Setor empresarial tem ampliado o comprometimento com a reciclagem

Evento do Cempre mostrou boas práticas socioambientais para a redução dos resíduos gerados pelo consumo

Escrito por Redação ,
Legenda: O crescimento na coleta seletiva e na reciclagem promove, não apenas a redução do descarte e a consequente redução da poluição, mas a diminuição da pressão sobre as matérias-primas
Foto: Fotos: Rodrigo carvalho / Agência Diário

São Paulo. O Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) apresentou, durante a realização da XV Feira Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade (Fimai), que aconteceu nesta cidade, no mês passado, experiências bem sucedidas de compromisso empresarial com práticas socioambientais saudáveis.

Os resultados foram apresentados no X Recicle Cempre, seminário sobre gestão de resíduos realizado pela entidade. Na ocasião, setores da indústria, comércio e serviços renovaram o compromisso de contribuir para redução dos resíduos sólidos destinados a aterros sanitários, mas, sobretudo, de desenvolver esforços para o melhor aproveitamento de materiais inorgânicos para fins de reciclagem.

Esse compromisso foi manifestado pelo presidente do Cempre e diretor corporativo do Grupo Pão de Açúcar, Paulo Pompílio. Ao participar, como palestrante, do painel Responsabilidade Socioambiental e a contribuição da indústria de reciclagem, destacou que os índices de perdas com materiais imprestáveis são insustentáveis para a nossa sociedade.

Toda a cadeia

"Hoje, o foco priorizado é para o pós-consumo, mas nossa atenção deve ser com toda a cadeia. Desde a separação dos resíduos secos e molhados, quanto priorizar embalagens que representem na melhor preservação dos produtos e, ao mesmo, tempo, que possam ser reaproveitadas pela indústria da reciclagem", disse Paulo Pompílio.

Com a atenção a uma redução dos rejeitos, como disse o diretor do Pão de Açúcar, a rede de supermercados iniciou o processo de responsabilidade socioambiental, instalação de lojas verdes e uma política de gestão de resíduos. Com isso, as lojas onde esse processo já se desenvolve, inclusive em Fortaleza, já apresentam um percentual de 93% de reaproveitamento de todos os resíduos. Ele diz que o objetivo é chegar aos 100%, na medida em que boas práticas sejam melhor assimiladas, tanto pelos gestores, quanto pelos consumidores. Com isso, lembra que tem sido possível minimizar o impacto das operações das lojas de forma constante, desde ações simples, como a diminuição do uso de embalagens na frente de caixa, com programas de redução do consumo de sacolas plásticas, bem como as construções verdes e iniciativas de redução no consumo de água e energia, o tratamento do lixo orgânico e a reciclagem de óleo das lojas.

Paulo Pompílio lembrou que, para se chegar no atual nível de compromisso, houve todo um empenho em envolver, desde setores da indústria, até o corpo de funcionários. Ele deu como exemplo o fato de se destinar corretamente as vísceras de peixes e carnes para recipientes, de modo que não viessem a prejudicar materiais secos que poderiam ser aproveitados pela indústria de reciclagem.

Em seguida, iniciou-se o processo de orientar o consumidor para que cada vez mais pudesse fazer o descarte dos materiais no pós-consumo. Por fim, o Pão de Açúcar também passou a atuar no reaproveitamento desses materiais com a instalação de usinas de reciclagem.

Paulo Pompílio lembrou que o Brasil, como sociedade desenvolvida, tem em comum em todas as suas regiões, três grandes desafios: o bom uso da água, o consumo racional da energia elétrica e a destinação correta dos resíduos. No entanto, mostrou que a forma incorreta de se produzir lixo tem sua prioridade porque desenvolve uma cadeia de dificuldades que torna o atual modelo insustentável.

Embalagens

Ainda durante o encontro do Cempre, foi divulgado o primeiro relatório preliminar de resultados do acordo setorial para logística reversa de embalagens, um plano de ação assinado por 22 associações e mais de 500 empresas para ampliar a capacidade do Brasil para a destinação adequada das embalagens pós-consumo.

Os números são positivos, cumprindo e, em alguns casos, ultrapassando, já no meio deste ano, as metas definidas para o fim de 2015. De acordo com o relatório, entre janeiro de 2012 e junho de 2014, as empresas da coalizão instalaram, em 96 municípios, 836 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) ou "ecopontos", locais estrategicamente definidos, de fácil acesso e grande fluxo de pessoas para depósito de material reciclável. O número está 29% acima da meta estipulada para o fim de 2015.

Apesar do aumento dos programas de coleta seletiva e do avanço em relação à capacidade de reciclagem, o relatório reforça a importância da capacitação das cooperativas de catadores, tanto operacional quanto em equipamentos adequados, para garantir o incremento da triagem e consequente absorção dos materiais coletados, para serem destinados às indústrias recicladoras. "O acordo setorial de embalagens tem impacto social positivo por valorizar os catadores, que são peças fundamentais na coleta seletiva devido ao seu alcance e capilaridade, complementando o serviço municipal", disse Victor Bicca, presidente do Cempre.

O documento do acordo setorial foi aprovado pelo Comitê Orientador para a Implementação da Logística Reversa (Cori) e está em processo de consulta pública, que se encerrou dia 20 de novembro. As ações previstas por ele, porém, já começaram a ser postas em prática pelas empresas.

O acordo também mostrou resultados expressivos em relação à capacitação, estruturação e adequação em cooperativas de catadores. Ao todo, foram contempladas 206 cooperativas em 111 municípios do País, o que representa 47% da meta estipulada para 2015.

Na Região Metropolitana de Curitiba, foram realizadas 23 ações pelas empresas da coalizão em 10 entidades e na Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá foram contempladas seis entidades, atingindo 100% da meta estipulada para 2015.

Fique por dentro

Décadas de conscientização para mudar

O Cempre é uma associação sem fins lucrativos, que trabalha para conscientizar a sociedade sobre a importância de reduzir, reutilizar e reciclar lixo por meio de programas de conscientização. A entidade utiliza-se de publicações, pesquisas técnicas e seminários, e mantém para consulta pública um rico banco de dados sobre o assunto em sua sede na capital paulista. Fundado em 1992, o Cempre vem sendo mantido por contribuições de empresas privadas de diversos setores. Entre elas estão: Ajinomoto, AmBev, ADM, Arcor, Bauducco, Beiersdorf/Nivea, Brasil Kirin, Braskem, BRF, Bunge, Cargill, Carrefour, Casas Bahia, Coca-Cola, Danone, Dell, Diageo, Femsa, Gerdau, Heineken Brasil, Hersheys, HP, Johnson & Johnson, Klabin, Mondelez, McDonalds, Nestlé Waters, Nestlé, Owens Illinois, Grupo Pão de Açúcar, Pepsico do Brasil, Procter & Gamble, SC Johnson, SIG Combibloc, Suzano, Tetra Pak, Unilever Brasil, Vigor e Walmart Brasil. No Seminário, em São Paulo, foram definidos novos caminhos para encarar o desafio dos resíduos sólidos urbanos, sustentados nos que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010. Durante o evento, foi mostrado como organizações da indústria, comércio e catadores vêm construindo conjuntamente um plano economicamente viável e justo para recuperar e reciclar embalagens após o consumo dos produtos, evitando o descarte em lixões ou até em aterros sanitários existentes nas capitais e, inclusive, nas cidades interioranas.

Marcus Peixoto*
Redator

*O jornalista viajou a São Paulo a convite do Cempre

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.