Quais os caminhos necessários para a retomada do crescimento

Economistas avaliam quais fatores estão atrasando e o que pode ser feito para que o País volte a avançar

Escrito por Carol Kossling - Repórter ,

A tempestade econômica brasileira está demorando a se dissipar, principalmente, em razão de três motivos: endividamento das famílias, elevada capacidade ociosa da economia e recursos limitados para investimentos do governo. É o que analisa o economista Allisson Martins. Para retomar o crescimento é preciso implantar reformas e que a economia dê alguns sinais como, desinflação, queda da taxa Selic, elevação nos indicadores de confiança dos consumidores e, também, dos empresários. Além, é claro, da reconquista das vagas de empregos perdidas. Segundo o especialista, o consumo, que era a mola mestra do modelo de crescimento econômico brasileiro, está seriamente prejudicado, em decorrência do maior comprometimento da renda das famílias com dívidas. "Além do desemprego em alta. Estes são os fatores que impedem uma retomada do comércio em maior escala no curto prazo", considera Martins.

>Setor produtivo aguarda sinais positivos em 2017

>Alta do emprego será última a dar resposta

No lado empresarial, com destaque para a indústria, o economista observa que o investimento, que acelera o nível de atividade econômica, está em compasso de ajuste, em decorrência da elevada capacidade ociosa das plantas industriais. "Assim ficam na expectativa de resposta mais clara da demanda dos consumidores", acredita Martins.

Lentidão

Na visão de Henrique Marinho, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a crise econômica que o Brasil passa desde 2014 tem se mostrado cada vez mais profunda. "A saída para o crescimento vai ser muito mais lenta e as razões são várias", avalia. Em primeiro lugar, ele aponta que mesmo com a mudança de governo a estabilidade não veio.

"Dentro da própria base o governo (comandado por Michel Temer) tem encontrado dificuldades", afirma. O segundo ponto levantado por Marinho é o ajuste no corte de gastos. "Em uma recessão, isso leva os economistas a pensar que o cenário vai se aprofundar. Dentro deste ciclo vicioso tem a crescente taxa de desemprego, pois as empresas não reagem e acabam fazendo cortes", justifica.

Situação e perspectivas

Outro componente, na opinião de Allisson Martins, que implica na recuperação mais lenta da economia, é a impossibilidade de o governo acelerar a dinâmica econômica motivada pela grave situação fiscal.

Para o economista, algumas variáveis macroeconômicas sinalizam trajetória de recuperação, a exemplo do processo de desinflação, da taxa Selic em queda e dos indicadores de confiança dos consumidores e empresários de forma crescente, são fatores que podem ajudar a catalisar o processo de crescimento econômico nos meses que se seguem.

Henrique Marinho avalia ser preciso um esforço da área econômica do governo para que a economia esteja no procedimento certo. "Tem o processo de desinflação, e o inicio de um processo da queda da taxa de juros. O Banco Central não considera a questão fiscal resolvida", diz.

Reação da sociedade

O professor de Finanças Paulo Matos considera a demora na retomada econômica um assunto complexo, porém, de forma objetiva, o primeiro ponto a ser explorado é a mudança presidencial. "Ali se renovou a esperança e um choque positivo das pessoas. Com o tempo, este choque se dissipou, pois algumas coisas mudaram. Outras não. E com o tempo, as pessoas trocam a esperança por algo concreto de que as coisas não acontecem", diz.

Matos pontua que a inflação ainda está em alta, os preços continuam subindo, o desemprego ainda crescendo, e o PIB não está reagindo como gostariam. "Não vemos um reflexo dentro de casa. A sociedade começa a ficar impaciente, independente de ideologia política", atesta.

Para Matos, não deveriam reagir tão rápido mesmo. Ele acha que no ano que vem a inflação deve ficar a baixo do teto de 6,5% e, até o fim do ano, o desemprego deve começar a cair de maneira crível. "Dou até o fim do ano também para o PIB zerar, sem crescer, somente parar de cair. Na cabeça de economista é um time razoável", afirma.

Sem mágica

Sob o ponto de vista do professor de Finanças, a ansiedade por números bons em poucos meses não vai ser suportada, pois não existe mágica. "A gente precisa ver algo de concreto e são as tais medidas em âmbito federal, estadual e municipal. Nos municípios não está sendo feito nada, estavam preocupados com eleição e a irresponsabilidade fiscal continua", considera.

Já no âmbito estadual, Matos vê que os estados estão reagindo, pois a situação estava ficando insustentável. "Um bom exemplo é o Ceará que fez e está conseguindo honrar seus compromissos", cita. Para ele, alguns estados pontualmente estão fazendo algo, mas os mais ricos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, não estão fazendo por serem necessárias medidas impopulares. "Os estados menores, menos relevantes no cenário político, fizeram as mudanças ou estão implementando. Em compensação os maiores não fizeram sua parte e estão jogando para o governo federal", diz.

Esperança

O que alivia, conforme avaliação de Matos, é que no cenário nacional existem pessoas sérias e respeitadas no mercado e na academia que compõe o primeiro e segundo escalão do presidente Michel Temer. "É possível depositar as esperanças e fichas sim. Algumas medidas são de pequeno porte e a sociedade não vê. E as de grande porte são necessária para o Brasil andar, como a PEC 241", afirma. Matos sabe que a PEC é tão controversa e que tem defeitos, mas defende que é o que existe no momento. "É melhor uma solução de austeridade fiscal do governo ser implementada rápida. Se o lado fiscal se ajustar, o monetário se ajusta. E depois vamos corrigindo os percalços, pois se não aprovar o lado fiscal com todos os defeitos serão anos perdidos", pressupõe.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.