Semiárido carece de mais atenção

Temática foi discutida durante seminário realizado pelo CGEE, FCPC e Funceme, em Fortaleza

Escrito por Redação ,

Iguatu. O Semiárido nordestino caminha para tornar-se árido em duas ou três décadas. A incidência de secas e a desertificação são reais. Esse quadro se agrava rapidamente em meio às mudanças climáticas. Há estudos e trabalhos científicos produzidos a esse respeito. Entretanto, faltam políticas públicas efetivas. A demora na definição de um plano estratégico governamental para a região contribui para danos ambientais, econômicos e sociais cada vez mais graves.

A temática da degradação do solo, da desertificação e das mudanças climáticas foi apresentada em seminário técnico realizado nesses últimos dois dias pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em parceria com a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em Fortaleza.

O estudo "Estado da Arte da Desertificação, Degradação da Terra e Seca no Semiárido Brasileiro: Tecnologias e Experiências de Recuperação e Mapeamento das Áreas Vulneráveis" foi mostrado durante o seminário. O assessor especial do CGEE, José Roberto Lima, fez explanação sobre o Projeto Áridas - LAC, para a América Latina e Caribe.

De acordo com Lima, o estudo, realizado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU), revela que a situação atual exige a aplicação urgente de políticas públicas efetivas a partir do uso de tecnologias disponíveis para reverter o processo de degradação do solo e de desertificação no Semiárido do Nordeste.

Equívocos

"Até agora, o que temos visto são equívocos praticados pelo governo, ações frágeis e universais, como se o Semiárido fosse homogêneo", afirmou. "A realidade geográfica, social e econômica exige soluções diversas, específicas para cada área". O assessor técnico foi enfático: "Queremos chamar a atenção dos governantes do País para a necessidade de adoção de políticas públicas fortes para evitar catástrofes, como a migração elevada, escassez de produção, aumento da pobreza e da desertificação".

O sertão nordestino produz cerca de 20% de alimentos consumidos no Brasil, tem cerca de 36 milhões de pessoas e uma área significativa. "Infelizmente, essa região é abandonada por políticas públicas efetivas e o Brasil não será um país desenvolvido, enquanto o Nordeste continuar pobre, atrasado", disse Lima. "O quadro vem se agravando depois de quatro anos seguidos de chuvas abaixo da média".

Para o assessor técnico do CGEE e coordenador do estudo, Antônio Magalhães, sobretudo no que diz respeito ao Brasil, o momento é estratégico para discutir questões ligadas à seca: "No Brasil, a incidência de secas e desertificação é uma realidade, em particular na região semiárida do Nordeste".

Degradação

A degradação do solo, o processo de desertificação que avança, a falta de chuvas, o desmatamento de matas ciliares e da Caatinga, o manejo inadequado do solo e das práticas agrícolas e a criação de bovinos formam um quadro que contribui para a degradação ambiental da região. Em meio a essa crise, o tema da desertificação e da necessidade urgente de adoção de políticas públicas cresce em importância.

Até mesmo os problemas enfrentados pelas regiões metropolitanas de São Paulo e, mais recentemente, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, têm reflexos favoráveis para um olhar atencioso sobre o Semiárido nordestino. O trabalho do Centro mostra o quadro atual de informações sobre Desertificação, Degradação da Terra e Seca (DLDD) no Semiárido brasileiro. Essas áreas são suscetíveis a secas recorrentes e possuem territórios expostos aos processos de desertificação. O estudo também avalia experiências e tecnologias disponíveis e potencialmente aplicáveis à recuperação dos solos, da biodiversidade e da conservação dos recursos hídricos.

"Os cientistas têm de continuar produzindo conhecimentos para serem aplicados em políticas públicas", frisou Lima. Há exemplos bem sucedidos de tecnologias aplicadas no Ceará para recuperação de microbacias hidrográficas. Essa experiência também foi realizada no Paraná. As tecnologias precisam ser adaptadas às condições de cada região, completa Magalhães.

O estudo do CGEE representa a contribuição brasileira ao documento "O Panorama das Terras Secas da Região" (LAC Drylands Outlook). Ele será construído pela Iniciativa de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento das Terras Secas da América Latina e o Caribe (AridasLAC), organização de instituições que atuam com desenvolvimento sustentável.

Mais informações:

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)
SCS Qd 9, Lote C, Torre C, 4º andar, Salas 401 A 405
Ed. Parque Cidade Corporate - Brasília-DF - Tel.: (61) 3424-9600

Honório Barbosa
Colaborador

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