Tecnologia simplifica meios de pagamento e muda consumo

Com a modernização na forma como os clientes pagam por produtos e serviços, expectativa é que a participação dos meios eletrônicos no consumo das famílias dobre em um período de cinco anos

Escrito por Samuel Quintela* - Repórter ,

São Paulo. A proposta da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) é simples: dobrar, em cinco anos, a participação dos meios eletrônicos de pagamento no consumo das famílias brasileiras, que em 2017 foi de 32,6%. Para atingir esse objetivo, a entidade apresentou, durante a 12ª edição do Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento (CMEP), vários pontos de investimento que passam pela modernização dos meios eletrônicos.

Entre as concepções que deverão ditar as tendências neste futuro próximo estão medidas que incluem o desenvolvimento de soluções para os mecanismos de pagamento por aproximação (conhecidos como contactless); a modernização das operações "Peer to Peer" (P2P), dando mais agilidade nas transferências entre pessoas através da interoperabilidade de contas, inclusive entre bancos distintos; e uma nova modalidade de financiamento de compras com prazos maiores pelo parcelamento com juros no cartão de crédito, dando mais opções competitivas para lojistas menores e para o consumidor em 2019.

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No entanto, de acordo com Paulo Frossard, vice-presidente de Market Development da Mastercard, a tecnologia de pagamentos por aproximação deverá ser o próximo passo da indústria de cartões nos próximos anos.

Aproximação

Mas essa tecnologia exige uma mudança de padrão de comportamento de consumo pelos meios contactless, e que já estão recebendo atenção especial de empresas como as bandeiras Visa e Mastercard.

Elas vêm trabalhando em sistemas para integrar cada vez mais essa tecnologia em serviços urbanos para atingir diretamente a vida do consumidor comum diariamente, como é feito nos sistemas de bilhetagem de transporte público.

E essa mudança não deverá enfrentar muitos problemas, pelo menos de tecnologia, no Brasil, de acordo com Fernando Chacon, presidente da Abecs. O motivo é a capacidade já investida nos parques tecnológicos relacionados aos pontos de vendas e às máquinas de leitura dos cartões. O que pode acabar sendo um fator crucial, avalia, é justamente a adaptação a essa nova cultura de pagamento.

"Todos os meios eletrônicos de pagamento por aproximação vivem no Brasil um cenário em que o parque está fortemente preparado para isso. A gente vem acompanhando a movimentação global sobre o assunto, mas não acreditamos em uma massificação da noite para o dia, isso vai com o tempo, do consumidor ir se acostumando e se sentindo confortável", analisou o presidente da Abecs.

Pilares

Segundo Chacon, a Associação vem trabalhando com o Banco Central (BC) para adotar uma agenda, focada em três pilares, que deverão, à medida que consiga a maior penetração dos meios eletrônicos de pagamento, reduzir a circulação do papel moeda no Brasil e por consequência gerar benefícios para governos, empresas e, claro, o consumidor de uma forma geral.

Conforme o estudo independente "Cidades sem dinheiro em espécie: Compreendendo os benefícios dos pagamentos digitais", encomendado pela Visa à Roubini ThoughtLab, estima-se que se toda a população, considerando as 100 cidades pesquisadas, aderissem ao padrão de consumo dos 10% que mais utilizam os meios eletrônicos, os benefícios ao consumidor poderiam chegar ao patamar de U$ 28 bilhões por ano. O impacto é resultado da diminuição do tempo gasto em transações em bancos, no varejo e nas redes de transporte público, além da redução dos crimes relacionados ao porte de dinheiro.

Blockchain

Outro ponto importante discutido durante o 12º CMEP foi a confirmação de que os meios disruptivos entraram de fato no radar da indústria de cartões de crédito, que passou a observar e investir cada vez mais na tecnologia de "blockchain". Durante um dos painéis do CMEP, Silvio Meira, professor emérito de Engenharia de Software da UFPE, comentou que enquanto os investimentos em Fintechs se mantiveram estáveis nos últimos anos, as empresas de blockchain passaram de US$ 15 bilhões investidos, em 2013, para mais de US$ 512 bilhões em 2017.

Além disso, os bancos brasileiros já trabalham para gerar soluções aos clientes através da tecnologia de blockchain. "As moedas virtuais não fazem parte do nosso universo de negócios, mas a base tecnológica que elas usam para transacionar fazem sim, o que é algo realmente disruptivo e definitivamente pode revolucionar o mercado financeiro. Os bancos já estão desenvolvendo algumas provas de conceito em cima dessa plataforma para trazer soluções tecnológicas para os brasileiros", confirmou o presidente da Abecs.

Fomento local

O Banco do Brasil (BB) confirmou que em julho incluirá municípios cearenses à terceira onda de um projeto de incentivo ao uso dos meios eletrônicos de pagamento em cidades com até 40 mil habitantes. De acordo com o diretor de Meios de Pagamento do BB, Rogério Panca, o objetivo é mostrar a praticidade do uso dos cartões de crédito e débito.

*O jornalista viajou a convite da Abecs

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