Sem-teto da Austrália faz inveja ao do Brasil

Cearenses conhecem programa social do governo que dá apartamento mobiliado aos moradores de rua

Escrito por Redação ,
Legenda: O edifício tem 146 apartamentos confortáveis e acarpetados - contando com varanda, móveis, eletroeletrônicos - e centro de convivência
Foto: FOTO: EGÍDIO SERPA

Brisbane (Austrália). Um edifício residencial moderno com 146 apartamentos confortáveis, com tudo dentro - cozinha completa com fogão e forno de micro-ondas, cama box, TV LCD, máquina de lavar roupa, refrigerador, varanda, um armário para roupa e outro para material de limpeza, sala/quarto com mesinha para refeições e interfone, e mais salão de jogos e salão de refeições na cobertura com piso de carpete, terraço com churrasqueira e centro de convivência. Quem o habita? Acredite: 146 homens e mulheres sem-teto desta rica e bela cidade do litoral leste da Austrália.

Eles são hóspedes permanentes do "Brisbane Common Group" - um programa social criado há dois anos pelo governo central australiano com a parceria dos governos dos estados. Seis desses edifícios já foram construídos em diferentes cidades do País. Ontem, a missão de empresários cearenses da Coopercon visitou o de Brisbane e tomou um susto: o edifício, construído em 2012, está nas mesmas condições de quando foi inaugurado: novinho em folha, sem um risco nas paredes, sem um papel no chão. Há um código rígido ao qual se submetem os sem-teto. Até agora, só dois casos de indisciplina aconteceram e os indisciplinados foram alijados do programa. O governo não permite conversar e fotografar os sem-teto.

O edifício dos sem-teto de Brisbane está localizado no número 15 da Hoppe Street, na região Sul da cidade - uma zona imobiliária muito valorizada. Os 146 moradores do prédio de nove andares - cuja arquitetura usa a técnica da Cruz de Cristo nos corredores para aproveitar as correntes de vento e refrescar os apartamentos, evitando o gasto com ar condicionado - recebem, quinzenalmente, uma ajuda do Governo no valor de 400 dólares australianos, que tem quase o mesmo valor do dólar norte-americano.

"Bolsa-casa"

Desse total, 30% são destinados à taxa de ocupação e 20 dólares para a de condomínio. São suas únicas e exclusivas despesa. O resto é gratuito. Com essa ajuda - uma espécie de bolsa-casa do governo parlamentarista da Austrália - os sem-teto garantem sua residência pelo resto da vida - informa Andrew Johnson, o assistente social responsável pela administração do prédio, que tem segurança e serviço de saúde 24 horas, com enfermeiras que chamam socorro médio e ambulância, se o caso exigir.

O Diário do Nordeste visitou um dos apartamentos dos sem-teto e foi também surpreendido com o que viu: tudo nos seus 30 m² de área, incluindo o banheiro de 5 m² e a varanda de 3 m², estava em estado de novo. "Eles todos são orientados a manter tudo na mais perfeita ordem, pois esta é a sua casa e tudo o que tem dentro dela é para o seu usufruto", diz o assistente social.

Para usar os elevadores Otis de última geração, também com piso de carpete, cada sem-teto recebe um cartão com um chip que o impede de subir a outro andar que não o seu. E para dar-lhes ocupação e ainda descobrir suas habilidades artísticas, eles recebem aulas de pintura. No andar térreo do prédio e na sala de jogos localizada na cobertura, há máquinas que vendem refrigerantes, sucos, barras de cereais e água mineral. Os sem-teto têm liberdade para sair e entrar no prédio a hora que o desejarem, mas são permanentemente vigiados pelos agentes de segurança, cujo trabalho é assegurar que tudo se mantenha limpo.

Egídio Serpa*
Colunista

*O jornalista viajou a convite da Coopercon-CE

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