Setores de confecção e calçados cortaram 3 mil

Queda no consumo interno e também nas exportações foi apontada como motivos da dispensa

Escrito por Redação ,
Legenda: Profissionais do setor da confecção demitidos neste ano somam 2 mil, segundo estima o sindicato patronal desta indústria no Estado
Foto: Foto: ANTONIO CARLOS ALVES

Duas das atividades cearenses mais reconhecidas no Brasil e exterior, as indústrias de calçados e de confecção do Estado também tiveram que dispensar trabalhadores no início deste ano, motivadas, sobretudo, pela instabilidade econômica vivida pelo País. No total, a estimativa é que cerca de 3 mil pessoas foram demitidas pelos dois setores no primeiro trimestre de 2015, fruto de uma elevada queda na demanda interna e retração nas exportações na comparação com igual período do ano passado.

Somente o setor cearense de confecção estima ter cortado aproximadamente 2 mil trabalhadores de janeiro a março deste ano. Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras do Estado do Ceará (Sindconfecções), Marcus Venicius Rocha, as demissões foram motivadas por uma queda de 8% nas vendas do primeiro trimestre do ano. "Não há pedidos. Os estoques já estão dando para suprir a demanda, que está reduzida. Assim, o ritmo de produção cai e as demissões acabam acontecendo", frisa o líder sindical.

Na opinião de Marcus Venicius, um dos fatores que prejudica a indústria de confecção do Estado, aumentando os custos e maximizando as chances de demissão, é a elevada carga tributária estadual que o Ceará possui. "Temos um ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) altíssimo, quase o triplo de Pernambuco, por exemplo. Isso acaba nos tornando menos competitivos", frisa.

Sobre as projeções para o restante de 2015, o presidente do Sindconfecções disse que só espera uma reação no último trimestre do ano. Até lá, diz, o momento é de "arrumar a casa, conter despesas e inovar". "O setor tem buscado se diferenciar, agregando mais valor ao produto. Com uma carga tributária maior que outros estados e um momento instável na economia, só assim vamos nos manter competitivos no mercado", diz Marcus.

Mil demissões no Interior

Região que concentra a maior parte da indústria calçadista do Estado, o Cariri, que conta com mais de 300 fábricas, desde as pequenas, médias e de grande porte, como a Grendene, e a Tecnolity, que atua na linha de produção da Havaianas, também teve um corte no quadro de empregados no primeiro trimestre. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuários de Juazeiro do Norte (Sindindústria), cerca de mil demissões já ocorreram desde janeiro - mais que o dobro do ano passado. Baixa na comercialização dos produtos no mercado nacional e nas exportações foram apontados como vilões.

Para se ter um ideia, somente nos primeiros dois meses de 2015 foram contabilizadas mais de 800 demissões no setor calçadista. Segundo o presidente do Sindindústria, Antônio Mendonça, isso significa cerca de 7% no número de empregos diretos. "É preocupante se continuar essa mesma tensão", enfatiza.

Segundo ele, a retração nas vendas se deve ao fato do consumidor estar apreensivo com a situação atual da economia. Segundo ele, isso acaba refletindo na baixa dos pedidos junto aos setores de produção. Antônio Mendonça lembra, ainda, dos efeitos do aumento de combustível, energia e a crise que envolve a Petrobras. "Isso tem impacto nos custos de produção e também acaba gerando um medo na ponta, que é o do consumidor final", afirma. O presidente do Sindindústria ressalta também que o setor de transporte está vivendo um momento difícil e isso respinga na indústria.

Setor têxtil

Importante exportador cearense, o setor têxtil também garante que está passando por dificuldade neste primeiro trimestre, mas não revelou se isso culminou em demissões no setor. "Fomos um dos primeiros a sofrer os impactos da política econômica e custos para produzir em nosso País. Hoje, é possível observar um quadro amplo dessas dificuldades. O que se espera é manter as indústrias atuais, evitando uma perda de postos de trabalho ainda mais agravante", afirma a superintendente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral no Estado do Ceará (Sinditêxtil), Kelly Whitehurst.

No País, o saldo da geração de empregos no setor têxtil e de vestuário no ano de 2014 foi de -20.774, contra 7.273 no mesmo período de 2013. Em janeiro, o saldo da geração de empregos no setor têxtil e de vestuário foi 3.451, ante 6.177 em igual mês do ano passado. (AL)

Temporários não foram efetivados

Segundo representantes do setor, o comércio cearense ainda não precisou reduzir seu quadro de funcionários por conta da instabilidade econômica do País, mas isso não significa que os trabalhadores tiveram vida fácil neste primeiro trimestre, principalmente os temporários que tinham esperança de serem efetivados. "Não houve grandes demissões, mas também não seguramos os temporários que foram contratados no fim de 2015, como costuma acontecer", diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves.

O líder sindical disse torcer para que o comércio não precise demitir ao longo de 2015, mas reconhecer que o ano será de dificuldades. "Quanto mais demissões, pior para nós. Prefiro pagar um salário muito bom para meu empregado, para que ele produza bem, do que vê-lo sem trabalho. Fica até mais difícil de negociar com o sindicato dos trabalhadores quando os níveis de desemprego sobem", conta Cid.

Retração

O presidente do Sindlojas reforçou que o primeiro trimestre de 2015 foi de dificuldades para os estabelecimentos comerciais de Fortaleza, "que teve uma redução significativa ante o mesmo período do ano passado, que já havia sido fraco". Ele também disse que 2015 deve ser um ano de poucos investimentos no setor. "Vai haver retração. De um modo geral, aliás, as vendas do varejo de Fortaleza já caíram em torno de 8%", revela Cid Alves.

Segundo ele, a melhor maneira do varejo manter um bom ritmo ao longo de 2015 é reconhecer que este será um ano difícil e focar na sazonalidade. "Vamos ter a Semana Santa, depois Dia das Mães, dos Namorados e assim por diante. Espero que, focando nessas datas, a gente consiga se programar bem e atravessar a crise", complementa.

Interior na contramão

Se na Capital cearense diversas lojas estão enfrentando problemas neste início de ano, no Interior do Estado, a situação é bem diferente, pelo menos é o que garante o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro. "Falando do Estado como um todo, posso dizer que vivemos um microeconomia que ainda não foi afetada pela macro do País. O interior está efervescendo, vibrando, com uma esperança grande puxada, principalmente pelo período de chuvas. O varejo vem tendo bons resultados", diz. (AL)

Panificação pode dispensar se vendas seguirem caindo

Responsável por empregar aproximadamente 35 mil pessoas em todo o Estado, o setor de panificação não descarta demitir se suas vendas continuarem caindo, posto que já houve retração de 8% no primeiro trimestre de 2015 e a expectativa é que o impacto seja ainda maior nos próximos meses, quando vários produtos serão reajustados. "Nossos insumos mais importantes são importados e, com o dólar no patamar que está, certamente teremos que subir os preços em breve", destaca o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Ceará (Sindipan-CE), Lauro Martins.

Segundo ele, a panificação cearense não dispensou funcionários no primeiro trimestre de 2015 por conta da escassez na mão de obra e pelo setor ser muito dependente da mesma. "Temos um quadro muito apertado, que foi mantido nestes meses iniciais do ano. Se o faturamento cair muito, porém, não teremos como suportar", avisa.

Reajuste é 'inevitável'

O que pode agravar a situação do setor de panificação é a elevada cotação do dólar, já que a moeda americana superou o patamar de R$ 3,20 e não dá sinais de que vá baixar. Conforme o Sindipan-CE, isso torna inevitável o reajuste em produtos como pães, biscoitos e bolos. "Nossos insumos básicos, como margarina, fermento e farinha são todos cotado em dólar. A preocupação é muito grande", conta Martins.

O presidente do Sindipan-CE diz esperar ainda mais dificuldades nos próximos meses, pois o impacto dos reajustes que ocorreram neste primeiro trimestre estarão mais concretizados no bolso dos consumidores. Segundo ele, o aumento substancial da energia e dos combustíveis, por exemplo, vai forçar as pessoas a reduzirem o consumo. "Além do dólar, também temos que arcar com esses mesmos reajustes. Somando tudo isso ao fato de que as pessoas devem comprar menos, as projeções não são das mais positivas", finaliza. (AL)

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