma uma alta de 7,95%, acima dos 6,51% do índice geral - que neste mês rompeu o teto da meta e se situou no maior patamar desde junho de 2013.

O indicador acumulado mostra que o benefício da redução das tarifas de energia em 16% no ano passado já ficou para trás diante da necessidade de reajustes maiores para as distribuidoras não quebrarem com o aumento do custo da energia comprado das usinas. E os aumentos só não são maiores porque o governo federal empurrou a maior parte da conta para 2015 e 2016, depois das eleição presidencial deste ano.

Peso

Com o novo socorro anunciado pela Aneel às distribuidoras, que deverão receber mais R$ 6,5 bilhões, analistas alertam que essa conta será paga pelo consumidor a partir do ano que vem e a inflação de 2015 já entrará o ano com esse "peso adicional".

A inflação também só não superará a meta deste ano porque outros preços controlados pelo governo foram contidos neste ano eleitoral - algo que costuma ser praxe em todos os anos de pleitos. Um dos exemplos é a tarifa de ônibus, congeladas em importantes capitais do País.

Também não aumentaram o preços das passagens Recife, Distrito Federal, Fortaleza, Salvador e Curitiba. Com isso, os ônibus subiram 3,48% neste ano, abaixo da inflação média.

A expectativa é que esses aumentos represados também ocorram em 2015, segundo analistas. Ônibus e energia são dos itens de maior peso no orçamento das famílias.

Previsões

Apesar dessa contenção de reajustes de preços e tarifas administradas, as consultorias esperam um IPCA muito perto do teto da meta neste ano. A Rosenberg & Associados prevê 6,3% - e conta com a freada dos alimentos para tal. A LCA espera uma taxa baixa também no IPCA fechado em junho (0,07%) diante da expectativa de queda de artigos de vestuário com as liquidações, nova deflação de alimentos e de passagens aéreas, além do recuo dos preços de serviços pessoais.

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