Situação da fruticultura ainda é preocupante

Após cinco anos de estiagem, a produção de frutas frescas, um carro-chefe do CE, caiu quase pela metade

Escrito por Redação ,
Legenda: Não há perspectivas de retorno de parte da produção, principalmente de melão, que foi transferida para estados vizinhos
Foto: Foto: Silvana Tarelho

O cenário otimista, com as chuvas que vêm caindo sobre o território cearense e o prognóstico de precipitações dentro da média histórica, não foi suficiente para tranquilizar os grandes produtores de frutas frescas no Estado. A perspectiva é que, mesmo com uma quadra chuvosa favorável, não haverá recarga suficiente dos açudes para manter a agricultura irrigada durante o ano.

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Dados da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) mostram que, desde 2011, o último ano com uma quadra chuvosa regular, a produção de frutas frescas caiu quase pela metade no Estado. Foram 1,4 milhão de toneladas em 2011 ante 761 mil toneladas em 2016, uma redução de 49,1%. A produção do ano passado ainda foi 21% menor do que o previsto em janeiro daquele ano, quando se estimava 960 mil toneladas.

Somente a produção da banana caiu 34,4% com os cinco anos de seca, recuando de 494 mil toneladas em 2011 para 324 mil toneladas em 2016. No mesmo período, a produção do maracujá caiu 45,5% e a do melão, 32,7%. O mamão ainda conseguiu resistir, caindo só 1,7% com a estiagem prolongada, mas a produção de outras frutas frescas, juntas, desabou 77% no mesmo intervalo de tempo.

Sem perspectivas

De acordo com João Teixeira, presidente da Câmara Setorial das Frutas do Estado do Ceará, não há perspectivas de retorno de parte da produção que foi transferida para estados vizinhos, principalmente para o Rio Grande do Norte, em uma situação um pouco melhor em termos de oferta de água. "Houve uma perda muito grande de faturamento, produtividade nos últimos anos. Muito desemprego também. E nesse ano, já houve novas demissões", aponta.

O presidente destaca que uma das bacias mais prejudicadas seria a do Vale do Jaguaribe, onde se localizam as principais áreas produtivas para a fruticultura, com a produção de melão, melancia e bananas, entre outras. "A perenização do Rio Jaguaribe só ficou até Quixeré. Antes, ele ia até Itaiçaba mas, com as poucas chuvas, ele foi encurtado por cerca de 100 quilômetros", lamenta João Teixeira.

A avaliação é reafirmada pelo secretário de Recursos Hídricos do Estado, Francisco Teixeira, que admite que, com a baixa disponibilidade de água para irrigar as plantações, a atividade deva continuar prejudicada. "Precisamos de uma grande recarga para voltar aos patamares de produção anteriores e a probabilidade maior é a de que isso não vai acontecer neste ano", avalia o secretário.

Para preservar o consumo humano, o governo precisou impor restrições ao uso da água aos agricultores em 2015. De acordo com o titular da Pasta de Recursos Hídricos, o açude Castanhão liberava em média 20 metros cúbicos (m³) por segundo (s) para o Vale do Jaguaribe naquele ano, chegando a uma redução de quase 70% em 2016. "Isso se deu em função da exaustão dos nossos reservatórios", explica Francisco Teixeira.

Lençóis freáticos

As áreas que ainda produzem só o fazem em virtude do acesso à água subterrânea, como em localidades do Vale do Jaguaribe, da chapada do Apodi e da região de Aracati e Icapuí, entre outras.

"O impacto só não foi maior sobre a fruticultura por isso. Mas no Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas, por exemplo, onde não tem lençóis freáticos, foi muito mais forte", aponta o secretário de Recursos Hídricos.

Segundo o presidente João Teixeira, mais de 1,5 mil empregos foram fechados no projeto do Tabuleiro de Russas, tocado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Ele lamenta que há pouco que o poder público possa fazer para amparar a situação da fruticultura do Estado. "O que resta é esperar por um inverno que faça uma boa recarga dos açudes do Ceará", pontua. (YP)

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