Sonho da casa foi alterado, mas ainda é prioridade

Principal meta de Nara e Antônio sofreu mudanças por conta do financiamento do imóvel no banco

Escrito por Redação ,
Legenda: Casal optou por não comprar o imóvel que tinham escolhido inicialmente pensando nos dois filhos, pois, após visitar o local à noite, a designer considerou o ambiente inseguro
Foto: Foto: Tuno Vieira

No terceiro mês do projeto Vida e Finanças, a família da designer de interiores Nara Lima decidiu mudar de estratégia para atingir o objetivo de conquistar a casa própria. Em vez de tentar financiar um imóvel novo e pronto para morar na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), dando o FGTS como entrada, ela e o marido, o guarda municipal Antônio José Soares, planejam agora continuar economizando para comprar uma casa mais próxima dos familiares, ou mesmo um terreno para iniciarem a construção do tão sonhado lar.

A mudança de planos, segundo ela, ocorreu em virtude de obstáculos que surpreenderam o casal quando eles já haviam apresentado a documentação à Caixa Econômica Federal para iniciar os trâmites do financiamento imobiliário. O primeiro deles foi a constatação da localização insegura do imóvel.

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"Fui fazer uma visita durante a noite ao imóvel que pretendíamos comprar e me deparei com um lugar completamente inóspito, sem iluminação, nem movimento. E como vamos ter de sair à noite pelo menos duas vezes por semana para por em prática o nosso projeto voz e violão, que é de onde vamos tirar a renda extra para adquirir nossa casa própria, os meninos ficariam sozinhos, já que não teríamos ninguém por perto com quem deixá-los. Achei a região muito perigosa", explica Nara Lima.

 

Surpresa no financiamento

Outro entrave encontrado pelo casal diz respeito as condições de financiamento do imóvel. Na simulação do crédito imobiliário, o casal havia estimado o valor das parcelas com base apenas na renda da designer, o que os enquadrava na faixa mais beneficiada do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV). Porém, a realidade foi bem diferente.

"A Caixa não aceitou que o crédito fosse só para mim. Como somos casados no papel, existe a exigência de juntar nossas rendas. Só que o financiamento apenas em meu nome ficaria com a parcela bem mais baixa. Juntando nossas rendas, a parcela mais que duplica. Só para ter ideia, só com minha renda iríamos conseguir R$ 18 mil em subsídios do MCMV. Somando com a renda dele, o subsídio do programa caiu para pouco mais de mil reais. Sem falar que os juros aumentaram bastante", relata.

 

Nara Lima afirma que ficou "alerta" e encarou os obstáculos como um "sinal" de que o momento não é bom para financiar a casa própria. "Decidimos juntar mais dinheiro e buscar um lugar melhor, mais perto da nossa família. Estamos pensando até em comprar um terreno para construir. Enfim, não desistimos do nosso sonho, mas vamos buscar outras alternativas", resume.

Novas metas

De volta à estaca zero, o casal pretende iniciar agora pesquisa de preços de terrenos nas imediações onde hoje residem de aluguel. Em paralelo, Nara e Antônio pretendem dar segmento ao projeto voz e violão, que consiste na apresentação musical da dupla, ela cantando e ele tocando violão, em festas, barzinhos e outros eventos particulares. "Quando deslanchar esse projeto, todo dinheiro que entrar vai direto para o caixa da nossa casa própria", planeja. Para contratar a dupla Nara e Stênio (nome artístico dele) e reservar data e horários de apresentações, basta acessar o site www.Vozeviolao.Net ou a página do projeto no facebook (www.Facebook.Com/vozeviolao.Net/info).

Planejamento deve ser a longo prazo

Para Rodrigo Soares, franqueado do Instituto DSOP de Educação Financeira, o sonho da casa própria deve ser planejado no longo prazo, devendo a economia para compra do imóvel durar entre cinco e dez anos. A pressa, segundo ele, não contribui para o êxito de um projeto tão importante. O educador financeiro orienta o casal a ter cautela e planejamento.

"A compra de uma casa tem que ser bem pensada. Apesar de ser um bem que todo mundo quer, o primeiro desejo de consumo, é preciso considerar a falta de liquidez de um imóvel. Ninguém consegue vender uma casa do dia para noite", explica.

Segundo ele, a pressa para realizar o negócio pode resultar numa compra mal sucedida. "Com pressa, eles podem ceder a um imóvel não tão bom". E alerta: "A ansiedade é um péssimo aliado para se realizar o sonho da casa própria". Conforme Rodrigo, não adianta trocar simplesmente o aluguel por qualquer casa própria. "Ao trocar o aluguel por um imóvel financiado, não se extingue a despesa. A única forma de parar de ter um custo mensal é comprar à vista. Mas na maioria das vezes se troca um aluguel defasado, que não acompanha a valorização do imóvel, por uma mensalidade que vai subir todo o mês e um saldo devedor que aumenta ao longo do contrato".

Permanecer no aluguel, enquanto se economiza por mais tempo antes de partir para a compra do bem pode ser a alternativa mais indicada. A dica, segundo ele, é se informar sobre a melhor aplicação para o dinheiro poupado. "Buscar um investimento que dê um bom retorno é tão importante quanto planejar e economizar. O gerente do banco pode ser um bom conselheiro. Outra opção é pesquisar na internet", afirma.

Alternativa financeira

Outro meio de conquistar a casa própria é comprar um terreno e construir o próprio imóvel. A dica, nesse caso, é comprar o terreno a vista e ir construindo gradativamente. "Essa é uma alternativa financeira muito melhor. Mas é bom lembrar que qualquer construção enseja problemas, há risco de invasão, de roubo de material. Então a solução é comprar o terreno, murar e continuar economizando antes de iniciar a obra", propõe.

Segundo o educador financeiro, construir o próprio imóvel pode resultar numa economia de mais de 50% em relação ao financiamento. "O custo de construção de um imóvel de 90 m², com acabamento e mão de obra, sai em média por R$ 800 por m². Então a casa ficaria em torno de R$ 72 mil. O mesmo imóvel financiado não sairia por menos de R$ 150 mil", calcula. Outra opção mais econômica é o consórcio de imóveis. (AC)

Entenda a série Vida e Finanças

No dia 25 de janeiro, o caderno de Negócios do Diário do Nordeste deu início à série de reportagens “Vida e Finanças”, que acompanhará mensalmente, até dezembro deste ano, publicando na última semana de cada mês, a rotina e o orçamento doméstico de três famílias cearenses das classes A, C e D. O propósito da série é saber como cada uma das famílias se comportará diante das mudanças econômicas previstas para 2015, cujas perspectivas são de um ano difícil, com arrocho fiscal, aumento nos preços dos combustíveis, alta das tarifas públicas e redução do nível de emprego.

O critério para definição da faixa de renda das três famílias protagonistas desta série tem por base a classificação do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), segundo o qual são consideradas de classe A famílias com renda acima de R$ 9.754; C aquelas que possuem renda familiar entre R$ 1.734 e R$7.475; e D para a faixa de R$ 1.085 a R$ 1.734 de ganho mensal. 

Ainda segundo a divisão estabelecida pelo CPS/FGV, famílias das classe B e E possuem, respectivamente, rendimentos entre R$ 7.475 e R$ 9.745 e de R$ 0 a R$ 1.085.

Na terceira publicação da série, a equipe do Vida e Finanças registrou o empenho em economizar e a realização das metas como recompensa da nova atitude; a mudança de planos decorrente de análises mais cuidadosas, visando qualidade de vida e custo-benefício; e, ainda, os desafios assumidos por quem decide encarar uma nova rotina de trabalho.

A reportagem também entrevistou especialistas, que traçaram análises, emitiram opiniões e contribuíram com dicas sobre finanças pessoais para ajudar não somente nossos protagonistas, mas todos os leitores que se identificam com essas situações e também têm metas a alcançar neste ano.

Ângela Cavalcante
Repórter

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