Rendimento médio do Ceará é o 3º pior do País
O valor anotado no Estado é 41,44% menor do que o registrado para o Brasil em 2014, que foi de R$ 1.052
Fortaleza/Rio. O rendimento nominal mensal domiciliar per capita no Ceará foi de R$ 616 em 2014, abaixo 41,44% do registrado para o País (R$ 1.052) no mesmo intervalo de tempo. O valor apontado para o Estado, resultado da razão entre rendimentos domiciliares e o total de moradores, corresponde também ao terceiro menor entre todas as 27 unidades da Federação, conforme revelou ontem dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Mas os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda o tamanho da desigualdade entre o Ceará e estados das demais regiões. Enquanto o rendimento médio nos lares cearenses foi de R$ 616, no Distrito Federal, o resultado foi de R$ 2.055, o maior alcançado.
Dentro do Nordeste, o melhor resultado foi o de Pernambuco (R$ 802), seguido por Sergipe (R$ 758) e Bahia (R$ 697). Abaixo do drástico resultado cearense estão apenas Alagoas (R$ 604) e Maranhão (R$ 461).
Base do FPE
Nenhum Estado do Norte nem do Nordeste conseguiu atingir a média nacional. Os dados constatam que segundo mais alto rendimento domiciliar per capita foi o de São Paulo, R$ 1.432. No Rio de Janeiro, o indicador ficou em 1.193, enquanto Minas Gerais, teve R$ 1.049.
Os dados foram enviados ao Tribunal de Contas da União para que sirvam de base para o rateio do Fundo de Participação dos Estados (FPE), conforme definido pela Lei Complementar nº 143, de julho de 2013.
Crise
O indicador divulgado ontem foi o estopim da maior crise institucional já vivida pelo IBGE. Em 10 de abril de 2014, a presidente do Instituto, Wasmália Bivar, anunciou a suspensão das divulgações seguintes da Pnad Contínua com o objetivo de fazer uma revisão na metodologia de coleta e cálculo da renda domiciliar per capita pela pesquisa.
Motivada por questionamentos de senadores, entre eles a ex-ministra chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann, a decisão levantou suspeitas de ingerência política no órgão, desencadeando uma reação imediata do corpo técnico do instituto. Duas diretoras pediram exoneração e coordenadores ameaçaram uma entrega coletiva de cargos caso as divulgações não fossem retomadas. Ainda a reboque da suspensão da pesquisa, servidores do IBGE entraram em greve em 26 de maio do ano passado.
A paralisação se estendeu até 13 de agosto, prejudicando a divulgação de indicadores como a taxa de desemprego apurada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME). A crise teve seu ápice em 19 de setembro, quando o IBGE convocou entrevista coletiva de emergência para anunciar graves erros estatísticos na Pnad 2013, pesquisa anual que havia sido divulgada no dia anterior.
Opinião do especialista
'Modelo econômico do Estado é injusto'
Desde 2007, outros indicadores constatam a precarização atestada na Pnad e nós denunciamos. É algo que já vem acontecendo há muito tempo. Mais isso não é uma causa, já é uma consequência do modelo econômico do Ceará, que está em perfeita desconexão com o nosso mercado de trabalho.
O Estado tem crescido acima da média nacional há mais de cinco anos e nem de longe esse crescimento tem sido repassado para o mercado de trabalho em condições de se reproduzir os benefícios.
É um modelo econômico injusto que não oferece condições mínimas de vida, pois não é só no rendimento, o reflexo disso é sobre educação, saúde, na qualidade de vida da população como um todo.
Nós temos o terceiro maior PIB (Produto Interno Bruto) do Nordeste, abaixo de Pernambuco e Bahia, mas temos um dos piores rendimentos da Região e até do País. Inclusive, menor que estados como Acre, Tocantins, Maranhão e Piauí, que tem um terço do nosso PIB.
Muito se fala de qualificação, que falta qualificação para o cearense ganhar melhor, mas quando o trabalhador do Piauí será melhor qualificado que o nosso? Todo desenvolvimento visto nos últimos anos não é repassado ao trabalhador, que está cada dia mais fragilizado. O mais complicado é que o efeito disso tudo se reflete em trabalho infantil, baixa escolaridade, baixa qualidade de vida, pois sem rendimento compatível, os trabalhadores não têm dinheiro para resolver os problemas.
Reginaldo Aguiar
Economista do Dieese